Entre os seus colegas dos Excesso – o Gonzo, o Duck, o Melão e o João Portugal - Carlos tem a fama de ter sido sempre o mais calmo e reservado da banda. Mas o que nós descobrimos é que, além disso, Carlos é também um homem que se considera “itinerante” e que tem em si a coragem de viver longe do “nosso Portugal” (como gosta de dizer) como tantos portugueses que vivem deste lado do mundo.
Já muito enraizado na vida e cultura australianas, o cantor não deixa de reforçar algo que é muito importante para ele:
O meu maior orgulho é, antes de ser australiano, ser português
Depois de trabalhar um tempo em Espanha e de viajar pelo mundo, após abandonar os Excesso, Carlos aterrou em Melbourne com um visto temporário para trabalhar na área na qual completou um curso superior ainda em Portugal – gestão hoteleira e turismo.Aos 48 anos, Carlos é tão competente no seu ofício na hotelaria - Gerente Executivo de Housekeeping - como foi bom na música durante o seu tempo de verdadeira popstar nos Excesso. De tal forma que, mal chegou à Austrália, rapidamente conseguiu, não uma, mas duas oportunidades de Sponsorship Visa.
Carlos deixou um mar de fãs para trás, o frenesim dos concertos e a fama. Hoje, é um emigrante português na Austrália que só quer ter uma vida saudável Source: supplied/Carlos Ribeiro
Acabou por ficar uma década em Melbourne, onde diz que tem muitos amigos mas onde foi muito complicado superar a crise da hotelaria durante os três lockdown consecutivos em Victoria:
Deixei Victoria e vim para Queensland por causa do Covid. Sobrevivi ao primeiro confinamento, depois ao segundo confinamento... e a meio do terceiro, pensei: isto não pode continuar assim. Foi quando aceitei uma proposta de trabalho em Brisbane. E aqui estou eu entre Brisbane e a Sunshine Coast, onde trabalho 6 a 7 dias por semana e no resto do tempo vivo uma vida o mais saudável que posso, praticando karaté e fazendo bodyboard
Gonzo, Melão, João Portugal, Carlos e Duck, em plenos anos 90, no pico da sua carreira nos Excesso Source: PolyGram / Universal
Diz que guarda as melhores recordações dos Excesso:
Foi uma loucura fazer parte da primeira, e mais bem sucedida, boyband portuguesa e um dos grupos que mais discos vendeu até hoje no país
Nos anos 90, quando os Excesso enchiam todas as salas de espetáculo por onde passavam, os cinco rapazes da banda davam o ´tudo por tudo´ a cada minuto:
Saltássemos no Coliseu de Lisboa ou saltássemos no palco de uma aldeia pequena no interior, dávamos sempre tudo o que os Excesso tinham para dar
Carlos acredita até hoje que foi isso que ditou o sucesso da banda:
Éramos sempre os mesmos para todos, independentemente de quem fossem os nossos fãs
Os Excesso que, em apenas três anos, conseguiram ser a primeira boyband portuguesa e também uma das bandas com mais discos vendidos em Portugal Source: PolyGram / Universal
Os Excesso duraram apenas três anos (de 1997 a 1999), sempre a mil à hora, num ritmo tão forte e alucinante que nem os próprios elementos da banda tinham tempo para parar e perceber o que se passava à sua volta:
Tínhamos em média mais de 200 concertos por ano, cerca de três concertos por semana. Sem parar, entre viagens, entrevistas, hotéis, presenças na televisão, ensaios, sessões de assinatura de autógrafos, etc...
Diz Carlos que foi um período de grandes “altos e baixos” entre os membros da banda:
Éramos todos muito novos e vivíamos uns em cima dos outros nos carros, nos palcos, nos hotéis, nos ensaios. Era muita pressão e tudo conta para o ´saco´ da relação
Contudo, olhando para trás, Carlos considera que os cinco rapazes superaram a pressão:
Mesmo debaixo de uma pressão e cansaço extremos, superamos todas as dificuldades e demo-nos bem. Tínhamos uma boa relação e ainda hoje mantemos contacto
Muita gente questiona o porquê de Carlos ter sido o primeiro a sair dos Excesso. Mas ele garante que, embora tenha sido uma das decisões mais difíceis que tomou na vida, houve boas razões para desistir e deixar os colegas e o estrelato para trás: “Há uma lista de razões pelas quais eu abandonei os Excesso. Não poderei falar sobre todas, mas posso dizer que uma delas foi sentir-me explorado pelo negócio das produtoras, discográficas e até das televisões, a quem dávamos audiências incríveis sem nunca termos um retorno justo a não ser prejuízo emocional. Também os jornalistas nos tratavam como se fossemos objetos”
Carlos continua, assertivo e sem grandes remorsos pela sua decisão:
Já não me identificava com o meio artístico no qual estava inserido. Não estou aqui para ser chupista, aliás sou até uma pessoa que gosta de levar uma vida minimalista e frugal. Mas, na época, cansei-me de aturar os caprichos e ilusão do destino de quem estava ao meu redor. Reduzi-me à minha ´significância´ e sai dos Excesso para ser feliz
Apesar de ainda tocar e a cantar em casa, com os seus instrumentos e material de som, Carlos Ribeiro está totalmente investido na sua carreira na hotelaria. Source: supplied/Carlos Ribeiro
Saiba como Carlos se iniciou nas lides da música "ainda na barriga da mãe"; como foi ele que deu o nome de Excesso à banda; e como foi selecionado para fazer parte do grupo no âmbito do concurso televisivo Chuva de Estrelas - na época, apresentado por Catarina Furtado.
Perceba ainda como a avó de Carlos foi uma personagem essencial no arranque da sua vida artística.
Acima de tudo, saiba aqui tudo, e em primeira mão, sobre a possibilidade dos Excesso se juntarem mais uma vez, segundo Carlos: “assim que os astros e as estrelas se alinharem”.
Ouça ainda na entrevista como Carlos vê o fenómeno da fama e do ser-se famoso, bem como as diferenças entre os anos 90 e esta nossa era do TikTok, Photoshop e afins, onde navegar no mundo artístico consegue ser tão diferente, contudo, acredita Carlos: “igualmente ´plástico´, se não mais ainda”.
Por fim, se era fã dos Excesso e já tem saudades de ouvir o Carlos cantar, ouça-o a trautear a sua canção preferida dos Excesso - e também a única que foi autorizado a assinar como sua, bem como a música da cantora Dulce Pontes que, para Carlos, exprime com mestria a emoção, a saudade, o orgulho mas também a grande dificuldade de se ser um português emigrante.
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