Timor-Leste, 20 anos do referendo: Portugal envia presidente do Parlamento, Eduardo Rodrigues a Timor

Dili 1999

People cheer "Viva Timor L'este" (Long Live East Timor) in Dili in October 1999. Source: AAP

Há 20 anos, dia por dia, a vida portuguesa era ritmada pelas notícias do referendo em Timor. Dizia-se então, Timor Loro-Sae.


A cobertura jornalística tornou-se mais intensa a partir do momento em que foi anunciado o resultado do referendo, com os timorenses a votarem, de modo maciço, pela independência.

O referendo sobre a independência de Timor-Leste realizou-se a 30 de Agosto de 1999, depois de longas negociações entre Portugal e a Indonésia, que a 5 de Maio de 1999 assinaram, pela mão dos respectivos chefes da diplomacia, Jaime Gama e Ali Alatas, e sob o patrocínio das Nações Unidas, o acordo que marcava a consulta popular naquele território.

Porém, assim que foram conhecidos os resultados, que davam uma larga maioria (78,5%) a favor da independência do território em vez de se tornar uma província autónoma da Indonésia, as milícias pró-Indonésia iniciaram uma onda de perseguições e violência.

Com essa violência que logo a seguir disparou, tanto o principal canal da rádio pública, a Antena 1, como a rádio de notícias TSF adotaram um modelo inédito em Portugal de noticiário nonstop, tudo sobre Timor, com reportagem no terreno, entrevistas e análises.

Nas televisões, também larga cobertura, tal como nos jornais. Muitas figuras timorenses passaram a fazer parte do dia a dia dos portugueses.

Na rua, nos cafés, as pessoas falavam de Xanana, de Alkatiri, de Ramos Horta, de Dom Basílio do Nascimento e Dom Carlos Ximenes Belo, tal como dos Carrascalões, de Roque Rodrigues, Ian Martin ou de Sérgio Vieira de Mello como se fossem pessoas próximas.

Cresceu uma amizade que ficou expressa em sucessivas manifestações gigantescas de apoio ao povo de Timor.

A partir do anuncio do resultado do referendo e até à independência de Timor, todos os principais media portugueses mantiveram em Timor enviados especiais permanentes.

Com Timor, apesar de a 14.000 quilómetros de distância, sempre, em todos os noticiários.

Passada a independência, começou a sentir-se em Portugal um certo esfriamento da parte de alguns setores timorenses.

Houve mesmo alguma escalada de tensão quando autoridades timorenses afastaram sete juízes portugueses que estavam em Timor com a missão de contribuir para a consolidação do sistema judiciário timorense.

Houve mal-entendidos e acusações de parte a parte.

A adesão popular portuguesa aos assuntos de Timor baixou muito. Timor quase desapareceu das notícias.

Mas a diplomacia e as lideranças políticas quiseram sempre cultivar o que é chamado de relação especial com Timor. Presidentes e governos notam a boa correspondência com homólogos timorenses, fala-se de Xanana, de Ramos Horta, de Alkatiri, de Taur Matan Ruak, de Lu Olo e outros mais.

As lideranças foram mudando em Lisboa, mas a vontade de grande cooperação e amizade com Díli tem sempre sido constante.

Agora, para as celebrações dos 20 anos do referendo, Portugal está presente em Timor com a segunda principal figura do Estado, o presidente do Parlamento, Eduardo Ferro Rodrigues.

Chegou a ser ponderada a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, mas a proximidade de eleições em Portugal levou a que a missão ficasse com Eduardo Ferro Rodrigues, um socialista que foi ativo combatente pela democracia em Portugal, que foi elogiado ministro da Solidariedade e que é respeitado, como presidente da Assembleia da República, por todo o leque político português.

É um périplo praticamente aos antípodas, aquele que o presidente da Assembleia da República está a fazer durante duas semanas, entre este final de Agosto e o início de Setembro. Eduardo Ferro Rodrigues visita a Nova Zelândia e a Indonésia como presidente do Parlamento, mas irá também a Timor-Leste em representação do Presidente da República.

 A Indonésia é a última paragem desta viagem de duas semanas do presidente do parlamento português onde Ferro Rodrigues se desloca a convite do presidente da Câmara dos Representantes da Assembleia Consultiva do Povo da República da Indonésia, Bambang Soesatyo, entre os dias 2 e 5 de Setembro.

Do programa consta a participação no 3.º Fórum Parlamentar Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, que se realiza em Bali nos dias 4 e 5 de setembro.

A Austrália é outro foco para a diplomacia portuguesa. Depois da visita que o Secretário de Estado das Comunidades efetuou no último ano, é de esperar troca de visitas de topo político.

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