Paula Rego pintou até perto do fim no ateliê que instalou no jardim de casa em Londres.
Era um trabalho solitário. Muita coisa ficou por concluir.
Muita está concluída – mas nunca foi mostrada.
Nick, um dos filhos, ainda outro dia, ao ir buscar uma caixa para a mãe que já estava acamada, encontrou uma obra praticamente pronta.
Paula Rego pintou as mulheres portuguesas como mais ninguém se atreveu ou pôde, deu forma ao grotesco, ao perverso, ao doméstico, a um mundo fantasioso, inquietante e quase infantil que, visto de perto, é tortuoso e (demasiado) humano.
Paula Rego forma com Maria Helena Vieira da Silva, falecida há 30 anos, a dupla de artistas plásticas portuguesas com dimensão universal.
O presidente Marcelo Rebelo de Sousa esteve em Londres para celebrar o 10 de junho, Dia de Portugal, e para a receção que ofereceu à comunidade portuguesa, convidou Nick e Victoria, os filhos de Paula Rego, muito aplaudidos em nome da mãe que Portugal volta a condecorar em setembro – data prevista para a homenagem nacional a esta figura principal da arte contemporânea.
Paula Rego pintou para contar histórias, ela é a narradora, a personagem. O trabalho dela resulta de um processo de questionamento da natureza humana e do confronto com esta natureza. É um território onde o drama se instala, numa linguagem que fala para as mulheres.
Se até ao fim Paula Rego trabalhou diariamente no seu ateliê em Camden Town em Londres — os laços com a realidade social portuguesa estiveram sempre presentes no seu processo de criação. Isso é visível em séries como “Aborto”, de 1998-99, que coincidiu com a discussão do tema em referendo em Portugal.
Um dos grandes portugueses das artes plásticas, Pedro Cabrita Reis, vê-a inspiração para próximas gerações.
O funeral católico, conforme a vontade Paula Rego, será dentro de duas semanas, em Londres.
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