Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da República reeleito em Portugal (recebeu 60% dos votos nas eleições em 24 de janeiro), acaba de tomar posse perante o parlamento português e escolheu para primeiro gesto após a cerimónia e discurso de posse um encontro com representantes de todas as comunidades religiosas presentes em Portugal. Com este encontro o presidente Marcelo quis significar um objetivo da sua presidência: o ecumenismo e a harmonia na convivência coletiva.
No discurso de posse, Marcelo apontou cinco desígnios para os cinco anos de mandato.
O primeiro é o de aprofundar a vivência em democracia e assegurar "uma melhor democracia". Com "tolerância", "respeito por todos", para além do género, credo, cor da pele ou convicções" - fica assim uma indireta para a direita radical - e sem cedências a "mitos de portugueses puros", referência explicita à intolerância de práticas racistas. Marcelo enfatizou que é preciso melhor democracia, em que “a realidade não seja esvaziada” pela pobreza ou pela corrupção. “Queremos uma democracia que seja ética republicana”.
A segunda missão é a continuação do combate à pandemia e aqui Marcelo insistiu ser necessário mais testes, vacinas, e "sensatez" a desconfinar. Depois de se ter assumido como "supremo responsável" pelo que correu melhor e pior, Marcelo Rebelo de Sousa considerou "justa a indignação dos mais sacrificados" mas também "parcialmente injusta a crítica por tudo o que não se antecipou". "Nuns casos era possível, noutros não", afirmou. Fica a meia culpa.
A terceira missão neste mandato é encabeçada por uma frase: “Teremos de reconstruir a vida das pessoas, que é tudo ou quase tudo.”
Esta missão cobre o ano de 2021 e os anos que se seguem. O Presidente aponta para uma missão exigente, “que é tudo ou quase tudo”. Emprego, rendimento, empresas, mas também saúde mental, laços sociais, vivências e sonhos. “É mais, muito mais do que recuperar, ou seja, regressar a 2019 ou a Fevereiro de 2020”, disse, sinalizando ao Governo que as ajudas serão para continuar. Para isso, Marcelo pede que se mantenham e se aperfeiçoem as medidas para a sobrevivência imediata do tecido social e económico. “Como queremos usar os fundos europeus com clareza estratégica. Boa gestão, transparência e eficácia”, alertou.
A quarta missão ou objetivo parte de um aviso: “Reconstruir a vida das pessoas sem corrigir as desigualdades é reconstruir menos para todos.”
O Presidente explica que a coesão social é a quarta missão que terá no segundo mandato, lembrando que a pandemia fez saltar a “existência de vários portugais cada vez mais distantes entre si”. Marcelo diz que é preciso mais crescimento, exportações e investimento, mas que “queremos mais do que isso”. “Reconstruir a vida das pessoas sem economia a crescer é impossível. Mas reconstruí-la só com a economia sem corrigir as desigualdades existentes, é reconstruir menos para todos porque sobretudo para alguns privilegiados”, afirma.
Finalmente, quinto grande objetivo para os próximos cinco anos, a cooperação externa: aprofundar a vocação portuguesa para a plataforma entre culturas, civilizações, oceanos e continentes, o que se traduz em fraternidade lusófona, integração europeia e relacionamento transatlântico, alguns dos exemplos do que Marcelo resumiu como “mais solidariedade”.
Nesse sentido lançou o apoio à reeleição do português António Guterres como secretário-geral das Nações Unidas.
A primeira viagem do reeleito presidente Marcelo é, conforme a tradição, ainda esta semana, à vizinha Espanha, e também ao Vaticano para encontro no sábado com o Papa.