Apesar do número ínfimo de episódios de coágulos, Portugal suspende vacina Astra Zeneca

AstraZeneca

Source: Getty images

O número de casos de coágulo cerebral é ínfimo mas leva Portugal e outros países à decisão política de suspensão preventiva da vacina Astra Zeneca.


Apesar de a OMS recomendar que não haja qualquer interrupção, Portugal juntou-se à Alemanha, França, Espanha, Países Baixos, Dinamarca, Noruega, Suécia e Chipre no grupo de países europeus que no mesmo dia suspenderam até haver certezas de segurança total, a campanha de imunização contra a covid-19 com a vacina da Astra-Zeneca.

É uma suspensão preventiva.

Em causa a suspeita levantada por casos de formação de vários tipos de trombos venosos cerebrais (coágulos sanguíneos na cabeça), com alguns casos de morte.

Em Portugal foram detetados dois casos, mas logo identificados e tratados. Esses dois doentes estão a recuperar.

O comité de fármaco-vigilância da Agência Europeia do Medicamento (EMA) está a tratar de perceber se há de facto alguma relação causal entre a vacinação e a formação de coágulos – ou se tudo não passa de uma coincidência temporal.

As agências internacionais ligadas à saúde insistem que os benefícios da vacina superam os riscos, mas vários governos, entre os quais o português  impuseram a decisão política: perante a acumulação de casos, ainda que a percentagem seja ínfima, mas tão concretos e idênticos desta trombose, é entendido que deve haver uma suspensão para avaliação adicional que possa trazer certezas confiáveis.

Prevalece a noção de que havendo dúvidas, há que as esclarecer, designadamente uma possibilidade que está a ser investigada: haver algum defeito não na base da vacina mas no processo de fabrico de alguns dos lotes.

É sabido que a produção das vacinas e dos medicamentos em geral é complexa e exige condições muito complexas, de estabilidade, designadamente de pureza dos componentes. Uma das hipóteses que está a ser avaliada é se pode ter entrado no circuito algum componente estranho, ou se a pureza de algum dos componentes pode ter sido comprometida num dos lotes.

Em Itália, o país onde a Astra-Zeneca tem fábricas que finalizam a vacina contra a covid-19, a justiça meteu-se na apuração dos factos. Procuradores do Piemonte mandaram apreender nesta segunda-feira as 393.600 doses de um dos lotes com intenção de apurar se há motivo para suspeita. É o lote de onde saíram as vacinas aplicadas a três pessoas que morreram no fim de semana, em Itália, com trombos cerebrais, poucos dias depois de terem sido vacinados e todas com um quadro considerado raro de número baixo de plaquetas no sangue.

Até agora, já foram administradas em todo o mundo cerca de 17 milhões de doses da vacina da Astra-Zeneca.

Desses 17 milhões, 5 milhões foram distribuídos na união Europeia, onde ocorreram os cerca de 40 casos de tombos cerebrais, alguns fatais.

Dado esses 17 milhões de doses administradas até agora, há alta probabilidade de estas dezenas de episódios fatais não serem causados pela vacina e sejam apenas acontecimentos associados de forma aleatória. Mas há que ter certezas, daí a suspensão da vacinação Astra-Zeneca.

Estamos perante um tema envolvido por gigantesca dimensão psicológica de emergência.

É sabido que, ao ser suscitada a dúvida, fica gerada uma desconfiança entre os cidadãos. Há notícia de pessoas que já foram vacinadas com esta vacina Astra-Zeneca que estão a acorrer a hospitais e centros de saúde com reações de angústia, medo que alguma coisa lhes aconteça. Os médicos tentam desdramatizar, mas a questão está instalada.

Neste momento, enquanto os peritos avaliam se a vacina Astra-Zeneca pode ter alguma ligação às dezenas de casos de trombo cerebral em pessoas vacinadas, está em curso a mobilização geral para evitar uma outra epidemia: a do pânico.

Em Portugal, com esta suspensão da administração da vacina da AstraZeneca, o plano de vacinação vai atrasar-se "cerca de duas semanas". A vacinação de docentes e outros funcionários nas escolas, prevista para este fim de semana, foi interrompida temporariamente. Até ao começo desta semana já foram administradas em Portugal um milhão e 200 mil doses da vacina contra a covid-19


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