O potencial do mercado australiano para o exportador brasileiro

Source: Consulado Geral do Brasil

Joaquim Penna: "Um desafio importante é uma mudança na mentalidade do empresário brasileiro, para o qual muitas vezes a exportação tem prioridade baixa" Source: Source: Consulado Geral do Brasil

De acordo com Joaquim Penna, conselheiro do consulado brasileiro em Sydney, a Austrália ainda é um mercado subexplorado pelo mercado brasileiro. Produtos como mel, roupas, calçados e tubos de ferro fundido cresceram em 2020


A Austrália possui um mercado consumidor de alto poder aquisitivo e elevados índices de consumo. Ao mesmo tempo, representava apenas o 53º mercado das exportações brasileiras em 2019.

Explorar as oportunidades existentes na economia australiana é um dos objetivos do webinar “B. Talks -- Exportações do Brasil e Comércio Bilateral com a Austrália", organizado pelo Australia Brazil Business Council e patrocinado pelo Consulado-Geral do Brasil em Sydney. O evento também faz parte das comemorações dos 75 das relações diplomáticas entre Brasil e Austrália.

Entre os participantes do webinar, que ocorre na quinta-feira, 6 de agosto, às 8h30 da manhã no horário da Costa do Pacífico da Austrália, está Joaquim Penna, conselheiro de carreira diplomática e que em Sydney tem o cargo de cônsul-geral adjunto do Brasil. Conversamos com ele, que também exerce a função de chefe do Setor de Promoção Comercial e de Investimentos (SECOM).
Penna estudou o comércio entre Brasil e Austrália nos últimos cinco anos e entende que há um enorme potencial a ser explorado pelo exportador brasileiro no exigente mercado do outro lado do mundo. 

“Um dos pontos principais deste webinar é tentar partir de um diagnóstico do comércio internacional entre Brasil e Austrália. Desde 2015, nossas exportações para a Austrália estão aí numa faixa de AU$ 400 milhões, chegando a AU$ 450 milhões em 2019. E a nossa opinião é de que isso está muito aquém do potencial da Austrália como mercado para as exportações brasileiras. Em 2019, a Austrália era apenas o 53º mercado das exportações brasileiras. Então nossa avaliação é que existe um grande potencial de exportações inexplorado.”

Segundo o conselheiro Joaquim Penna, é importante usar a inteligência comercial para atender as claras e exigentes regras específicas do mercado australiano.
“Tem regras muito claras e estritas, por exemplo, para biossegurança, fitossanitárias, e tudo isso é importante que o exportador esteja ciente e possa ter sucesso no mercado australiano. Por exemplo, um mercado que nós estudamos e está disponível no nosso website é o mercado de móveis. Um brasileiro que exporta móvel de madeira para a Austrália tem que ter cuidado para que a madeira siga todas as condições de segurança para evitar que sejam exportadas pragas para a Austrália. Há uma série de condições, de requerimentos para que o produto que contenha madeira esteja sendo produzindo e exportados de acordo com as condições sanitárias exigidas pela Austrália. Esse é um elemento muito importante que o exportador precisa estar ciente no momento que estuda suas exportações para a Austrália.”

Australianos buscarão novos fornecedores

A pandemia de COVID-19 evidentemente trouxe desafios extraordinários às exportações. Segundo dados da SECOM, nos primeiros seis meses de 2020, as exportações brasileiras para a Austrália caíram 13.3%. Já as exportações da Austrália para o Brasil caíram ainda mais, 42.6%. Porém, ao mesmo tempo, fortaleceu alguns setores exportadores do Brasil, como o de café, suco de laranja e farelo de soja. E a crise mundial vai gerar uma nova busca por fornecedores, o que pode ser positivo a médio e longo prazo, afirma Penna.  

“Outra questão importante, e entro na ideia de longo prazo, é a discussão do risco de dependência em apenas um ou poucos fornecedores, especialmente para produtos essenciais. A busca por proteção desse risco de dependência econômica excessiva de fornecedores estrangeiros por um lado por levar países a buscar maior autonomia produtiva, maior aumento da produção interna, o que é ruim para o comércio, mas por outro lado isso pode levar muitos países, e isso já se vê aqui na Austrália, a uma busca por outros fornecedores, por diversificação dos fornecedores externos. Isso pode ser muito positivo para o Brasil porque tem uma capacidade produtiva, uma base industrial e de serviços enorme, produz muita coisa internamente e com qualidade e pode aumentar sua participação no mercado australiano a partir desta busca por fornecedores por parte da Austrália.”  

