Livro de escritor australiano alerta para os perigos da falta de diálogo em tempos de guerra

World War 1

Primeira Guerra Mundial: quatro anos de devastação, mais de 20 milhões de mortos entre militares e civis Source: Fortepan/Saly Noémi/Wikimedia

Christopher Clark é o autor de um estudo reconhecido como extraordinário contributo consistente para entendermos como uma sucessão de erros nas relações internacionais levou à 1ª Grande Guerra Mundial.


O livro Sleepwalkers, do australiano Christopher Clark, que nos alerta para os perigos da falta de diálogo em cenário de guerra.

Nasceu na Austrália e hoje aos 62 anos cavaleiro de sua majestade a rainha, portanto – sir – Christopher Clark, é investigador e regente da cadeira de história moderna na mais distinguida das universidades de Cambridge.

Ele tem na Prússia – e nas origens da Primeira Grande Guerra – um foco principal da vida de investigador. É o autor de um estudo reconhecido como extraordinário contributo consistente  – para entendermos como uma sucessão de erros  nas relações internacionais levou à 1ª Grande Guerra Mundial.

Quatro anos de devastação 1914/1918, um monstruoso matadouro de vidas. Mais de 20 milhões de mortos entre militares e civis.

Havia entre os líderes das potências a noção de que o mundo de então estava à beira do desastre total – mas faltou a todos determinação na procura de entendimento e tudo colapsou – até mesmo quatro impérios antes dominantes – caíram.

O austro-húngaro, o da Prússia-Alemanha, o russo e o otomano. Christopher Clark consultou e estudou milhares de documentos em arquivos de uma dezena de países – e conta o que apurou nas 700 páginas em que consegue explicar-nos – às vezes como se estivéssemos a ler Agatha Christie e sempre com máxima exigência documental – aquela descida aos infernos.

O título Sleepwakers – os sonâmbnulos na tradução para português – introduz-nos na realidade.

Estamos habituados a facilitar o episódio de 28 de junho de 1914 em Sarajevo como detonador da grande guerra.

Naquele domingo, o arquiduque francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, e a mulher, Sofia, chegaram de comboio a Sarajevo. Vinham de 3 dias nas termas. Da gare, seguiram de automóvel para o edifício sede do município, quiseram passar por um mercado que ficava no percurso, olharam, a seguir, hesitação do motorista num cruzamento – e ali apareceu um jovem independentista sérvio, chamado Gavrilo Princip, que conseguiu chegar-se a 2 metros da janela do carro do casal imperial, disparou sobre Sofia que morreu logo ali, Francisco Ferdinando horas depois.

Este fatal atentado de Sarajevo está mil vezes contado e apontado como origem da 1ª grande guerra planetária – de facto será causa próxima – mas o que Christopher Clark nos explica é como – o mundo de então estava precipitado em escalada de rivalidades e fanatismos nacionalistas – de modo que uma chispa fez atear um fogo calamitoso.

O título deste livro ‘sonâmbulos’ remete para a perceção – errada – que cada parte – imperador – rei – general –  ministro ou diplomata tinha sobre as intenções e capacidade do adversário.

Christopher Clark explica que a Europa era então um vulcão político à espera que um qualquer abalo a fizesse entrar em erupção

É assim que bastaram 37 dias para o assassinato de Sarajevo ter sequência com a guerra mundial – os lideres em Viena e Berlim, em São Petersburgo e em Belgrado, em Paris e em Londres – pareciam ‘sonâmbulos’ – surdos e cegos – perante as manobras, intrigas e muitas falsificações nos bastidores.

O relato detalhado de Clark é fascinante. Este livro foi publicado há 10 anos e continua a ser uma referência gora.

Clark acrescenta um alerta; a grande lição da catástrofe de 1914 – é o ensinamento de como tudo pode tornar-se calamidade imparável quando as pessoas deixam de falar e quando perdem a capacidade para negociar o que implica perceber a necessidade de mutuas concessões.

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