Xanana, Ramos Horta e Arcebispado de Dili disponibilizam-se para acolher as obras e artistas da Arte Moris despejados, por entre escândalo, pelo governo de Timor

Former president and leader of the the National Congress for Timorese Reconstruction (CNRT) Xanana Gusmao shows his inked finger.

Source: AAP

Confira na crônica desta semana do correspondente do Programa Português da Rádio SBS em Lisboa, Francisco Sena Santos.


Dói de facto ver o modo como foi tratada a arte criada nestes últimos 20 anos pelos artistas da Arte Moris, Arte Viva, de Timor.


O mais reconhecido líder histórico de Timor, Xanana Gusmão, declarou-se “muito triste” com o despejo do marcante coletivo artístico Arte Moris do espaço, de facto um centro de criação cultural, onde funcionavam há 20 anos. O despejo, com modos brutais, sucedeu por decisão das atuais autoridades timorenses.


Xanana no comentário a este caso chegou a usar a expressão “vandalismo” embora a seguir tenha optado por alguma moderação ao acrescentar que prefere não falar de vandalismo (neste caso, por parte das autoridades timorenses).


Um outro histórico construtor da independência de Timor, o Nobel da Paz José Ramos Horta também comentou com amargura e revolta a devastação numa brutal operação de despejo do coletivo Arte Moris, distinguido pela ONU com o prémio Direitos Humanos, Liberdade de Expressão.


Comentou José Ramos Horta:


“Este é um crime de lesa-arte que fica no currículo do atual governo de Timor". 


Assim o primeiro comentário do Nobel da Paz de 96 José Ramos Horta ao modo como a polícia timorense executou nesta última quarta-feira a ordem de despejo do Centro Arte Moris, na periferia de Dili, na avenida que liga a capital timorense ao aeroporto.


Arte Moris, traduzindo do tétum quer dizer "Arte Viva", e aquele centro era isso – um lugar – vivo para a criação artística. De modo predominante pintura –em paralelo acolheu o teatro.

Mas mais do que isso, um lugar de integração de jovens de todo o território do país onde a maioria da população vive em miséria atroz e onde o desemprego é galopante.


Aquele edifício com amplo espaço interior -teto em abóbada – era um centro de artes praticamente desde a fundação da nação independente há 20 anos.


O edifício foi construído pelos indonésios no tempo da ocupação, precisamente como museu.


Mas que foi pilhado pelos próprios indonésios na debandada em setembro de 99.


A ONU, que liderou a transição para a independência de Timor, escolheu aquele edifício, com vasto terreno em volta para ali instalar o hospital das Nações Unidas.


Em 2002, quando a ONU saiu de Timor, um suíço e uma australiana que escolheram viver no país que estava a nascer, impulsionaram a instalação ali de um centro de artes para todos, com abertura a toda a gente


Dali saíram pintores como Maria Madeira, Edson Caminha ou Xisto da Silva.


Nesse discurso de 32 páginas, na Universidade de Kyoto, Xanana referiu-se mesmo precisamente à Arte Moris de Timor, com incitamento à parceria com a Escola de Artes na Universidade de Kyoto


Xanana defendeu uma nova civilização movida pela cultura artística e filosofia assente no respeito pelas pessoas e pela natureza. 


Ora, a aspiração generosa enunciada por Xanana na Universidade de Kyoto e repetida em Lisboa não parece ser partilhada pelos atuais dirigentes políticos de Timor que decidiram despejar os artistas, os criadores do centro Arte Moris.


O movimento de solidariedade com as pessoas do Arte Moris cresceu nestes dias, também em Portugal, com a noção de que está em causa a criação artística contemporânea de Timor. A arte do nascimento e crescimento do país independente que em 99 tanto emocionou o mundo.



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