Há grande alvoroço no setor do turismo em Portugal, sobretudo no Algarve, e muitos turistas britânicos juntam-se ao protesto por uma decisão do governo de Londres que consideram injustificada.
O Reino Unido anunciou nesta quinta-feira que iria retirar Portugal da “lista verde” de viagens, aquela que permite viajar sem necessidade de quarentena. Portugal era o único país europeu com corredor verde para os britânicos.
Agora, o governo britânico voltou atrás, volta a impor quarentena por 10 dias a quem regressar de Portugal.
Entre os motivos apontados na justificação dada pelo ministro dos Transportes britânico, Grant Shapps, está a existência de casos em Portugal de uma “espécie de uma mutação do Nepal da chamada variante indiana”.
Ora, de que mutação genética estamos a falar?
A mutação em causa é a K417N. Nos vírus em que está presente, situa-se na proteína da espícula, que é responsável pela entrada do SARS-CoV-2 nas células humanas.
Atualmente, foram detectados cerca de 90 casos da variante Delta com esta mutação no mundo e 12 deles em Portugal. No Reino Unido já foram identificados 40 casos e no Japão 14.
Os especialistas reagiram com surpresa à decisão alarmista e à justificação dada pelo Reino Unido.
O microbiologista João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa), referiu que tinha apenas uma palavra para comentar essa decisão: “Estranheza”.
No Twitter, Jeffrey Barrett, diretor da Iniciativa Genómica da Covid-19 no Instituto Wellcome Sanger, no Reino Unido, escreveu que “uma variante altamente transmissível (estão a chamar-lhe variante Delta) com esta mutação pode ser mais problemática e, por isso, os cientistas estão a observar mesmo essas sequências em todo o mundo com atenção”.
“Não é, contudo", acrescentou o cientista britânico, "algo com que as pessoas no geral devam estar preocupadas por agora.”
Comentário subscrito por vários cientistas portugueses: Quando estamos a falar de qualquer alteração temos de ser sempre prudentes, mas com a informação que temos não é expectável que [a Delta com a mutação] venha a dar mais problemas do que qualquer uma daquelas variantes que nos têm preocupado até agora.
A notícia do governo britânico atirar, de novo, Portugal para a lista dos destinos de risco provocou uma “queda a pique” no turismo algarvio.
Nas últimas duas semanas, chegaram ao aeroporto de Faro, no Algarve, mais de 100 mil britânicos, em viagens de férias. Os fluxos turísticos estavam em forte alta e operadores low cost como a Ryanair e a Easy Jet tinham programado 500 voos suplementares neste mês de junho entre cidades do Reino Unido e o Algarve.
Muitos turistas britânicos, apesar do anúncio de que se regressarem a partir de terça-feira ficam obrigados a quarentena de 10 dias, estão a declarar que não se importam, para já, não querem é estragar as férias - a praia está sedutora e o preço de petiscos está ainda mais barato.