Milhões de vacinas já foram aplicadas globalmente, mas a distribuição das vacinas está longe de ser igualitária.
Durante dois meses, o Centro de Inovação em Saúde Global da Universidade de Duke (GHIC), com sede nos Estados Unidos, acompanhou e publicou um artigo sobre a compra de vacinas em relação à localização geográfica do nível propagação do vírus e ao nível de renda dos países.
A pesquisa mostra que, das mais de sete bilhões de doses compradas em todo o mundo, mais de quatro bilhões foram adquiridas por países de alta renda, enquanto as nações de baixa renda garantiram apenas 270 milhões de doses.
A iniciativa global - conhecida como COVAX - que distribuirá vacinas gratuitas aos países mais pobres para cobrir 20 por cento de sua população - comprou pouco mais de um bilhão de doses.
Krishna Udayakumar, da Universidade de Duke, disse à SBS que os países ricos - que concentram cerca de 14 por cento da população mundial - garantiram mais da metade das vacinas mais promissoras.
"Todos os dados mostram que a distribuição equitativa de vacinas se alinha com os melhores resultados de uma perspectiva de saúde, econômica e humanitária, mas realmente vai contra o que muitos países estão começando a fazer e o que suas populações estão exigindo é tentar obter o máximo de vacinas para si mesmos o mais rápido possível”.
O Canadá encomendou a maioria das vacinas, 362 milhões de doses, em relação à sua população, o suficiente para vacinar cinco vezes cada canadense.A Nova Zelândia encomendou o suficiente para vacinar três vezes sua população, cerca de 18 milhões de doses, mas planeja dar doses gratuitas para as nações vizinhas das ilhas do Pacífico.
A doctor fills an injection syringe with COVID-19 vaccine. Source: Getty
Os EUA terão doses suficientes, cerca de 1 bilhão de doses, para vacinar sua população duas vezes.
A Austrália terá o suficiente, mais de 114 milhões de doses, para vacinar pelo menos quatro vezes cada cidadão.
Enquanto isso, a União Africana encomendou menos da metade, 670 milhões de doses, do que é necessário para alcançar a imunidade coletiva.
E os países latino-americanos - sem incluir o Brasil - só têm o suficiente para cobrir uma dose para menos da metade de sua população - 150 milhões de doses.
O pesquisador de saúde global Michael Head diz que o fato não é surpreendente.
"No momento, a demanda superou em muito a oferta. Por isso, em um cenário como esse, você geralmente encontrará os países mais poderosos e mais ricos chegando à frente da fila mais rapidamente para obter vacinas, enquanto em lugares como na África Subsaariana será necessária cooperações de vários países, o que provavelmente será limitada agora, particularmente porque a maioria desses países mais poderosos enfrentam grandes prejuízos por conta da COVID-19 ”.
Além disso, as vacinas não estão indo para países onde a taxa de infecção é mais alta.
Por exemplo - Japão, Austrália e Canadá reservaram 1 bilhão de doses, mas os três países combinados respondem por menos de 1% de todos os casos atuais de COVID-19.
Udayakumar diz que isso prolongará a duração da pandemia mais do que o necessário.
"Parece que os países de baixa e média renda vão esperar dois, três, quatro anos para alcançar a imunidade coletiva por meio da vacinação. Esperamos acelerar isso um pouco mais garantindo que haja mais compartilhamento de vacinas, mas também aumentando a fabricação”.
Ele prevê que o próximo teste de equidade global a surgir é a rapidez com que as nações mais ricas doarão as doses excedentes às nações mais pobres.
"A Noruega é o único país que se manifestou e disse que doará doses paralelamente à vacinação de suas próprias populações. A questão é se os outros países de alta renda estão dispostos a doar para garantir que os profissionais de saúde da linha de frente e as populações vulneráveis dos países de baixa e média renda realmente tenham acesso às vacinas antes que a população de baixo risco, como os jovens adultos saudáveis nos países desenvolvidos.”
Embora o nacionalismo da vacina pareça estar ganhando força em todo o mundo, Udayakumar diz que é do interesse de cada pessoa que o globalismo da vacina se torne a prioridade.
"O que já estamos começando a ver com as novas variantes é que elas podem ser menos suscetíveis às nossas vacinas atuais, então, na medida em que o vírus continua em qualquer lugar do mundo, ele realmente representa uma ameaça para todos nós, mesmo para aqueles que já foram vacinados. Nossa esperança é que, ao apontar isso de maneira rápida, possamos criar uma resposta global e coordenada efetiva.”
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