Em dezembro de 1975, 20 meses depois do 25 de abril, as ex-colónias portuguesas tinham proclamado a independência.
O acordo com o PAIGC levou a que a República da Guiné Bissau fosse ratificada por Portugal – logo 4 meses e meio depois da revolução dos cravos – independência reconhecida em 10 de setembro de 1974.
No verão quente de 1975, em junho, foi Moçambique. Em julho, primeiro Cabo Verde, depois São Tomé e Príncipe.
Processos pacíficos e festivos.
Em 11 de novembro – foi Angola – dramático crepúsculo do colonialismo português – com terrível prolongada guerra civi.
Faltava – naquele ano 75 – o caso longínquo de Timor-Leste, tão negligenciado plea política de Lisboa.
Em 28 de novembro de 1975 – a Fretilin avançou e proclamou a República Democrática de Timor-Leste.
Mas, a potencia regional, a imensa autoritária vizinha Indonésia do general Suharto estava há uma década implacável a eliminar tudo o que parecesse afloramento marxista.
A Fretilin tinha a etiqueta de marxista.
A Indonésia decidiu ocupar Timor-Leste.
O grande repórter português Adelino Gomes foi testemunha, relatou para a RTP, em circunstancias dramáticas o começo da invasão indonésia por Balibó e Maliana, uma equipa australiana com 5 repórteres foi morta – temeu-se por Adelino Gomes – que no entanto com o apoio de um missionário português – escapou e após 3 dias de caminhada chegou a Dili.
A invasão – por exército poderoso e enorme - foi imparável, a Indonésia proclamou que Timor era a sua 27ª província – mas a ONU nunca reconheceu a ocupação, manteve Timor como território em descolonização – e dentro de Timor – a resistência foi sempre lutadora – valente.
Apesar de a questão timorense – continuar secundária na agenda internacional - não obstante alguns esforços portugueses.
Uma das iniciativas foi – a de uma visita de deputados portugueses a Timor-Leste (ocupado pela Indonésia), prevista para outubro de 91 – 15º ano da ocupação indonésia. Não chegou a haver visita – Djacarta impediu-a.
Mas a resistência timorense – levantou-se em protestos contra essa proibição. As forças indonésias reprimiram o protesto e um jovem, Sebastião Gomes, 18 anos – foi abatido – dentro da igreja de Motael na marginal de Dili.
A revolta timorense – perante mais esta crueldade – cresceu. Foi convocado um cortejo de protesto – para 12 de novembro daquele 91, a seguir à missa de 7º dia – marcha da resistência timorense até ao cemitério de Santa Cruz – onde Sebastião estava sepultado.
A participação foi enorme – mais de duas mil pessoas – a maioria jovens, muitos com símbolos da Fretilin.
Logo no começo dos 3km e meio de percurso perceberam que havia agentes dos intel, os serviços secretos indonésios infiltrados na marcha – houve um incidente, um desses agentes foi esfaqueado – mas a marcha continuou.
Quando a cabeça do desfile chegou ao cemitério – e quando os primeiros colocaram flores sobre a campa começou o massacre.
Militares indonésios que estavam encobertos num outro cemitério logo ao lado – avançaram por Santa Cruz a disparar sobre a multidão e a esfaquear sobreviventes - crueldade tremenda.
Desta vez – a matança não podia ser negada. Porque houve um valente repórter que, escondido atrás da capela, filmou tudo - 15 minutos de massacre.
O nome dele é Christopher Wenner, tinha então 36 anos, britânico, profissão: repórter de guerra.
Ele teve consciência de que a tropa indonésia o iria apanhar – por isso, recolhidas as imagens mais eloquentes escondeu a cassete, enterrou-a debaixo de uma campa.
Christopher Wenner, na noite seguinte voltou ao cemitério, desenterrou a cassette, o video chegou a Londres, passou na BBC – e de imediato entrou por écrans de todo o mundo.
A indignação tornou-se mundial – a questão de Timor-Leste subiu ao topo da agenda internacional - prioridade atestada pelo Nobel da Paz de 96 para Jose Ramos Horta e para o bispo Ximenes Belo – ou seja para a corajosa luta do povo de Timor, o que fez o mundo tomar consciência da continuada atrocidade praticada pela Indonésia em Timor-Leste foi aquele documento – aquele filme com 15 minutos de massacre – tudo filmado pelo corajoso Christopher Wenner.
De facto – ele é conhecido por Max Stahl – a identidade que usou para se movimentar por Timor ocupado.
Max Stahl, tinha sido repórter de guerra em El Salvador, nos Balcãs - mas escolheu viver por Timor - nunca deixou o combate pela liberdade e pelo desenvolvimento democrático de Timor-Leste.
A doença levou-lhe a vida ao começo da noite num hospital da Austrália.
É um herói de Timor – sem ele – o mundo não teria aberto os olhos para aquela opressão – e para que a ONU impusesse o referendo que levou a independência.