O dia decisivo na crise política em Portugal

Parlamento português

Parlamento português onde será votado nesta quarta-feira o orçamento para 2022, correndo o risco de ser reprovado pela primeira vez em 47 anos. Source: EPA/MIGUEL A. LOPES

Esta quarta-feira é em Portugal o Dia D para se saber se a crise política passe à fase de eleições antecipadas - o que implica paragem por vários meses da recuperação económica pos-pandemia.


Só uma improvável reviravolta numa votação ao fim da tarde desta quarta-feira no parlamento português pode salvar o orçamento de estado e assim evitar que o parlamento seja dissolvido e Portugal vá para eleições antecipadas nos próximos 3 meses.

A crise política surgiu, de modo inesperado, há precisamente uma semana, com o anúncio pelos dois maiores partidos que na esquerda da esquerda têm apoiado o governo do Partido Socialista anunciaram que votariam contra o orçamento – uma votação que, somada à esperada dos partidos à direita, reprova o orçamento.

Nunca em 47 anos de democracia em Portugal um orçamento de estado foi reprovado.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já avisou que a reprovação do orçamento do governo significa que o governo perde o apoio parlamentar e por isso convoca eleições gerais antecipadas.

O que está a ficar à vista é que o modelo de convivência à esquerda se esgotou. E esgotou-se, porque a esquerda da esquerda constatou que não quer continuar a ser um apêndice do Governo.

Não se viu, da parte da esquerda da esquerda, ou seja do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista, na negociação deste orçamento nem um clima de diálogo, nem uma vontade de compromisso. O que esteve em jogo foram choques entre programas ideológicos e políticos irreconciliáveis.

Como comenta em editorial o diretor do jornal Público, “mais do que negociar, os dois partidos (Bloco de esquerda e PCP) que mirraram nas eleições autárquicas e caem nas sondagens querem governar. Apesar de terem em mãos o Orçamento mais à esquerda de sempre, acreditaram ter chegado o momento de disputar o controlo do programa político da governação”.

Essa é, reconhecidamente, a questão: o Bloco de Esquerda, com 19 deputados e o PCP, com 10, querem impor a força das suas posições ao Partido Socialista que tem 108 deputados.

Esses partidos mais pequenos fartaram-se de ser apêndices políticos e decidiram jogar no tudo ou nada: ou são aceites todas as suas exigências ou  votam de modo a fazer cair o governo.

Esta posição da esquerda da esquerda está a ser comentada como surpreendente porque abundam os sinais de que em eleições antecipadas esses partidos serão penalizados.

Uma sondagem hoje no jornal Sol aponta que, com eleições agora, o PS voltaria a ganhar, com 38% das intenções de voto, com o PSD em 2º lugar a 10 pontos percentuais. As novidades são o partido Chega, de extrema-direita, a subir ao terceiro lugar com 9% enquanto Bloco de Esquerda e PCP perdem metade dos apoios e caem para a casa dos 5%; queda ainda maior a do CDS, para 2,5%.

À entrada no dia decisivo, é generalizada a noção de que o cenário de eleições antecipadas é o mais provável, mas não é de excluir alguma reviravolta na 25ª hora.


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