Desde sua independência, arduamente conquistada em 2002, esta é a quinta eleição presidencial de Timor-Leste.
Vai ser eleita, assim, a sétima personalidade a assumir o cargo de presidente da República democrática de Timor-leste em 20 anos de independência.
Presidentes da República de Timor-leste, nos últimos 20 anos de independência:
- Xanana Gusmão (2002-2007)
- José Ramos Horta (2007-2012)
- Vicente da Silva Guterres e Fernando´Lasama´de Araújo (ambos presidentes interinos, na sequência do atentado à vida de Ramos Horta, no dia 11 de fevereiro de 2008)
- Taur Matan Ruak (2012-2017)
- Francisco Guterres ´Lu Olo´ (Presidente da República atual, na função desde 2017).
Agora, e como sempre tem acontecido ao longo destes 20 anos, irão a votos timorenses de Timor, mas também da diáspora - na Austrália, Portugal, Reino Unido e Coreia do Sul.
Na Austrália, estão inscritos para votar 1.487 eleitores timorenses, espalhados principalmente pelos estados de Nova Gales do Sul, Victoria, e no Território do Norte, os quais poderão exercer o seu direito de voto nas cidades de Sydney, Melbourne e Darwin.
A comunidade timorense na Austrália é pequena e a maioria destas pessoas chegaram cá durante o período da ocupação da Indonésia, o que implica que, segundo Luciano Valentim da Conceição, cônsul-geral de Timor-leste em Nova Gales do Sul, “quase 100% destas pessoas são cidadãs australianas, sendo que muitos deles têm também dupla nacionalidade, australiana e timorense, já que a constituição timorense reconhece esta possibilidade.“Quanto à taxa de abstenção expectável entre os votantes timorenses na Austrália, Luciano da Conceição tenta contrariar a tendência natural dos números mas diz que, tendo em conta as eleições de anos anteriores,
Luciano Valentim da Conceição apela ao voto de todos os timorenses residentes na Austrália, principalmente à comunidade de Nova Gales do Sul Source: Imagem de cortesia de Luciano Valentim da Conceição
Poucos são os votantes timorenses que votam na Austrália. Em cada estado não devem exceder as 150, 200 pessoas. Mas seja lá que número de votantes forem às urnas nesta terça-feira, este será sempre o número que representará a maioria dos timorenses em nome da democracia na Austrália.
Um dos obstáculos maiores ao voto de amanhã, talvez seja o facto da comunidade timorense ir às urnas num dia de trabalho. O cônsul-geral de Timor-leste tem noção de que esta data não facilita o processo de voto:
Um dos problemas que teremos nesta segunda ronda, é que os timorenses irão a votos a uma terça-feira. Na ronda anterior, no dia 15 de março, foi mais fácil porque foi a um sábado.
Contudo, Luciano da Conceição garante que o consulado está a fazer todos os esforços possíveis para contatar o maior número de timorenses possível, e tem-no feito através da mensagem transmitida na igreja católica em Liverpool onde muitos timorenses atendem a missa, mas também através da rádio comunitária timorense em Sydney, das redes sociais que o consulado gere e, claro, através de entrevistas como esta da SBS.
“Agora, se muita gente vai votar ou não, isso só saberemos na terça-feira”, diz Luciano da Conceição que aproveita a oportunidade para mais uma vez apelar a todos os timorenses na Austrália que votem amanhã para eleger o seu novo presidente da república:
Como cônsul-geral, preciso da vossa participação. Peço a todos os timorenses de Nova Gales do Sul que ouçam esta entrevista da SBS que façam um pouco de sacrifício e votem nesta terça-feira, dia 19, na Igreja de Liverpool, das 7 da manhã às 3 da tarde.
Luciano da Conceição relembra ainda a todos os timorenses o procedimento de voto:
“Tragam o vosso cartão eleitoral timorense, o vosso bilhete de identidade ou passaporte timorense válidos, mas também não se esqueçam que têm que estar registados no consulado em Sydney, caso não tenham votado nas últimas eleições, parlamentares ou presidenciais”.
Como mensagem principal, o cônsul-geral timorense quis deixar a seguinte:
Votem pela nossa democracia, pelo nosso desenvolvimento, pelo progresso da política timorense.
Acrescentando, ainda:
Antes, lutámos não só pela defesa da ideia da independência total e criação de um povo livre, mas também pela defesa da justiça, da paz e dos valores da democracia. E a luta pela democracia passa pelo processo de eleição parlamentar e presidencial. E viva à democracia!
Em relação aos resultados na primeira ronda destas eleições, efetuada no dia 19 de março, Luciano da Conceição considera que o importante é mesmo a escolha do povo de Timor:
“Dos 16 candidatos da primeira ronda, foi a dois´filhos timorenses´ que o povo de Timor-Leste deu a sua confiança máxima. São eles, o atual presidente da república e presidente do partido da Frente Revolucionária de Timor-leste Independente (FRETILIN), Dr. Francisco Guterres, conhecido por ´Lu Olo´. O outro candidato é o Dr. José Ramos Horta, que já foi Presidente da República, primeiro-ministro, ministro dos negócios estrangeiros, uma pessoa muito relacionada com a luta da libertação nacional como porta-voz da resistência para o exterior, e que também foi representante da FRETILIN nas Nações Unidas”.Sem, obviamente, deixar saber qual é a sua preferência pessoal, o cônsul-geral de Timor-leste diz que vê ambos os candidatos como bons futuros presidentes da república:
José Ramos-Horta, à esquerda, e Francisco Guterres "Lu Olo", à direita, vão disputar o segundo turno das eleições presidenciais do Timor-Leste já amanhã. Source: EPA/ANTONIO DASIPARU / AP Photo/Lorenio Do Rosario Pereira
O presidente da república é uma figura importante como figura institucional e da unidade nacional. E neste sentido, estes dois candidatos são bons para o nosso país. São duas grandes figuras de Timor. Eles os dois são os melhores filhos timorenses que temos neste momento. Mas, agora, tudo depende do povo.
O resultado da contagem de votos da primeira ronda, realizado no sábado, 19 de março, mostra que o candidato Jose Ramos-Horta, Nobel da Paz em 1996, recebeu 46.58% dos votos, mais do que o dobro do segundo candidato, o atual presidente Francisco Guterres ´Lu Olo´, que teve 22.16% dos votos.
Pelas regras eleitorais do Timor-Leste, para ser eleito no primeiro turno, o candidato tem que ter pelo menos 50% dos votos mais um. Portanto, a expectativa para amanhã, 19 de abril, é grande.
Por último, e em relação à participação das mulheres na vida política e social de Timor, Luciano da Conceição relembra o seguinte:
“Timor-Leste foi o primeiro país independente do século XXI. Adotamos todas as convenções, regras e normas internacionais. Neste contexto, a nossa lei eleitoral exige que as mulheres sejam representadas em 30% na vida política nacional."
Satisfeito com o envolvimento proativo das mulheres timorenses na política do país, Luciano da Conceição resume a participação das duas candidatas principais às presidenciais de 2022:
Nestas eleições, o país viu a atual vice primeira-ministra, a Sra. Armanda Berta dos Santos, candidatar-se apoiada pelo seu partido – o seu número de votos foi muito significativo quando comparado com as outras mulheres candidaturas nestas eleições presidenciais. A Sra. Milena Pires, que também é uma mulher reconhecida como embaixadora de Timor-leste junto das Nações Unidas, também se candidatou, mas o resultado em votos foi muito menor comparado com a Sra. Berta.
Para ouvir esta entrevista completa a Luciano Valentim da Conceição, clique sobre a imagem de abertura deste artigo.
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