Joaquim Penna também entende ser necessária uma mudança de mentalidade do exportador brasileiro a partir da crise, mirando mais não só o mercado exterior como os mercados alternativos. É aí que a Austrália pode entrar.
“Um desafio importante no Brasil é uma mudança na mentalidade do empresário brasileiro, para o qual a exportação muitas vezes é algo de prioridade baixa. Mesmo quando busca mercado, o exportador brasileiro tem uma tendência a concentrar-se nos países do Mercosul, Europa e Estados Unidos. Convencê-los de que há oportunidades em mercados menos óbvios, mas muito atraentes, como é o caso da Austrália. Em paralelo, mostrar que o Brasil vai muito além dos estereótipos, que tem uma economia altamente sofisticada, diversificada, e que isso oferece ao importador australiano um enorme leque de produtos e serviços de qualidade e que pode cumprir, atender a demanda daqui.” 

Há oportunidades para vestuário, calçados, alimentos e bebidas

Segundo os dados do SECOM, há uma série de demandas não óbvias do mercado australiano que podem ser exploradas pelo empresariado brasileiro.

“O principal produto brasileiro de exportação para a Austrália nos últimos cinco anos é uma categoria tarifária que inclui niveladores, rolos-compressores e bulldozers, ou seja, maquinário pesado utilizado em construção ou mineração. Este é um produto não tradicional e que teve uma demanda interessante e tende a aumentar. Nos últimos meses, o que se pode ver foi um aumento na demanda de café e suco de laranja, refletindo talvez o caráter inelástico da demanda por estes produtos. Ninguém deixou de consumir café ou suco de laranja na pandemia, talvez tenha até aumentado (...). Já outros produtos, como por exemplo, esses niveladores, podem ter entrado numa fila de espera até a economia se reativar para que a demanda volte ao normal. Então a recuperação da demanda por produtos vai depender muito da reativação da economia australiana, implementação de programas de estímulo do governo, como infra-estrutura, podem ser um elemento importante para esses produtos ligados à construção civil e grandes obras de engenharia pública. Mas também na análise foram encontrados um número muito relevante de produtos e segmentos que cresceram em 2020, como mel natural e tubos de ferro fundido, veículos de carga, como até produtos menos tradicionais, mas com grande potencial. Por exemplo, produtos ligados à moda, vestuário, calçados, e também alimentos e bebidas. Um caso de sucesso do Brasil nos últimos anos na Austrália é o açaí. É um produto que entrou na vida dos australianos e reflete também a importância do exportador brasileiro em analisar o mercado com a ajuda da Secom e da Apex, para entender o que o australiano quer, o que ele não quer, o que funciona e o que não funciona. Algumas vezes há um produto que dá muito certo no Brasil mas que aqui não tem demanda, por particularidades dos consumidores daqui. Outros, como o açaí, por exemplo, é um produto que não só dá certo no Brasil como tem um grande potencial aqui por conta da cultura de saúde e esporte que existe na Austrália. Então esse trabalho de pesquisa e análise de mercado e do consumidor é crucial para que, no momento em que a economia se reativar, essas particularidades sejam exploradas com sucesso.”

Entender a cultura de negócios australiana

Por último, Joaquim Penna lembra que a pesquisa bem feita de mercado e o entendimento da cultura de negócios da Austrália é fundamental para quem pretende exportar ao país.  

“O mais importante é fazer uma boa pesquisa sobre mercado, para segmentos e produtos que não só a demanda na Austrália seja crescente, como ele, empresário brasileiro, produza esse produto ou serviço com qualidade e preço competitivo. Em segundo lugar é importantíssimo que ele analise toda a cadeia logística no Brasil, desde sua produção até o consumidor na Austrália. É óbvio, a Austrália está distante do Brasil, e é muito importante que a questão logística seja equacionada para que se tenha certeza de que a margem de lucro seja conveniente para o empresário brasileiro e o produto dele consiga chegar aqui com preços competitivos e atender o mercado a médio e longo prazo. Por último, e isso é algo que nosso consulado pode ajudar, são as questões culturais. Como fazer negócio com o australiano, questões de pontualidade, de confiabilidade, às vezes pequenos ajustes nos negócios podem ser muito importantes para conquistar a confiança do importador e saber atender o mercado a longo prazo de maneira sustentável. “

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