Eunice nasceu de uma família de actores que deambulavam de terra em terra, num teatro desmontável, pelas aldeias e vilas do Alentejo.
Foi assim que pisou o palco pela primeira vez aos 6 anos, numa peça de teatro infantil.
Aos 13, foi chamada para o máximo teatro em Portugal, o Teatro Nacional de D. Maria II. E nunca mais parou sempre como grande atriz, 80 anos no palco.
O coração que andava a dar problemas, parou ao começo da madrugada nesta sexta-feira de Paixão.
O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, tinha madrugado para se despedir de tropas que saíam para integrar o contingente NATO no Leste da Europa.
O Presidente Marcelo foi assim dos primeiros, fora da família a saber da morte de Eunice – como ela sempre quis ser chamada – e o presidente que há um ano a tinha condecorado, decidiu logo ali, na placa do aeroporto, fazer o primeiro elogio a toda a vida de Eunice
Horas depois, o encenador Filipe La Féria comentava: "Eunice era o Teatro."
Outro homem grande do teatro em Portugal, Carlos Avillez, dirigiu Eunice, em Fedra, há já 66 anos, e comenta: "Eunice é grande em Portugal e no mundo, é uma das grandes atrizes de sempre."
Isabel Abreu é uma atriz que tem metade da idade que Eunice tinha, trabalharam juntas durante mais de 10 anos, Isabel diz que toda a gente admirava Eunice.
No Teatro Nacional Dona Maria II pisou o palco pela primeira vez aos 13 anos, no dia 28 de novembro de 1941 na peça Vendaval, de Virgínia Vitorino, pela mão da sua mestra, Amélia Rey Colaço, a quem sempre tratou por Senhora Dona, designação que recusava quando aplicada a si própria, preferindo simplesmente Eunice.
No teatro, no cinema e também na televisão, do drama à comédia, Eunice Muñoz deu vida a dezenas de personagens, foi dirigida e contracenou com todos os grandes nomes, pisou os principais palcos de teatro, foi reconhecida pelos seus pares, aclamada pelo público, premiada com inúmeros galardões e agraciada com as mais altas distinções. 80 anos de carreira não cabem em palavras.
Entre as centenas de papéis que interpretou, os que mais amou são Fedra, Sarah Bernhardt, a Mãe Coragem, a Dama das Camélias, Zerlina.
Ao longo de 93 anos, Eunice deu a vida, a alma, o corpo, sempre arriscando e renovando-se em casa personagem que criava. Eunice tinha dentro dela vários heterónimos e uma sensibilidade que a fazia compreender os mistérios insondáveis do ser humano.
E assim que todo o mundo do teatro em Portugal está hoje a despedir-se dela, com um sentimento que foi deixado pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva: "Tivemos o privilégio de coexistir com ela."
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