Portugal em chamas: calor, seca extrema e incêndios que devastaram 37 mil hectares

epaselect epa10066764 A man carries a sheep on his back during the fire at Boa Vista, Portugal, 12 July 2022. The fire forced shutting down the highway nr 1 in both directions.  EPA/PAULO CUNHA

A imagem que invadiu as redes sociais: um jovem, com uma ovelha às costas e, ao fundo colunas de fumo do incêndio que atingiu a Boa Vista Source: EPA/Paulo Cunha

Agora, até os antes céticos, perante a evidência reconhecem a realidade alterações climáticas. Portugal já vai na segunda vaga de calor extremo neste verão que ainda só tem 3 semanas. E desta vez, foi mesmo calor de fogo: todo o país por toda a semana com temperaturas acima dos 40º centígrados.


Várias cidades, várias zonas, acima dos 45º. Há lugares como Pinhão, no interior norte que chegaram aos 47º.

Toda a gente estava a ser avisada já desde a semana anterior.

O governo decretou estado de contingência, uma espécie de alerta geral, para prevenir o mais possível a ocorrência de tragédias com incêndios – está na memória de todos o trágico ano de 2017 com 200 mortos em 5 dias de fogo. Então, o socorro chegou tarde.

Agora, a prevenção foi acautelada.

Antes ainda de se instalar a onda de calor, há uma semana, todo o território português passou a ser constantemente patrulhado por aviões militares com a missão de detetar ignições de fogos florestais. Sabe-se que há centenas de focos que foram apagados assim pela intervenção rápida.

Brigadas terrestres com drones complementaram a vigilância em altitude.
epaselect epa10072751 A firefighter fights the flames surrounding Ancede village during a wildfire in the municipality of Baiao, North of Portugal, 15 July 2022.  EPA/HUGO DELGADO
Um bombeiro combate as chamas que cercam a aldeia de Ancede durante os incêndios florestais no município de Baião, norte de Portugal Source: Hugo Delgado/LUSA
Companhias de bombeiros devidamente equipadas foram colocadas em lugares estratégicos no terreno, para intervenção rápida.

Foram destacadas patrulhas para o maior número possível de aldeias em zonas florestais.

Mesmo assim há pelo menos 37 mil hectares de terra queimada, quase tudo em mato ou floresta.

Mas há cidades históricas como Palmela que tiveram as labaredas a entrar pela área urbana,  a queimar automóveis e a chegar mesmo às muralhas do castelo que é pousada.

Lisboa tem a área florestal de Monsanto e a 20 quilómetros está o magnífico parque natural de Sintra. Toda essa zona verde, tal como a maioria dos parques naturais, ficou com acesso interdito, toda esta semana de calor extremo.

De facto, nessas áreas não houve fogo. Foi, sobretudo em zonas de mato e floresta menos cuidada.

Para além de milhares de bombeiros, militares e forças policiais, outros milhares d civis organizaram-se em brigadas de combate ao fogo violento.

Também 40 aviões estiveram em ação de vigilância e de combate às chamas. Um deles, um monolugar Fireboss, depois de recolher água no rio Douro, foi apanhado por um remoinho de vento e atirado contra uma escarpa coberta por vinha.

O piloto, carbonizado, teve morte imediata.

Em nove dias de incêndios em Portugal tiveram de ser retiradas das suas casas 869 pessoas.

195 pessoas tiveram de ser assistidas por queimaduras ou inalação de fumo.

Há muita biodiversidade perdida nos pelo menos 37 mil hectares ardidos.

Há muitos heróis destes dias. Um deles, quer permanecer longe dos focos da fama, chama-se João Paulo Ruivo, tem 22 anos e é carpinteiro eletrotécnico na Boavista, em Leiria, 120 quilómetros para norte de Lisboa.

O fogo andava na região. Subitamente, o vento levantou-se e as labaredas galgaram 15 quilómetros em escassos 10 minutos. Um velho pastor estava a acompanhar o rebanho com dezenas de ovelhas. João Paulo Ruivo percebeu que as ovelhas dificilmente escapariam às chamas. Tomou a decisão de ele próprio conduzir o vai e vem por muitas vezes com as ovelhas às costas para as colocar num abrigo seguro que tinha sido preparado.

O repórter fotográfico Paulo Cunha captou um desses instantes e essa é uma das imagens desta semana de fogo.

Ao fim da tarde de sábado as temperaturas baixaram. A maior parte do país já não está acima de 40º, baixou para a casa dos 30.

Mas com todo o país em seca extrema, o alerta geral mantém-se.

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