No dia 22 de março de 2019, no auge da crise do coronavírus, o primeiro-ministro Scott Morrison anunciou o fechamento de bares, restaurantes, clubes noturnos e academias de ginástica, entre outros.
As primeiras medidas em direção ao distanciamento social para conter a propagação do coronavírus foram várias: apenas duas pessoas poderiam se encontrar na rua, sair de casa apenas para ir ao médico, supermercado, farmácia e se exercitar, ou trabalhar caso fosse essencial.
Como o comportamento de todos teve que mudar por causa das restrições, mudaram também a maneira como nos relacionamos uns com os outros. Encontrar alguém, dar um beijo e abraço, em tempos de coronavírus, pode parecer impensável.
Na mesma proporção em que os bares e restaurantes fecharam, os applicativos de relacionamento e namoro surgiram como a melhor e mais segura opção de encontrar alguém (mesmo que virtualmente) em meio a uma pandemia.
O Tinder, um dos apps de relacionamento mais acessados na Austrália, registrou no dia 29 de março (uma semana após o anúncio do primeiro-ministro), um recorde no número de acessos e mais de 3 bilhões de ‘swipes’, ou deslizadas.
Mas além do boost à indústria do namoro virtual, os aplicativos para namoro e relacionamento, têm um papel importante na vida da mulher imigrante.
Esse podcast explora como as medidas impostas para o combate ao coronavírus afetaram a vida das mulheres brasileiras na Austrália, mulheres que recorrem aos dating apps, aplicativos de relacionamento para encontros e namoro ou para conhecerem outras pessoas, network ou uma simples amizade.Para Fernanda Bispo, de Sydney, que usa quase todos os aplicativos disponíveis no mercado, encontrar alguém durante o lockdown fez com que ela mudasse o próprio comportamento. “Sempre fui tímida com câmeras, mas daí todos os apps disponibilizaram a função vídeo, e assim, fui me acostumando.”
Vanessa: “A gente brinca que se a gente continuar junto e tiver filhos a gente vai contar a história de que nos conhecemos em meio de uma pandemia e quebrou as regras para se conhecer pessoalmente.” Source: Supplied
Fernanda conta que teve momentos engraçados durante as conversas via vídeo. “Aconteceu de eu estar conversando com a pessoa e a pessoa dormir, acaba conversando de noite, depois do trabalho, mas isso não aconteceria na vida normal.”
Namorar com as normas de distanciamento social em vigor não foi fácil, quando os encontros finalmente saíam do ambiente online, foram transferidos para a praia, parques, os únicos locais públicos abertos.
A caminhada virou o ‘ponto de encontro’ com o café takeaway na mão e o ‘crush’do lado.
“Quando finalmente nos encontramos, ficamos umas 5-6 horas no parque, com o café na mão, conversando,” recorda Vanessa Freitas, de Sydney, que encontrou o atual namorado em meio à pandemia.Depois de 3 semanas conversando via vídeo chamada, Vanessa, que mora em Bexley, e o namorado que vive em Newtown (10 minutos de distância) finalmente resolveram se encontrar.
Fernanda, profissional de marketing de Sydney: “É bom se encontrar durante a quarentena para exercitar, nos encontramos na praia e ficamos horas conversando e caminhando. Mais saudável não?” brinca. Source: Supplied
“A gente brinca que se a gente continuar junto e tiver filhos a gente vai contar a história de que nos conhecemos em meio de uma pandemia e quebrou as regras para se conhecer pessoalmente.”
Vanessa conta que tanto ela quanto o namorado, ficaram em dúvida se a intensidade do sentimento que tinham um pelo outro era real, ou se o sentimento vinha da carência, solidão e isolamento social impostos pelas restrições do coronavírus.
“No estágio que estamos agora eu acredito que não é por causa do isolamento social a razão pela qual ficamos juntos, e que a gente gosta mesmo um do outro. Eu nunca imaginei que eu ia encontrar um namorado durante o coronavirus mas nossa conexão online foi muito forte.”Para Taís Rochel, de Melbourne, ex-campeã brasileira de esgrima, e técnica do time australiano de esgrima, manter o relacionamento via vídeo durante o lockdown foi desafiador.
Segundo Taís, de Melbourne, manter o relacionamento à distância durante o lockdown foi desafiador. “Eu disse para ele que a única coisa boa nisso tudo éramos nós.” Source: Supplied
Pensar em distanciamento social do namorado que não via há semanas foi a última coisa que passou pela cabeça de Taís quando os dois se reencontraram para um passeio de bicicleta.
