As perguntas sobre suas origens sempre acompanharam Adam Benz desde pequeno, perguntas cujas respostas só poderiam ser dadas por seus pais biológicos que estavam no Brasil. Uma jornada emocional difícil mas que Adam e a esposa decidiram percorrer.
Em março de 2021 o casal tentou a sorte no Facebook. A primeira mensagem foi postada no grupo SearchSquad, e chamou a atenção da especialista em genealogia Julia Fonseca de Moura. Com a ajuda de Julia, Adam conseguiu reencontrar a sua família brasileira, 35 anos depois do dia em que foi deixado no orfanato 'Pequeno Filho de Deus', em Recife.Nessa entrevista Adam Benz, ou Christiano Rufino dos Santos, fala do reencontro virtual com a família brasileira, que vive na pequena Remígio, na Paraíba, um dos estados com as piores taxas de desigualdade de renda do Brasil.
Adam em sua primeira chamada de vídeo com a família brasileira: "Estava em choque" Source: Supplied
Adam quer ir à Paraíba o mais rápido possível, assim que as fronteiras do estado da Austrália Ocidental, onde vive, reabrirem. A Austrália Ocidental é o único estado australiano que ainda mantém as fronteiras internacionais e interestaduais fechadas por causa da Covid-19.
"Assim que reabrirem as fronteiras e eu aprender o português, eu vou," diz.
A seguir os principais trechos do nosso barte-papo. Para ouvir a entrevista completa clique na foto que abre essa reportagem.
SBS em Português - Quando você decidiu procurar seus pais biológicos e porquê?
Adam - Sinceramente, desde que eu estava no ensino médio, sempre quis saber dos meus pais biológicos. Nunca tive sorte, até o ano passado [2021].
Adam - Sinceramente, desde que eu estava no ensino médio, sempre quis saber dos meus pais biológicos. Nunca tive sorte, até o ano passado [2021].
Sempre senti que faltava algo dentro de mim. Como se um pedacinho de mim não estivesse dentro de mim, mas em outro lugar. É como um pedacinho da minha alma. Como se meu coração estivesse sido levado e guardado pela minha família no Brasil. E por isso sempre tive um espaço vazio dentro de mim, e no fundo sabia que precisaria encontrá-los para resolver como me sentia. Eu sofria porque não sabia quem era minha família.
Aqui em Perth tem brasileiro por tudo quanto é lugar, isso me motivou a agir e saber mais sobre minhas raízes brasileiras, e também a quere aprender porrtuguês. No Estados Unidos nunca tive muito contato com a cultura brasileira, mas os brasileiros daqui de Perth me motivaram a ir atrás dos meus pais e resgatar minha cultura.
Recorte de jornal com foto de Adam, seu irmão também adotado e o pai adotivo Steve Benz Source: Supplied
SBS em Português - Onde você nasceu?
Adam Benz - Nasci em João Pessoa, Paraíba, e depois fui levado para o orfanato 'Pequeno Filho de Deus' no Recife para ser adotado, acredito que esse orfanato não existe mais. Mas a minha família biológica é de Remígio, uma cidade de 20 mil habitantes.
Adam Benz - Nasci em João Pessoa, Paraíba, e depois fui levado para o orfanato 'Pequeno Filho de Deus' no Recife para ser adotado, acredito que esse orfanato não existe mais. Mas a minha família biológica é de Remígio, uma cidade de 20 mil habitantes.
SBS em Português - Por que você se mudou para a Austrália?
Adam - Mudei-me para Perth quando tinha 26-27 anos para fazer doutorado. Sou coach e fisiologista do exercício em uma clínica de fisioterapia aqui em Perth. Tenho quatro diplomas. Dois diplomas dos Estados Unidos em cinesiologia e psicologia, um mestrado no Canadá em Coaching e um doutorado na Austrália em Ciências do Esporte e Exercício.SBS em Português - Quando você foi levado para o orfanato em Recife e colocado para adoção?
Adam - Fui colocado para adoção logo depois que nasci. Eu só tive alguns dias com minha mãe biológica antes que ela me desse para adoção. Ela me disse que me levou para o orfanato porque a patroa dela disse que não ia ficar com ela se ela tivesse comigo.SBS em Português - Como foi crescer nos Estados Unidos, um jovem negro adotado por uma família classe média americana?
Adam - Mudei-me para Perth quando tinha 26-27 anos para fazer doutorado. Sou coach e fisiologista do exercício em uma clínica de fisioterapia aqui em Perth. Tenho quatro diplomas. Dois diplomas dos Estados Unidos em cinesiologia e psicologia, um mestrado no Canadá em Coaching e um doutorado na Austrália em Ciências do Esporte e Exercício.
Adam e seus pais biológicos: "Sempre quis conhecê-los e saber mais das minhas raízes brasileiras." Source: Supplied
Adam - Fui colocado para adoção logo depois que nasci. Eu só tive alguns dias com minha mãe biológica antes que ela me desse para adoção. Ela me disse que me levou para o orfanato porque a patroa dela disse que não ia ficar com ela se ela tivesse comigo.
