Ela introduziu em Portugal, é aliás pioneira na Europa, o gosto de aprender gastronomia através da TV.
A sua primeira aparição na televisão aconteceu em 1958 na RTP, num programa no qual, conforme a sinopse, ensinava receitas às donas de casa.
Foi precisamente na estação pública que ficou conhecida. Durante doze anos apresentou um dos programas culinários que teve mais sucesso no país, sendo considerada uma pioneira do formato "live cooking" ("cozinhar em direto") em Portugal
A paixão pela cozinha tradicional também não a impedia – pelo contrário – de olhar para além dos pratos, para os produtos, para a ciência ligada a eles e à forma de os cozinhar, algo que se esforçou também por divulgar e fazer chegar ao conhecimento de todos, mesmo depois de ter deixado a televisão, através dos seus livros, das suas intervenções públicas, e das suas crónicas, reunidas em Sabores com Histórias, e que são pequenas pérolas reveladoras do seu sentido de humor.
Ao longo da carreira escreveu também vários livros de culinária, nomeadamente a Grande Enciclopédia da Cozinha, Cozinha Tradicional Portuguesa e Receitas Escolhidas. O seu contributo para a defesa da identidade cultural do país continua a merecer reconhecimento e elogio unânime por parte dos profissionais e especialistas na área da gastronomia e da cultura, e de todos os portugueses em geral.
Quando um dia lhe perguntaram qual seria a última refeição que escolheria, falou de um bom pão alentejano, de uma mancheia de azeitonas e de uma boa manteiga. Provou as coisas mais saborosas do mundo inteiro e escolheu sabores tão simples.
Explicou em entrevista a Anabela Mota Ribeiro: “O pão alentejano foi o primeiro que comi; não tenho dúvida que a primeira açordinha que comi foi feita com pão alentejano. Depois, como profissional, a cozinha alentejana é a mais imaginativa do país. E a base é o pão.
“Fazemos os cozinhados, mas depois fazemos-lhes uma caminha de pão. O pão é um alimento que foi sacralizado, e para mim é mesmo um alimento sagrado. Aprendi a dar um beijo no pão antes de o deitar fora quando está muito duro. Assim como não deixo comida no prato.
“Quando me põem pratadas no restaurante, mando tirar. A fome faz-me imensa impressão e é das coisas que compreendo menos bem. Quando vejo aquelas mulheres com as mamas secas e os filhos a chupar as mamas secas... Não posso deixar uma folha de alface no prato. Não me permito fazê-lo”
Era assim Maria de Lourdes Modesto, a grande chefe da gastronomia, percursora dos grandes chefs. Viveu 92 anos, até este 19 de julho.
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