O Centro de Investigação em Saúde de Manhiça foi criado há 25 anos – está baseado a cerca de 50km para norte da capital moçambicana.
É uma vanguarda da investigação sobre ciência da saúde na África – com foco em doenças transmissíveis que têm sido flagelo em Moçambique e em vastas regiões da África.
Um primeiro alvo está hoje dominado – a SIDA que no final do século 20 crescia de modo galopante designadamente em Moçambique e na vizinha África do Sul – o combate à SIDA está vitorioso, a mortalidade foi reduzida de modo radical com o vírus HIV a passar a remeter para doença crónica – que é tratada.
A tuberculose é outro foco da missão científica do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça – mas o alvo principal é – a malária.
Só no ano 2019 – 230 milhões de pessoas sofreram com a picada do mosquito – e contraíram a malária ou paludismo. Sempre a sul do Equador – em África, na América do Sul e no sub-continente indiano.
A malária existe há séculos e é uma doença resultante da picada do mosquito anófeles, prevalecente no hemisfério sul.
A malária é uma feroz doença da desigualdade, é maleita do mundo pobre - e é reconhecida pela OMS como causa de morte em cada ano de mais de quatrocentas mil pessoas, 250 mil são crianças pequenas – com menos de 5 anos, muitos bebés.
A maior parte destes casos, 8 em cada 10, ocorre na África sub-sahariana. Moçambique é um dos países muito flagelados – o que tem sido motivação maior para o Centro de Investigação em Saude da Manhiça – avançar na investigação.
A ciência tem sido impotente frente à malária.
Nunca houve um esforço global – como com a procura da vacina contra a covid.
Mas, nem se pode falar em escassez de fundos para a investigação - nem de desinteresse dos laboratórios farmacêuticos. Há equipas de cientistas que se têm aproximado da vacina – são célebres os progressos do colombiano Patarroyo, tal como são reconhecidos pelo mundo os esforços e avanços da equipa da portuguesa Maria Manuel Mota.
Mas, agora é a partir do Centro de Investigação da Manhiça em Moçambique que é conseguido o reconhecimento pela OMS de uma vacina que é recomendada contra a malária.
É assumido que esta vacina tem eficácia limitada – estima-se que reduza em 30 a 50% o desenvolvimento de formas graves de malária.
Não é ainda a erradicação da malária – mas muitas vidas infantis vão ser salvas com uma combinação desenvolvida no Centro de Manhiça.
É a imunização RTS-S Mosquirix – foi testada em 800 mil crianças no Quénia, no Malawi e no Gana – e perante os resultados a OMS - cujo diretor geral, Thedros Gebreyesus começou a vida científica como investigador sobre a malária – agora recomenda que o uso desta vacina passe a ser generalizado para as crianças até um ano e meio de idade na África subsariana e outras regiões do mundo onde haja transmissão moderada a elevada do parasita Plasmodium falciparum – que é o mais comum em África.
Nos ensaios clínicos, a vacina teve uma eficácia perto dos 50% contra formas graves de malária no primeiro ano, mas caiu a partir daí. Mas, a recomendação da OMS baseia-se na capacidade de evitar o risco de morte, associado à malária grave.
É devido reconhecer que eficácia a 50% - já é um avanço valente contra uma doença que traz tanto sofrimento e mata tanta gente. Mesmo que fosse eficácia mais baixa já era relevante.
Está conseguido um avanço contra a doença parasitária mais grave pelo mundo. Não é ainda a vacina perfeita, mas é um extraordinário progresso.