Têm experiência de terreno, designadamente em cenários turbulentos na África Central, no âmbito de contingentes da ONU.
Antes ainda desta escalada de barbárie em Palma, no extremo nordeste de Moçambique, Portugal já tinha oferecido ajuda a Moçambique, quer no âmbito bilateral quer no quadro da União Europeia.
O ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, esteve em Moçambique precisamente a chefiar uma missão da União Europeia.
Sucede que o presidente Nyusi, de Moçambique, repete que têm de ser as tropas de Moçambique a resolver os problemas de segurança e defesa de Moçambique, exclui a presença de militares estrangeiros em cenário de confronto.
Portugal, até pela questão delicada de ter sido a potência colonial, não insistiu, apesar do reconhecimento de que as forças armadas moçambicanas não conseguem conter a escalada do terrorismo jiadista na provincia mais a norte de Moçambique, Cabo Delgado.
Os episódios bárbaros desta última semana na cidade de Palma são apenas, mais um passo na escalada.
As imagens que chegam da cidade moçambicana de Palma são escassas, mas os relatos não deixam dúvidas: milhares de pessoas, locais e estrangeiras, mergulharam em dias de pavor. Centenas de terroristas, com armas automáticas mas também catanas, tomaram de assalto a cidade que tinha umas 60 mil pessoas, violentaram a paupérrima população civil, roubaram e vandalizaram três agências bancárias, atacaram o hospital e aterrorizaram as centenas de estrangeiros que trabalham para as multinacionais que exploram os riquíssimos recursos energéticos da região.
Os locais de Palma tentaram fugir, juntando-se assim às outras 670 mil pessoas que nos últimos três anos se sentiram forçadas ao êxodo.
Os estrangeiros, que constataram como as forças de segurança contratadas pelas multinacionais são impotentes perante a brutalidade dos terroristas jiadistas, confrontaram-se com um dilema: barricarem-se no interior do hotel Amarula Palma onde tentaram abrigar-se ou ousar a fuga? As duas opções eram de alto risco. Alguns ousaram escapar pelo mar. Outros, conseguiram lugar num helicóptero das multinacionais mobilizado para a evacuação. Cerca de 150 juntaram-se num cortejo com 17 jipes e carrinhas e, enquadrados por seguranças privados, tomaram a estrada para Pemba, a cidade costeira capital da região. Dos 17 veículos só sete chegaram ao destino. Os outros dez ficaram apanhados por uma emboscada armada pelos terroristas.
Está ainda por contar o número de pessoas mortas nestes três dias de vandalismo. Há relato de ataques com extrema crueldade, com corpos decapitados.
Está relatado que esta barbárie dos terroristas que se aproveitam da ausência de força do Estado vai ao ponto de (testemunham os ativistas da Save the Children que ainda estão no terreno), decapitarem crianças diante da família, e isto porque resistiram à incorporação nesses bandos que praticam a selvajaria de grupos jiadistas.
Os terroristas (há que lhes chamar o que são, terroristas) pretendem captar os rapazes para combatentes e as meninas para exploração sexual e também tráfico.
Ao fim da tarde desta terça-feira, o exército moçambicano ainda não tinha recuperado o controlo da cidade de Palma, onde bolsas de comandos terroristas continuam a vandalizar, embora quase toda a população tenha fugido para a floresta.
Nesse êxodo há cortejos com centenas de pessoas que passaram 4 dias ou mais sem comida ou bebida, a não ser o que encontram na natureza.
Mas mesmo esses grupos em êxodo são apanhados por emboscadas dos terroristas.
Quem são esses terroristas? São réplicas dos bandoleiros que na viragem para este século puseram a pirataria a dominar a costa da Somália, então país sem Estado. São bandos armados inspirados no Daesh/”estado islâmico” e na experiência destes movimentos terroristas a cativar jovens revoltados em populações que se consideram desprezadas pelos poderes oficiais. As motivações destas criaturas que aterrorizam Cabo Delgado são variadas, passam pelo tráfico de heroína e marfim, o garimpo de rubis da fértil mina de Montepuez e culminam na escalada jiadista.
Em Cabo Delgado, o avanço das instalações ligadas à riquíssima e imensa exploração do gás fez disparar revolta entre os locais, com vida paupérrima e que se sentem espoliados, com a perda de terras, de acessos ao mar e, consequentemente, de alguns dos escassos meios de subsistência. Fica assim favorecida a revolta que leva alguns dos mais jovens a juntarem-se a estes bandos terroristas.
O problema de Cabo Delgado é crítico há já três anos. Agora, a comunidade internacional está a despertar para esta emergência.