Depois de mais de três anos trabalhando como entregador de comida em Sydney, o brasileiro Diego Franco foi surpreendido por um email de uma das empresas com as quais tinha vínculo, o Deliveroo. A mensagem dizia que ele seria desligado do quadro de entregadores por demorar demais.
Uma situação com a qual ele não concorda e que pretende levar ao tribunal.
"Depois de três anos e meio trabalhando para Deliveroo , eu recebi uma carta dizendo que meu contrato seria terminado. Que eu estava demorando muito pra chegar nos clientes com a comida. Porém, neste mesmo email, eles diziam que já tinham me dado um aviso anterior sobre o problema, e que, a partir daquela data, eu teria só mais 7 dias para trabalhar, e eu seria bloqueado. Fui olhar meus emails e realmente não havia recebido nenhum aviso sobre o que estava ocorrendo o problema que eles alegam. A partir daí eu mandei alguns emails explicando toda a situação, que eu não havia recebido esse email de aviso, para que eu pudesse ter a chance de melhorar, caso fosse necessário. E expliquei da situação financeira que estava difícil, por conta do COVID-19, que eu precisava de um trabalho, que era minha única fonte de renda desde que cheguei aqui na Austrália. E gostaria de ter uma chance para melhora, mas nesse caso não me deram essa chance. Troquei alguns emails com uma manager, mas persistiu na ideia de que eles tinham enviado este email para mim, e que encerrariam meu contrato. Não teria uma segunda chance."
Segundo Diego, demorar muito não é interessante a ele, que ganha por cada entrega que faz. Mas ele diz ainda não entender do que se trata exatamente esta demora.
"Nesse email eles não especificaram se eu estava atrasando num dia, ou numa semana, ou duas. Eu não me lembro, eu faço muita entrega por dia, eventualmente pode ser que ocorra algum atraso ou outro. Mas nada persistente, até porque, se fosse, eu não estaria tanto tempo trabalhando com eles. Se ocorreu, foi alguma coisa bem esporádica, e eu não fiquei sabendo já de antemão, quando o fato ocorreu. Até porque esse email não chegou até a mim. E tem até a questão com o próprio aplicativo, ele tem um problema de atraso. Quando a gente chega pra fazer a coleta da comida no restaurante, normalmente a gente perde de 5 a 10 minutos. Isso é a média que a gente esperava, já cheguei a esperar bem mais. Em algumas ocasiões eu já fiquei esperando até 20 minutos, meia hora. Tenho prints disso. Não sei se essa ligação tem sentido, realmente. O fato é que, por algum motivo, esse email não chegou até a mim. Eu não sabia o que estava acontecendo. "
Diego Franco resolveu então buscar ajuda no sindicato antes de entrar na Justiça. Ele contatou o Delivery Riders Alliance, o sindicato dos entregadores, ligado ao Sindicado dos Trabalhadores de Transporte da Austrália.
"Entrei em contato com o DRA (Delivery Riders Alliance) de Sydney, expliquei a situação pra eles, pra ver se poderiam me dar alguma ajuda. Também não obtiveram sucesso. De repente reverter a situação, pra que tivesse uma segunda chance. E a partir daí, a única opção que nos restou foi ir pra Corte. O TWU (Sindicato dos Trabalhadores de Transporte) entrou junto e vem me dando esse suporte com advogados, pra que a gente leve pra Corte, pra ver o que pode ser feito".
A reportagem da SBS em português entrou em contato com o Deliveroo. A declaração a seguir vem de um porta-voz da empresa.
"Os entregadores estão no centro de tudo o que fazemos na Deliveroo. O contrato que temos com os pilotos é baseado no feedback deles, projetado de acordo com suas necessidades e desejos.
Quando um entregador falhar consistentemente em cumprir os padrões de serviço nos quais se inscreveu, nossa equipe investigará, notificará o entregador e, potencialmente, vai considerar encerrar nosso contrato com essa pessoa. Terminar um contrato é extremamente raro, afetando 4% dos entregadores a cada ano. Qualquer decisão desse tipo é extremamente difícil.
Nesse caso, o contrato foi encerrado porque um grande número de pedidos entregues pelo motociclista estava demorando muito mais para chegar aos nossos clientes do que seria razoavelmente esperado. O piloto foi notificado sobre isso, mas o problema continuou.
Nossos clientes esperam, com razão, que sua comida seja entregue prontamente, a reputação dos restaurantes depende de um bom serviço, entregando seus pratos quentes e em boas condições, e outros entregadores não querem que o comportamento de uma minoria afaste os clientes de pedirem o Deliveroo.
Portanto, é importante que, no interesse de entregadores, clientes e restaurantes, cumpramos os termos e padrões de nossos contratos com os motoqueiros."
Diego Franco não concorda com a posição do Deliveroo.
"Na minha opinião, foi um término arbitrário por parte da empresa. Eu não estava sabendo do problema, portanto, eu não tive nem a oportunidade de melhorar, se caso fosse."
Ele segue trabalhando com entregas, mas agora para outras companhias, em meio a preocupação com a situação causada pelo coronavírus, e por ser responsável pelo sustento de sua família aqui na Austrália.
"Eu vim com minha esposa e hoje nós temos uma filhinha de 11 meses. E como eu expliquei pra eles, com toda essa questão da pandemia do COVID-19, a demanda caiu muito drasticamente para todos os entregadores, porque somente eu que trabalho aqui, a gente tá no visto de estudante, ela está fazendo MBA e cuidando da nossa filhinha, e por esse motivo eu fiquei muito frustrado, pois perdi a principal fonte de renda que eu tinha".
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Os testes para o coronavírus estão agora amplamente disponíveis em toda a Austrália.
Se você tem sintomas de resfriado ou de gripe, organize um teste ligando para o seu médico ou para a Linha Direta Nacional do Coronavírus no número 1800 020 080.
O App COVIDSafe do governo federal, para rastrear o coronavírus, está disponível para baixar na 'app store' do seu telefone.
A SBS traz as últimas informações sobre o COVID-19 para as diversas comunidades na Austrália.
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