Pepita de ouro com 21 quilos entre as peças do tesouro real português que passa a ter museu em Lisboa

Tesouro Real

Source: DR/Projecto para o Museu do Tesouro Real

Confira a crônica desta semana do correspondente da SBS, em Lisboa, Francisco Sena Santos.


O fabuloso tesouro real português vai ter um museu só para ele. A obra está em fase de conclusão no novo espaço da ala poente do Palácio da Ajuda.

Vai ser o espaço museográfico mais esplendoroso de Portugal. Reflexo do esplendor do que foi a corte portuguesa, as peças que compõem o tesouro real português são elementos fundamentais quando se trata de contar a história do país.

O Tesouro Real de Portugal guarda quase 900 peças, 142 jóias, 14.800 pedras, das quais 12 mil são diamantes, cravejadas em muito ouro e muita prata, onde sobressaltam ainda as esmeraldas, as safiras e os rubis.
São objetos de valor histórico e artístico incalculável.

O Tesouro Real foi utilizado pela corte portuguesa entre o século XVIII e o fim da monarquia, em 5 de outubro de 1910. Há peças anteriores, designadamente de finais do século XVI, como as 23 salvas de prata de aparato, que serviam as cerimónias reais.

E há muitas peças de ourivesaria, que também mostram o esplendor do reino no auge do seu período imperial em que o território continental português recebia a riqueza das colónias, em especial o Brasil e também África.


Há mais, muito mais, neste tesouro que neste 2021 passa a ficar exposto em um moderno museu como ala do Palácio Real, no topo da Ajuda, a 1000 metros do Mosteiro dos Jerónimos que tem quase ao lado o atual Palácio Presidencial, em Belém.

Notáveis, na coleção do Tesouro Real, as pratas douradas que abrilhantavam as cerimónias da corte, designadamente a célebre baixela de François Thomas Germain, o francês que foi um dos mais notáveis ourives do século XVIII, e ainda artefactos religioso.

Entre as peças mais excepcionais destas coleções variadas que hoje ainda estão guardadas num cofre de Estado fora do palácio e fora do olhar do público está uma caixa de rapé em ouro coberta de diamantes e esmeraldas que foi encomendada por D. José I a outro dos ourives de Luís XV, rei de França, o afamado Jean Ducrollay, nascido numa família já dedicada à arte de transformar o ouro e as pedras preciosas em verdadeiras obras de arte, hoje presentes no acervo de alguns dos museus mais importantes do mundo, como o Metropolitan de Nova Iorque.

O tesouro real português inclui a famosa pepita de ouro de 21 quilos, a maior do mundo ao que se conhece. Uma réplica vai estar à disposição dos visitantes para que toquem e sintam o material original. 

As pedras mais importantes da coleção são os diamantes, basta dizer que entre 80 a 90% delas são diamantes.

A grande laça de esmeraldas é uma peça extraordinária, enorme, as 31 esmeraldas têm uma grande dimensão, entre os quatro e os 17 quilates, e a do meio entre 40 a 50 quilates. É uma peça com 250 a 280 quilates de esmeraldas.

A segurança, como se imagina, é uma questão essencial neste novo espaço expositivo do tesouro real de Portugal. Tem como base uma caixa-forte, que tem 40 metros de comprimento, por dez de altura e dez de largura. Está localizada a meio do edifício novo no conjunto do Palácio da Ajuda e é lá que fica toda a exposição do tesouro.

É lá dentro da caixa-forte ou cofre-forte que olhamos para o espaço do museu.  Entramos e encontramos três pisos e outros tantos níveis expositivos circundados por uma rampa para pessoas com mobilidade reduzida.

A caixa-forte está aberta ao público durante o dia e é hermeticamente fechada ao fim do dia. Cada porta — há duas — pesa cinco toneladas, tem 40 centímetros de espessura, feita toda em aço. São portas de segurança máxima, de facto, portas de cofre.

O Tesouro Real fica exposto num palácio que foi residência dos reis de Portugal, o Palácio da Ajuda. É um palácio que foi construído no topo da colina mais ocidental de Lisboa, a da Ajuda, mesmo na desembocadura do Tejo, onde o grande rio se funde com o Oceano Atlântico.

A construção deste palácio foi decidida pelo rei D. José I, logo a seguir ao grande terramoto de Lisboa, em 1755. Até então, o Palácio Real estava mesmo à beira do rio, no lugar central de Lisboa conhecido como Terreiro do Paço.

O terramoto de 1755 foi acompanhado de maremoto que arrasou muito da baixa lisboeta. Daí o rei José I ter dado ordem ao seu chefe do governo, o Marquês de Pombal, para instalar a residência real num palácio a construir no lugar julgado geologicamente mais seguro de Lisboa.

Assim nasceu, em 1791, o Palácio da Ajuda, agora ampliado com a Ala Poente que passa a mostrar o espantoso Tesouro Real português.

A inauguração está prevista para meio do ano, possivelmente a 10 de junho, o Dia de Portugal.

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