Nessa entrevista Vânia oferece um retrato fascinante da vida na Árabia Saudita sob o rei Salman e o princípe Mohammed Bin Salman. Ela lembra que há apenas alguns anos ainda se via a polícia religiosa com um pauzinho cutucando as mulheres que mostravam um ‘osso do pé’.
Apesar de, como estrangeira, poder usufruir de algumas liberdades e ir a lugares normalmente proibidos às mulheres e homens sauditas, ela descreve um país em transformação e que mudou não apenas por pressão das mulheres sauditas, mas ’também por questões financeiras’, aponta.Em alguns anos ela pôde testemunhar algumas dessas mudanças; mulheres agora podem trabalhar em mais profissões, a polícia religiosa que batia nas pernas e braços das mulheres que mostravam alguma parte do corpo não existe mais, cinemas abriram, o abaya (vestido preto que cobre o corpo) agora pode ser usado em várias cores, seus filhos podem andar de bicicleta, ‘mas nunca vi uma mulher andando de bicicleta,’ diz.
Vânia vive com a família em um condomínio de alta segurança em Jedá e usufrui de muitas liberdades se comparada com as mulheres sauditas ou estrangeiras que se converteram ao islamismo. Source: Supplied
Apesar de respeitar a cultura e a religião locais “quem sou eu para julgar uma outra cultura,” Vânia conta que a realidade de alguns sauditas é muito diferente da sua realidade como brasileira e do marido como australiano. Ela por exemplo mora com a família em um condomínio de segurança máxima e sua necessidade de locomoção é minima já que o local oferece supermercado, farmácia, café, restaurante, piscina, “como se fosse um bairro,” explica.
Mas mesmo podendo dirigir e fazendo questão de tirar sua carta, ela acredita que é hora de voltar para a Austrália e planeja o retorno com toda a família ainda este ano.
“Meus filhos têm uma liberdade vigiada que para uma adolescente vai ficando mais difícil [de lidar]. Para mim é dificil manter minha filha adolescente com uma visão de mundo que não seja tão surreal quanto a realidade que a gente vive lá, eu já tenho meus valores formados mas ela está em formação,” diz.Jedá é uma cidade da Arábia Saudita localizada no litoral do Mar Vermelho, e abriga o maior porto do país. Com cerca de quatro milhões de habitantes, é considerada a 'capital' comercial do país e a mais rica do Oriente Médio e da Ásia Ocidental.
A família tem planos de retornar para a Austrália ainda esse ano Source: Supplied
Mulheres sauditas ainda não podem tomar certas decisões sozinhas. Cada mulher tem um guardião (wali) que tem que dar permissão para que possa casar-se, viajar ou abrir uma conta bancária, apesar de hoje já ser possível às sauditas o acesso a algumas profissões sem autorização masculina.
DOS ARQUIVOS DA SBS PORTUGUESE
Mulheres protestam também no Brasil e em Portugal