Um dos alunos do curso de defesa pessoal para a comunidade LGBTQIA+ é o brasileiro Eduardo Santos, que mora há mais de 17 anos na Austrália.
Segundo Eduardo, aprender defesa pessoal é muito importante, especialmente na comunidade LGBTQIA +, que ainda é alvo de violência por conta da homofobia.
“O ideal seria nunca precisar usar este tipo de conhecimento, mas saber o que fazer dá uma sensação de segurança, já que estaremos mais preparados caso isso
aconteça contra nós ou contra alguém que esteja ao nosso lado", contou Eduardo.
Com um curso de defesa pessoal eu estou preparado para me defender e também a defender quem eu amo.Eduardo Santos
O brasileiro Marcelo Andrade também faz as aulas de defesa pessoal oferecidas pela academia de Sydney. Ele conta que queria se aventurar em um novo esporte e, ao mesmo tempo, superar o medo de estar em uma academia de luta.
Brasileiros, Marcelo e Eduardo durante treinamento de defesa pessoal.
Marcelo conta que se surpreendeu positivamente com as aulas.
“Ao chegar na academia, eu achei muito interessante ver o assunto de violência sendo discutido não somente como uma história triste, mas principalmente como elemento para se pensar em como reagir e escapar deste tipo de situação”.
Eduardo conta que nunca chegou a sofrer violência física no Brasil, mas na Austrália, a situação, infelizmente, foi diferente.
"Na saída de uma festa eu fui abordado por um grupo de pessoas que estavam dando socos e outras agressões físicas contra um grupo de pessoas de maneira aleatória.
Eu, por sorte, consegui me defender e saí daquela situação apenas com um olho roxo. Nossa sorte é que um outro grupo interveio, pararam um táxi e conseguimos sair dali rapidamente sem maiores consequências”, conta Eduardo.
Este tipo de situação acaba nos deixando traumatizados, pois todo mundo pode ser alvo de violência, mas a comunidade gay ainda sofre isso em dobro.Eduardo Santos
Curso de defesa pessoal para a comunidade LGBTQIA+
Penny Gulliver, dona da academia, começou a dar workshops de defesa pessoal há mais de 30 anos para a comunidade LGBTQIA+, mas somente no ano de 2000 é
que decidiu abrir a sua própria academia, a GLMA Martial Arts, localizada em Sydney.
Ela decidiu começar a oferecer aulas de defesa pessoal para a comunidade LGBTQIA+ depois de testemunhar a repercussão do assassinato de um homem gay na década de 90 em Bondi. Segundo Penny, ele foi atirado de cima de um penhasco por um grupo de outros homens, pelo simples fato de ser gay, e isso a deixou muito chocada.
Penny diz que não importe onde more, aulas de defesa pessoal podem ser encontradas em muitos lugares.
“Se está pensando em fazer aulas de defesa pessoal, não importa o estado ou cidade em que esteja, procure por uma academia perto de você - especialmente aquelas que são direcionadas para comunidade LGBTQIA+. Você vai descobrir um poder inimaginável dentro de você e também uma nova família”.
Para Marcelo, muito mais do que defesa pessoal, é uma forma de empoderamento.
Embora as academias possam nos deixar em forma, o kickboxing representa empoderamento. Não se trata apenas de aprender como dar um soco ou acertar um chute perfeito.Marcelo Andrade
“As aulas de defesa pessoal representam um recurso inestimável para qualquer indivíduo da comunidade LGBTQIA+. Isso nos faz estarmos preparados, tanto física
quanto psicologicamente, para tudo. Desde a discriminação, o assédio e até mesmo um embate físico”, diz Marcelo.
Dados da homofobia pelo mundo
De acordo com um pelo Australian Human Rights Commission, quase 75% da comunidade LGBTQIA+ na Australia já sofreu algum tipo de bullying, assédio ou violência com base em sua orientação sexual.
Um outro estudo, também publicado pelo AHRC, diz que mais de 80% dos casais que vivem relacionamentos homoafetivos, com pessoas do mesmo sexo, já sofreram insultos em público. Deste mesmo grupo, 13% sofreu agressão física.
LGBTQIA+ em Nova Gales do Sul
Até 1984, exatamente 40 anos atrás, era crime ser gay em Nova Gales do Sul, e a pena era de prisão.
Agora, em 2024, o governador de Nova Gales do Sul, Chris Minns, fez um pedido oficial de desculpas para a comunidade LGBTQIA+ por ter criminalizado a homossexualidade no passado - este pedido de desculpas será oficializado no parlamento.
Governador de Nova Gales do Sul, Chris Minns. Source: AAP / Dan Himbrechts
O pedido de desculpas foi publicado poucos meses depois de um inquérito oficial ser publicado, revelando que entre 1970 até 2010, entre 32 homicídios praticados em Nova Gales do Sul, 25 foram contra comunidade LGBTQIA+ e nenhum dos criminosos foi preso.
O inquérito concluiu que a Polícia de NSW falhou na sua responsabilidade de investigar adequadamente esses crimes contra a comunidade LGBTQIA+.
O mesmo inquérito recomenda que haja uma revisão de práticas, procedimentos e recursos utilizados pela polícia de Nova Gales do Sul a partir de agora em relação aos crimes praticados contra a comunidade LGBTQIA+.
A descriminalização da homossexualidade na Austrália
O primeiro estado australiano a descriminalizar a homossexualidade foi a Austrália do Sul, em 1972, após o brutal assassinato de Dr. George Ian Duncan - um homem
gay de 41 anos que era professor de direito na universidade de Adelaide. Ele morreu afogado após ser atirado no rio Torrens pelos seus agressores.
Os assassinos do Dr. George Ian Duncan nunca foram presos, mas o crime serviu para que houvesse mudanças nas leis australianas - até então, ser gay era considerado crime e resultava em cadeia em todo o país.
Em 1980 foi a vez do estado de Victoria descriminalizar a homossexualidade, seguido do Território Norte em 1983 e da Austrália Ocidental em 1989. Queensland foi o penúltimo estado em 1990.
O último estado australiano a descriminalizar a homossexualidade foi a Tasmânia, em 1997, vinte e sete anos atrás.
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*Artigo online Jason M.
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