Desde a primeira edição há já 127 anos (1895), esta Mostra em Veneza é o mais celebrado ponto de observação sobre o que em país há de novo em criação artística.
Da África do Sul e da Austrália à Venezuela e Zimbabwe, passando pelo Brasil, Chile, Cuba, Dinamarca, Líbano, Namibia, Nepal, Portugal, Turquia, Uganda.
São várias dezenas de países – entre eles todos os 27 da União Europeia têm a Bienal de Veneza como porta-voz, trampolim e montra de validação das visões e dos relatos da criação artística alternativa nesses diferentes países.
Há quem compare: a Bienal de Veneza está para arte contemporânea assim como o fórum de Davos para a economia global como o festival de Cannes para o cinema até os Jogos Olímpicos para o Desporto. É criação que nos interpela.
Cada instalação obriga-nos a parar – a contemplar – a pensar no desafio que nos está a ser proposto com aquela criação.
Não dá para passar de raspão e fixar uma imagem no telemóvel no pavilhão francês, por exemplo, somos confrontados através da colagem de fragmentos de filmes – com a história da emigração de Argélia para França – a tão mal resolvida descolonização argelina.
A dinamarquesa Ovartaci mostra o que criou enquanto esteve em confinamento num sanatório: as maquetes de máquinas voadoras para poder escapar deste mundo em direção a outro que há-de estar nalgum futuro próximo e que há-de ser um pouco melhor – sempre a esperança.
A romena Andra Ursuta confronta-nos com estátuas de vidro, seres sobreviventes a uma catástrofe nuclear, a belga Jane Graverol mostra uma mulher com esqueleto de máquina, a chilena Sandra Horra – apresenta retratos de mulher em formato acordéon – é a mulher que tem de se desdobrar acudir a tudo.
A colombiana Deley Morelos procura saídas para o labririnto terra, droga, tabaco, café.
Por Portugal – a convidada principal – Paula Rego e a modernidade absoluta da criação dela em óleos com as criaturas simbióticas. Cruzamento de seres humanos e animais, a partir da metamorfose de kafka.
Há mais de Portugal em Veneza – por exemplo Pedro Cabrita Reis que numa igreja frente ao Teatro de La Fenice – coloca escombros sobre o chão da nave principal desse templo – é a representação do caos e das ruinas.
Há mais portugueses na bienal, Pedro Neves Marques com vampiros no espaço.
Monica de Miranda conduz-nos num video – pla vitalidade do ecossistema do rio Kwanza.
Diana Policarpo – também nos leva – cientificamente para o futuro: coloca-nos em áudio e video dentro do mar, põe nos a pensar o oceano, salta ao ouvido a predominância de mulheres artistas é intencional.
A comissária da bienal, Cecilia alemani, italiana baseada em Nova York, quis que a mulher fosse a fonte criativa principal desta mostra imensa, como tema parte de uma ideia do poeta surrealista Paul Éluard.
Há outros mundos, mas estamos neste e afina a visão através de um livro de uma surrealista britanica Leonora Carrington que escolheu viver no México, titulo do livro Milk of dreams – o leite dos sonhos. Onde nos conta histórias sobre seres em transformação.
O clima também está em fundo a esta Bienal de Veneza, que nos mete no radar – da mudança – metamorfose que por aí está. Desde já temos múltiplo catálogos online desta mostra.
Quem tiver oportunidade – há 6 meses para a contemplar em Veneza, o leite dos sonhos.
Há outros mundos – mas estamos neste.
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