Fotógrafo brasileiro Caio Reisewitz expõe na Bienal de Sydney: "Retrato a beleza dos aquíferos e o caos na Amazônia"

Caio Reisewitz

O fotógrafo brasileiro Caio Reisewitz expõe a obra "Mundus Subterraneus" na Bienal de Sydney, em cartaz até 13 de junho, e alerta para o 'caos' na Amazônia. Source: Supplied

A Bienal de Sydney, em cartaz até 13 de junho, tem obras de artistas de vários países, inclusive do Brasil. Com a instalação entitulada 'Mundus Subterraneus', Caio Reisewitz, que esteve em Sydney para a abertura do evento, diz que quer despertar nas pessoas a sensação de exuberância mas também a 'bagunça' que tem gerado a destruição da Amazônia.


A 23ª Bienal de Sydney, entitulada Rivus, tem como foco este ano os rios, zonas úmidas, ecossistemas de água doce e salgada, e levanta a questão: se pudéssemos reconhecer essas entidades não-humanas como seres individuais, o que elas nos diriam? É o diálogo desses seres aquosos com artistas, arquitetos, designers, cientistas e comunidades, que está em exposição na Bienal de Sydney de 2022.

Entre as obras que integram a Bienal está uma instalação chamada “Mundus Subterraneus”,  um grande painel formado pela colagem de várias imagens, fragmentos de 49 fotos do fotógrafo brasileiro Caio Reisewitz, que no seu trabalho explora as difíceis relações entre seres humanos e seus ambientes, tanto o natural quanto o construído pelos próprios homens. Caio foi até Sydney para a abertura da Bienal, que se realiza de 12 de março a 13 de junho e concede uma entrevista para a SBS em Português.

Convite para a Bienal

Ele conta que a participação na Bienal e a obra que está apresentando vieram através de um convite. “O curador dessa edição da bienal é o colombiano Jose Roca, que eu conheci em outras ocasiões. Ele foi co-curador da Bienal de São Paulo, curador da Bienal do Equador, cuidava da arte latino-americana na Tate Modern. É um curador bem respeitado e bem entendido de arte latinoamericana. E ele me convidou.”

Caio explica que a partir do convite para participar da Bienal de Sydney deste ano, começou a pesquisar e se interessou pelos aquíferos. “No Brasil a gente tem os dois maiores aquíferos do mundo: o aquífero Guarani, no Sul, e o aquífero Amazônia do Norte. Eu apresentei a ideia para o comitê de seleção da Bienal e eles gostaram. Então eu comecei a desenvolver um trabalho em cima dessa ideia.”
No Brasil a gente tem os dois maiores aquíferos do mundo. Eu apresentei a ideia para o comitê de seleção da Bienal e eles gostaram. Então eu desenvolvi um trabalho em cima dessa ideia.
Segundo o fotógrafo, como o aquífero está debaixo da terra e é algo escuro, que não tem uma representação concreta, ele teve toda a liberdade de estabelecer um trabalho livre, “a representação de uma ideia em que eu posso usar várias metáforas.”

O espaço oferecido para Caio expor foi uma parede grande de 5mx15m, e ele desenvolveu a instalação justamente para essa medida. Assim surgiu a colegame de 49 pedaços colando uma imagem ao lado da outra.
Mundus Subterraneus
A obra "Mundus Subterraneus", do fotógrafo brasileiro Caio Reisewitz, pode ser visitada até o dia 13 de junho na Bienal de Sydney. Source: Supplied
Inspiração para a criação

Sobre a inspiração para criar a obra, Caio conta que no meio da pesquisa que estava fazendo ele encontrou um livro do alemão Athanasius Kircher do século 17 sobre os aquíferos no mundo. “Desse livro chamado ‘Mundus Subterraneus’ surgiu a minha ideia de fazer a colagem que eu entitulei com o mesmo nome.”

Caio destaca que na obra dele o tema não são apenas os aquíferos, mas também a Amazônia. Ele alerta para o processo de mudança de estrutura da Amazônia. “A cada ano que passa nós perdemos mais espaço da Amazônia e isso tem gerado consequências climáticas muito fortes. São fenômenos que vão afetando todo o clima do mundo. Então essa é uma das partes que eu quero deixar clara com esse meu trabalho apresentado na Bienal.”
A cada ano que passa nós perdemos mais espaço da Amazônia e isso tem gerado consequências climáticas muito fortes. Quero deixar isso claro com meu trabalho na Bienal.
Sobre a reação e o sentimento que Caio quer gerar com a obra dele aos expectadores da Bienal de Sydney, ele diz que quer causar nos visitantes da exposição uma sensação de exuberância, mas ao mesmo tempo uma sensação de caos.

“Tem a sua beleza, mas também tem o seu caos. E esse caos é que eu quero também representar. Primeiro é o caos que está na minha cabeça, tentando querer representar isso, e depois é o caos natural que é que é o que está acontecendo na Amazônia.”

Caio explica o que chama de caos: “O agronegócio, o garimpo, esses manejos que estão acontecendo na Amazônia colaboram bastante para a destruição. A forma como o manejo do garimpo é feito, eles largam o mercúrio nos rios e isso vai matando todos os peixes. E os peixes são super importantes para a comunidade ribeirinha.”

O fotógrafo diz que não mostra imagens exatas dos aspectos que cita como o ‘caos’ na Amazônia, mas que nessa obra ele 'fala' sobre isso.

Escolha das imagens 

As 49 imagens que formam o painel de colagem não são todas de autoria do Caio. “São fotos que eu já tinha feito, fotos que eu fiz especificamente para esse trabalho e fotos que eu simplesmente reproduzi de outras fontes. Por exemplo, tem uma foto histórica em uma cachoeira que nao é minha. Coloquei na colagem uma ilustração desse livro do Athanasius (Kircher).”
São fotos que eu já tinha feito, fotos que eu fiz especificamente para esse trabalho e fotos que eu simplesmente reproduzi de outras fontes.
Segundo Caio, há muitas obras que tem elação com o trabalho que ele apresenta nesta edição da Bienal de Sydney. Ele destaca as belas aquarelas de um artista indígena colombiano que representam o manejo da terra nas diferentes estações do ano, a aquarela de um senegalês que representa os cinco continentes, a instalação de áudio de um artista norte-americano.

“Tem trabalhos do mundo inteiro que se relacionam uns com os outros. É muito emocionante ver como os trabalhos se conversam e estão girando na mesma direção.”

Caio, que já participou de grandes exposições de arte pelo mundo, como por exemplo a Bienal de Veneza e a Bienal de São Paulo, diz que para ele, estar na Bienal de Sydney é muito importante. “É um reconhecimento internacional. As pessoas em chamam para falar do Brasil. Eu estou muito feliz e acho que estou cumprindo uma missão do tamanho do nosso país.”

Mais informações sobre a Bienal de Sydney estão no


Share