"Estávamos sempre em combate e nas horas livres eu escrevia as músicas. Como eu estava sempre cantando nosso comandante Xanana Gusmão me apelidou de ‘berliku’ que é ‘pássaro’ em tetum", recorda Domingos Berliku Gabriel, ex-guerrilheiro de Timor-Leste e vocalista, compositor da banda Maubere Timor.
Resumo da notícia
- Vocalista ex-guerrilheiro Berliku recebeu o apelido de seu então comandante Xanana Gusmão, o futuro presidente de Timor Leste
- Xanana Gusmão escreveu a letra e Berliku musicou a canção ‘Maubere Timor’, que dá nome ao grupo
- Banda formada por ex-guerrilheiros da Falintil e timorenses que vivem na Austrália se apresenta pela primeira vez no WOMAdelaide
Berliku viveu por 15 anos no mato como parte do movimento guerrilheiro durante a ocupação indonésia (a Indonésia ocupou Timor-Leste de dezembro de 1975 a outubro de 1999, quando o país votou pela independência).
Durante as horas infindáveis no mato Berliku ouviu e compôs muitas canções. "Fazíamos a gravação das músicas em cavernas e mandávamos as fitas cassetes para organizações clandestinas e até para o exerior, " recorda.
Hoje aos 63 anos ele se esforça para lembrar das canções e assim contar um pouco da história timorense através da música que honra o passado de luta timorense. "Quando você começa a cantar essas músicas, toda a memória volta para nós," diz o ex-guerrilheiro.
"Antes da guerra ouvíamos as músicas brasileiras e portuguesas, os fados, os folclores e daí passamos a compreender a música. Tínhamos a nossa própria cultura e cantávamos muito."
A banda Maubere Timor foi formada em 2014 para reviver a música da resistência timorense (Freedom Fighters). "Eu e Zé (Faria, violonista da banda) cantávamos músicas da resistência. Quando Rui Maria Araujo (ex-presidente de Timor), ouviu nossas canções e disse que tínhamos que gravar: ‘enquanto estás vivo, queira ou não, tem que gravar para mostrar para as futuras gerações’, ele nos disse e arranjou para gravarmos aqui em Melbourne."
José Faria, o violonista da Maubere Timor, também fez parte do movimento da resistência timorense. "Ele dava apoio logístico, ficava na cidade e nos mandava cigarros, comida, medicamentos," conta Berliku.
Berliku, which means ‘bird’ in Tetum: “I sing in the hope that the new generations of Timorese-Australians ‘feel’ how was the fight, our fight for freedom” Source: WOMAdelaide
A música nos deu coragem, determinação para continuar a lutar, jamais perdemos o espírito de luta contra o inimigo.
Berliku conta que o grupo de guerrilha do qual fazia parte foi muito inspirado por outros grandes guerrilheiros como Amílcar Cabral, na Guiné Bissau e Samora Machel em Moçambique e Che Guevara, na América do Sul.
Para os shows em Adelaide (a banda também se apresentou em Melbourne no final de fevereiro) Berliku diz que sempre espera que os timorenses apreciem a sua música. "Transmitimos para os timorenses na Austrália a nossa música, para eles ouvirem, sentirem e saberem como foi a luta."Ouça a entrevista completa com os integrantes da Maubere Timor, Domingos Berliku Gabriel, José Faria e Gil Santos clicando no botão play na imagem que abre esse artigo.
First show in Dili for 40,000 people: Maubere Timor is an ensemble of old school Timor-Leste veterans who interpret through music their heroic history Source: Supplied