O Dr. Peter Job contou-nos a sua experiência pessoal quando, nos anos 70, trabalhava para a Fretilin numa rádio em Darwin, acabando por envolver-se profundamente na causa timorense durante o período da invasão e ocupação indonésia.
Hoje, já com um PhD em Política Internacional tirado na UNSW de Canberra, onde é agora Investigador Associado, o Dr. Job continua o seu trabalho com, e para, o povo timorense.
O investigador académico lançou em 2021 um livro muito significativo que dá pelo nome de , onde apresenta anos de intenso e rigoroso sobre a ocupação indonésia em Timor-leste e de como, no seu entendimento, a “Austrália falhou redondamente” neste processo.
O Dr. Peter Job considera que o governo australiano da época, teve um papel “dominante e decisivo” no rumo dos acontecimentos que derivaram nos “massacres humanitários gigantescos que o povo timorense sofreu”.E, segundo o académico, a Austrália falhou não só ao nível das suas políticas de intervenção, mas também no apoio militar que alegadamente deu à Indonésia e, acima de tudo, ao nível dos direitos humanos:
Dr.Peter Job, nos anos 70, com as activistas timorenses, as irmãs Pires - Lurdes (à direita) e Maria (à esquerda) Source: Imagem de cortesia de Dr. Peter Job
O governo australiano desenvolveu uma verdadeira campanha de desinformação acerca do massacre humanitário que estava a acontecer em Timor.
No seu livro “A Narrative of Denial”, o Dr. Peter Job acusa diretamente o governo australiano de não só “ocultar a verdade dos factos” como ainda de “ter um papel fundamental na invasão e ocupação indonésia no território de Timor-leste”.
O investigador vai mais longe e, com uma assertividade que garante que lhe vem dos “milhares de documentos oficiais” que lhe passaram pelas mãos e de “centenas de pessoas com quem teve conversas reveladoras” no decurso do seu estudo, responsabiliza a Austrália inclusive pelo desfecho catastrófico dos eventos em Timor:
Se a Austrália tivesse intervindo de forma apropriada, e apoiado a descolonização de Timor fazendo disso a sua prioridade, a Indonésia teria repensado seriamente a sua posição e, nesse caso, teria sido muito pouco provável que tivesse levado a cabo a invasão e a ocupação de Timor.
Mas a Austrália fez o contrário: apoiou diretamente o massacre já que, inclusivamente, deu ajuda militar substancial às forças militares indonésias.
Depois de anos envolvido na pesquisa do drama político e humano timorense, o Dr. Peter Job conclui ainda o seguinte: “Vários estudos indicam que, durante a invasão e a ocupação indonésia em Timor-leste, cerca de um terço da população foi morta. E durante todo esse tempo, a Austrália participou e alimentou uma campanha de desinformação ao serviço do regime de Suharto para o proteger e, ao mesmo tempo, negar a realidade do que estava a acontecer em Timor.”
A Austrália mentiu ao povo australiano, às Nações Unidas e aos países interessados em ajudar Timor. E isto não é aceitável para uma nação democrática como a Austrália
Acrescentou ainda o investigador.No seu livro “a Narrative of Denial”, bem recebido pelas e que consideram esta uma obra de muito valor por ter por base investigação rigorosa e estar escrita num tom neutro e baseado em factos comprovados, Job elabora ainda a ideia desta Austrália “mentirosa”:
Livro de Dr.Peter Job, publicado recentemente, sobre a sua investigação acerca da posição da Austrália na invasão e ocupação de Timor-leste Source: Foto de cortesia de Dr. Peter Job
A Austrália era na época a nação considerada expert em Timor devido à sua posição geográfica. Por esse motivo, era o governo mais poderoso e ao qual os outros países recorriam para obterem informação fidedigna. Mas a Austrália mentiu, inclusive aos alemães e aos suecos que estando interessados em saber mais para encontrarem formas de ajudar o povo timorense consultaram o governo australiano, para depois ficarem convencidos de que, afinal, ´não se passava nada de tão grave assim´ em Timor.
Relativamente a estas eleições presidenciais timorenses, Dr. Peter Job prefere não comentar qual dos dois, Ramos Horta ou Francisco Guterres Lú-Olo, daria o melhor presidente da república para Timor-leste: "Como defensor da descolonização e da independência do povo timorense não me cabe a mim comentar qual dos dois candidatos seria o melhor presidente para Timor. Cabe unicamente ao povo saber o que é melhor para si e decidir democraticamente. Mas posso confirmar que considero os dois excelentes candidatos e duas pessoas muito importantes para Timor, e para a democracia de Timor".Job acrescenta ainda, com muito entusiasmo e respeito por todos os timorenses que lutaram pela sua liberdade e a conquistaram tão arduamente, o seguinte:
Uma foto recente onde Dr. Peter Job reencontrou as irmãs Pires, as activistas timorenses Lurdes e Maria. Source: Imagem de cortesia de Dr. Peter Job
Timor-leste é hoje uma democracia que vive uma eleição presidencial. Um vasto número de estudos classificou Timor-leste como sendo o país mais democrático do Sudoeste da Ásia. E eu, da minha experiência, confirmo que se trata, sem dúvida, de uma democracia rigorosa onde toda a gente tem liberdade de fazer ouvir a sua voz.
Sobre tudo isto, e muitíssimo mais, não perca esta entrevista da SBS a Dr. Peter Job, a qual apresentamos na sua versão original em inglês, que é imperdível para todos aqueles que se interessam pela política internacional e pelos direitos humanos fundamentais e, acima de tudo, respeita e admira o povo de Timor-leste.
Para ouvir a entrevista, clique sobre a imagem que abre este artigo.
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