Na primeira metade dos anos 50 do século 20, cidades como Detroit e San Francisco e várias outras pelo mundo, que então tentava ganhar fôlego depois das desgraças da 2ª Grande Guerra, decidiram fechar escolas, universidades, estádios, piscinas. Foi um confinamento parcial para tentar travar uma doença que há muito progredia mas que naqueles anos 50 estava a progredir galopante, sem possibilidade conhecida de cura e que incapacitava sobretudo crianças através de paralisia muscular causando, principalmente, imobilidade das pernas.
O nome dessa doença era poliomielite. já estava identificado que essa pólio estava associada a falta de higiene e era muito contagiosa, daí a decisão em várias cidades de fechar o máximo possível de lugares com mais risco de contágio.
Sabia-se, desde 1908, através da investigação de dois médicos austríacos, Landsteiner e Popper, que a doença era transmitida por um vírus. Dezenas de laboratórios pelo mundo focaram-se na procura da eliminação desse vírus.
Em 1948, foi conseguido pôr o vírus em cultura em células vivas, avanço recompensado com o Nobel da Medicina. Mas continuava a não haver tratamento nem vacina.
Sete anos depois, em 11 de abril de 55, telegramas enviados da Universidade do Michigan convidavam académicos e a imprensa para um extraordinário anúncio, às 10 da manhã do dia seguinte, no grande auditório daquela universidade. Neste dia seguinte, 12 de abril de 55, a rádio CBS relatava que as atenções do mundo estavam concentradas no anúncio na Universidade do Michigan de um dos maiores avanços de todos os tempos.
Na medicina, o que estava a ser anunciado era o êxito dos ensaios clínicos que validavam a vacina para travar a tal devastadora poliomielite. Falou Thomas Francis, diretor do Laboratório Médico da Universidade do Michigan, para anunciar que a equipa de um dos discípulos, Jonas Salk, tinha conseguido essa vacina.
Salk desenvolveu o formidável trabalho de muitos antecessores na pesquisa, entre eles uma notável médica e investigadora australiana, Dame Jean Macnamara. Na manhã seguinte, a notícia enchia a primeira página de jornais. No Detroit Free Press, letras enormes proclamavam o triunfo: A VACINA CONTRA A PÓLIO FUNCIONA.
De imediato, começou a produção e aplicação da vacina em larga escala. Meses depois, alerta geral e o patrão da saúde nos EUA mandou parar a execução do plano da vacinação maciça. Percebeu-se que, na fúria de produzir, havia gente menos escrupulosa, ou menos exigente nos cuidados exigido,s e na California estavam a distribuir lotes com erro.
Na pressa de produzir, não foi acautelado evitar que vírus, apesar de julgados inativados, mortos, para a vacina, ainda tivessem capacidade de mutação e serem causadores de casos de polio.vA vacina de Salk era um progresso, mas havia que evitar riscos que a pressa não acautelou.
Seis anos depois, um investigador médico polaco emigrado para os Estados Unidos, Albert Sabyn, conseguiu, através do vírus vivo, mas atenuado, uma vacina oral – a gotas – que se revelou mesmo eficaz. Esta vacina elimina de facto o risco de poliomielite.
Passados 60 anos, a polio, graças à vacina, tal como acontece com a varíola, está considerada erradicada. Surgiu a noticia de casos no Afeganistão e no Paquistão, mas porque as gotas de vacina não foram vertidas para a boca das crianças -- os talibã não deixaram.
Uma lição do processo desta vacina conseguida pelo polaco-americano Albert Sabin: ele prescindiu da patente, para que a vacina pudesse chegar a todos a custo muito baixo.
Uma outra lição – que transita para a agora tão procurada e ansiada vacina contra covid19: que os países mais poderosos não acumulem doses que faltarão aos mais pobres. E que estejamos prevenidos para especulações – com anúncios que poderão ser prematuros.
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