"Minha mãe sempre me incentivou a explorar minhas raízes brasileiras," recorda Adam. Source: Supplied
Adam - Emocionalmente foi difícil e solitário, cresci em bairros brancos e frequentei escolas brancas, então experimentei bastante racismo quando jovem sendo a única (ou uma das únicas) pessoas de cor nessas escolas.
Sempre me senti deslocado ao crescer porque nunca fui realmente exposto a outras pessoas que se pareciam comigo ou que tinham herança e cultura brasileiras.
SBS em Português - Como você encontrou seus pais biológicos em Remígio, na Paraíba?
Adam - Minha esposa postou minha história no grupo do Facebook. A história ganhou bastante atenção e, eventualmente, uma mulher chamada Julia Fonseca de Moura, especialista em genalogia, nos procurou e se ofereceu para ajudar. Ficamos hesitantes quando ela nos pediu para enviar todos os meus registros de nascimento, papéis de adoção, etc. mas acabamos enviando. Demorou menos de uma semana para Julia rastrear minha família."Meus pais adotivos me falaram sobre minhas origens desde muito cedo. Me lembro ainda criança, e minha mãe adotiva conversando comigo explicando de onde eu vim. Sempre foram muito abertos, especialmente minha mãe."
Adam - Minha esposa postou minha história no grupo do Facebook. A história ganhou bastante atenção e, eventualmente, uma mulher chamada Julia Fonseca de Moura, especialista em genalogia, nos procurou e se ofereceu para ajudar. Ficamos hesitantes quando ela nos pediu para enviar todos os meus registros de nascimento, papéis de adoção, etc. mas acabamos enviando. Demorou menos de uma semana para Julia rastrear minha família.
O primeiro post no grupo Search Squad do Facebook: depois de encontrar seus pais biológicos Adam descobriu que não foi deixado em uma caixa de sapatos à beira da estrada, como sempre acreditou. Sua mãe o levou para um orfanato pois não tinha condições de criá-lo. Source: Supplied
A mãe biológica, Raimunda dos Santos, vive até hoje na cidade de Remígio. Source: Facebook, Supplied
Então eu acordei uma manhã em março de 2021, com Julia dizendo que havia rastreado minha mãe e meu pai e que eles estavam prontos naquela manhã para entrar em um bate-papo por vídeo comigo! Não só isso, Julia também me avisou que eu tenho CINCO irmãs!!! Então eu fui para a cama tendo a mãe e o pai que me criaram por toda a minha vida, e acordei tendo não só eles, mas meus pais biológicos mais cinco irmãs e toda a minha família também. Dizer que fiquei chocado seria um eufemismo.SBS em Português - Como foi conhecer seus pais biológicos e as cinco irmãs de uma só vez?
Lagoa no centro da pequena cidade de Remígio, na Paraíba, onde grande parte da família de Adam vive hoje. Source: Lagoa no centro da cidade de Remígio, Brasil.
Adam - Toda a conversa foi surreal. Fiquei tão impressionado que não reagi emocionalmente. Eu estava tão chocado que isso estava acontecendo. Meus pais e irmãs estavam tão animados para me ver. Ficamos fazendo perguntas uns aos outros sobre nossas vidas. Eventualmente, tive que interromper a ligação porque ainda precisava ir trabalhar naquela manhã. Mas uau, que experiência foi essa.
Hoje nos falamos todos os dias.SBS em Português - Agora você quer aprender português para se comunicar com a família?
Adam - Quero aprender português por duas razões. Uma é poder me conectar com minha família brasileira. A segunda é me conectar às minhas raízes e heranças brasileiras. Eu ignorei isso por muito tempo. Agora é hora de aprender mais sobre de onde vim e como isso me transformou na pessoa que sou hoje.
Adam e a esposa Siham vivem em Perth com as duas filhas: "Depois do meu doutorado resolvi ficar na Austrália e me casar com a Siham" Source: Facebook, Supplied
Adam - Quero aprender português por duas razões. Uma é poder me conectar com minha família brasileira. A segunda é me conectar às minhas raízes e heranças brasileiras. Eu ignorei isso por muito tempo. Agora é hora de aprender mais sobre de onde vim e como isso me transformou na pessoa que sou hoje.
SBS em Português - Descobrir suas raízes - isso ajudou a definir quem você é? Sua identidade?
Adam - Ainda não voltei ao Brasil desde que fui adotado, mas agora tenho um forte propósito de visitar o Brasil. Quem eu sou como pessoa não importa o local físico onde nasci ou a cultura em que cresci. Sou um homem bom, com um grande coração que quer crescer, contribuir para o mundo de forma significativa com propósito e amar e ser amado. É isso.Siga a no , e e ouça
Adam - Ainda não voltei ao Brasil desde que fui adotado, mas agora tenho um forte propósito de visitar o Brasil. Quem eu sou como pessoa não importa o local físico onde nasci ou a cultura em que cresci. Sou um homem bom, com um grande coração que quer crescer, contribuir para o mundo de forma significativa com propósito e amar e ser amado. É isso.
Remigío fica cerca de 100km a oeste de João Pessoa e 150 km a nordeste de Recife. População de 20 mil pessoas. Source: Prefeitura Municipal de Remígio
O post de Adam no grupo Brasileiros em Perth, do Facebook, pedindo ajuda para aprender a língua portuguesa Source: Supplied