Uma grande exposição sobre a última rainha reinante em Portugal está agora a ser inaugurada naquela que foi a casa de reis e rainhas, o Palácio Nacional da ajuda, em Lisboa.
A exposição D. Maria II, de princesa brasileira a rainha de Portugal, 1819-1853 inicia-se com uma rainha retratada por John Simpson em 1834, ano em que sobe ao trono. Tinha apenas 15 anos, embora pareça mais velha. Está sentada no trono, enquanto ao lado se vê, sobre uma mesa, a coroa real portuguesa herdada dos antepassados. A novidade está no ceptro em ouro que segura numa das mãos, um presente oferecido pelos liberais exilados e em que a Carta Constitucional aparece figurada como um pequeno livro, aquele que acabará por ser o texto fundamental que mais tempo esteve em vigor em Portugal.
D. Maria II foi rainha num tempo em que o Estado português, as instituições, a sociedade portuguesa mudaram aceleradamente.“A ela se deve a institucionalização do Estado liberal em Portugal. Há eleições, parlamento, separação de poderes, texto constitucional, imprensa livre, uma série de elementos que hoje definem a nossa cultura liberal, em forma democrática e republicana, mas cuja mais longínqua origem se deve a D. Maria”, explica José Miguel Sardica, o comissário desta exposição. Ele nota que esta rainha não deixa de ser, contudo, uma mulher entre dois mundos, o do Antigo Regime, de tradição absolutista, que definia a família Bragança que embarcou para o Brasil a fugir das invasões napoleónicas, e o do pai, liberal, arauto da monarquia constitucional.
Source: Palácio da Ajuda
Numa exposição que se organiza como uma narrativa biográfica em redor de doze núcleos, o espaço seguinte explica as circunstâncias que fizeram de Maria da Glória a única monarca europeia a nascer na América. A família real partira para o Brasil em 1807. Dez anos depois, em 1817, casou-se o infante D. Pedro, que viria a ser imperador do Brasil em 1822 — nasceu no Paço de São Cristóvão, no Rio de Janeiro.
Aos nove anos, D. Maria começou um exílio que passaria por Londres, França, novamente pelo Rio de Janeiro, até à chegada a Lisboa em 1833.
Ela é rainha aos sete anos, entronizada aos 15, falecida ao cabo de um reinado de 19 anos. Teve 11 filhos com D. Fernando e morreu aos 34 anos durante o 12.º parto. Passou à história, aliás, com o cognome de ‘Educadora’. Há uma dimensão pública da rainha, mas de uma rainha que, muitas vezes, passava a ser mãe de família. Isso dá-lhe também uma dimensão de modernidade.
Ela é a última figura de um país liberal revolucionário e a primeira de um país à europeia, celebrada num dos principais palácios de Lisboa.