Os dois, atletas, ficavam horas andando de bicicleta, já que se exercitar em local público era permitido. “Quando a gente finalmente se viu, mesmo durante o lockdown, eu esqueci de tudo e abracei ele, fiquei muito emocionada, estava com muita saudade.”
Taís conta que na época os dois estavam passando por problemas pessoais familiares sérios. “Eu disse para ele que a nossa união era a parte boa disso tudo, a gente serviu de suporte um para o outro no momento em que os dois mais precisavam, e em meio à pandemia,” recorda Taís, que conta que agora que as restrições impostas pelo Covid diminuíram, os dois estão dando um tempo do relacionamento.
Rhyna Victor, de Brisbane, onde conheceu o namorado, conversou com a SBS em Português do Acre, no Brasil. Por causa do fechamento das fronteiras entre o Brasil e Austrália, ela não tem como retornar a Austrália onde deixou o namorado.“Nos falamos quase todas as noites, eu estou no Acre e ele está aí. Nos conhecemos no Bumble e ficamos 4 meses juntos até eu ter que voltar para cumprir um prazo de trabalho e voltar.”
“Outro dia fizemos uma turnê pela casa nova dele, eu comprei uma plantinha e mandei para ele. Assim eu me fiz presente, a gente tem que inventar, ser criativo.” Source: Supplied
Os dois agora falam por video chamada e ela conta que é importante manter a criatividade para manter o namoro. “Outro dia fizemos uma turnê pela casa nova dele, eu comprei uma plantinha e mandei para ele. Assim eu me fiz presente, a gente tem que inventar, ser criativo.”
Para a psicoterapueta Patrícia Martins, de Melbourne, sentimentos como solidão, carência foram excerbados durante o lockdown do coronavírus. Para ela é possível se conectar emocionalmente via vídeo.“Eu acredito que no momento essa conexão emocional está sendo movida pela carência, as pessoas estão se conectando mais para suprir essa necessidade de ser acolhido, de pertencer, porque a gente já é imigrante, e perde os referenciais de amigos, familiares, tudo fica um pouco mais difícil, há uma tendência em idealizar o outro ainda mais, nesse tempo de quarentena precisar de mais atenção” diz.
Psicoterapeuta Patricia Martins, de Melbourne: “É mais fácil se conectar via video, acho uma ideia fenomenal esses aplicativos estarem usando mais essa ferramenta." Source: LF/SBS Portuguese
Patricia sugere que mulheres solteiras que estejam em relacionamentos online, e à distância, dediquem mais tempo a conhecerem mais profudamente o outro. “É mais fácil se conectar via video, acho uma ideia fenomenal esses aplicativos estarem usando essa ferramenta agora.”
Para ela, a maneira como as pessoas se relacionam mudou, o ’novo normal’ aponta para um distanciamento social mais permanente, “o que seria um choque um pouco maior para nós mulheres latinas, mas sim as pessoas ficarão mais receosas no futuro, e as mídias sociais terão um papel mais importante no estabelecimento dessas relações,” prevê.Tinder bate recorde em número de swipes
Source: SBS
De acordo com relatório do Match Group, que é dono do Tinder, Hinge, OKCupid e Plenty of Fish, solteiros estão recorrendo mais do que nunca a esses aplicativos em busca de ‘companhia, namoro e uma sensação de normalidade’.
De acordo com aos seus acionistas, no Tinder os usuários ativos diários (DAU) e Swipes™ diários bateram recorde no auge da crise do coronavírus e que o maior aumento de uso e atividade no Tinder veio de mulheres com menos de 30 anos.
De acordo com a carta, “o uso e o envolvimento femininos são um fator essencial para o sucesso de um aplicativo para relacionamento e namoro. Essa mudança no comportamento feminino é um fator extremamente positivo para o nosso setor,” diz o documento.
As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros. Confira os limites no seu estado ou território para o número máximo de pessoas em encontros e reuniões.
Os testes para o coronavírus estão agora amplamente disponíveis em toda a Austrália.
Se você tem sintomas de resfriado ou de gripe, organize um teste ligando para o seu médico ou para a Linha Direta Nacional do Coronavírus no número 1800 020 080.
O App COVIDSafe do governo federal, para rastrear o coronavírus, está disponível para baixar na 'app store' do seu telefone.
A SBS traz as últimas informações sobre o COVID-19 para as diversas comunidades na Austrália.