Tais, o têxtil tradicional tecido à mão em Timor-Leste, tem valor cultural na vida das famílias do povo timorense.
Os motivos e também as cores nos tais que vestem são uma antiga marca identitária das famílias timorenses.
Os tais são tecidos com fios de algodão tingidos com tintas naturais: para uma família, os motivos desenhados são uns, para outra, outros símbolos, aliás também as cores são diferentes.
Cada família tem a sua identidade, a sua representação simbólica, traduzida através do tais.
O tais é reconhecido como um valor – pode valer como dote num noivado, pode mesmo ser trocado por outros valores, por exemplo substituir o dinheiro na compra de animais.
O tais faz parte do processo de desenvolvimento de laços entre famílias. Na antiga tradição de feitura do tais os motivos representados são predominantemente animais: representações de crocodilos, de lagartos, de serpentes, podem ser galos, cabras e outros animais. Sempre com os mesmos motivos para cada familia no tais que vestem.
E é esse valor identitário (o tais como símbolo de cada família) o que leva a UNESCO a classificar o tais como património IMATERIAL em risco não é o tecido é a tradição: cada família expressa a sua identidade pelo tais que usa.
O tais “mane” para os homens, o tais “feto” para as mulheres, ambos usados com orgulho nas cerimónias tradicionais.São como toalhas que cobrem o corpo dos homens da cintura aos pés, são como colchas com forma de saco que cobrem o corpo das mulheres.
Tais “feto” para as mulheres são usados em cerimônias tradicionais no país. Source: Supplied/UNESCO
O que há de específico e que a UNESCO reconhece no tais timorense é a questão identitária: os motivos inscritos no tecido sinalizam uma família. Muitas vezes o detalhe remete-nos para uma comunidade ou uma das regiões de Timor.
O tais, em geral, aliás na República de Timor Leste como em várias das tantas ilhas da Indonésia resulta de uma arte tradicional de trabalhar o tecido à mão.
Este ofício do fabrico do tais requer paciência. Tem o processo de tecelagem (tecer o tecido num tear caseiro), e há o tingimento do tecido.
É um ofício das mulheres e há uma arte especial de tingir previamente parte dos fios de algodão para que da combinação dos fios horizontais com os verticais resultem os motivos, ou seja, os desenhos planeados – os tais que correspondem ao longo dos tempos, aos símbolos de cada família.
Para a tarefa de tingir os fios de algodão depois metidos no tear não faltam na flora de Timor variedades de plantas tintureiras.
São usadas folhas, mas também, nalguns casos, raízes para dar a cor.
Entra aqui a mão artística para, com a adição de lamas ou de cal ou outros ingredientes, na porção certa, em cozedura dentro de uma panela de barro, ser conseguida a cor e o tom desejados. É uma técnica que requer experiência e conhecimento acumulado.
O encontro de povos de diferentes origens e o desenvolvimento do turismo levou a que o tais também tenha agora uma exploração industrial, aliás com este tipo de tecido usado no tais a ser empregue também para outros fins que não apenas os do vestuário.
Há bolsas, carteiras, saquinhos para telemóvel, chapéus, porta-moedas, brincos e colares, calçado feminino e masculino, malas de mão, ou seja, um sem fim de usos.
Mas o que motiva a UNESCO para o reconhecimento do tais é, repito, o lado imaterial, o simbolismo do tais como elemento identitário. A UNESCO mostra-se sensível ao risco de perda desse valor representativo.
É um risco que decorre de vários fatores, incluindo a crescente preferência por roupas modernas entre as gerações mais jovens, a substituição de materiais artesanais locais por alternativas do comércio industrial e até alguma indiferença das mais novas gerações em relação a esse simbolismo familiar ou comunitário contido no tais.
É por isso que a UNESCO, agência da ONU para a Educação, Ciência e Cultura acaba de decidir, em proteção desta tradição familiar ou comunitária timorense classifica-la como Património Cultural Imaterial em necessidade de salvaguarda urgente.
É um incitamento a que a tradição continue preservada pelas famílias e comunidades timorenses.