Em Março, o embaixador brasileiro, George Prata, um dos coordenadores das comemorações do bicentenário da independência do Brasil, formalizou o pedido dirigido às entidades guardiãs do coração, a Irmandade de Nossa Senhora da Lapa e o município da cidade do Porto, para que a relíquia pudesse.
A deliberação estava dependente de uma perícia levada a cabo no dia 31 de Maio, ao longo de mais de cinco horas, por uma equipa de peritos da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, coordenada pelo Instituto de Medicina Legal. “O relatório de perícia ainda não está totalmente concluído, mas já foi assegurado que o coração de D. Pedro IV poderá ser trasladado temporariamente para o Brasil”, acaba de assegurar Rui Moreira, presidente do município do Porto.
Tornou-se tradição, sempre que vinha ao Porto uma alta patente brasileira ou o presidente do Brasil, ia em cerimonial ao lugar da relíquia.
Um dia antes de morrer, em 24 de Setembro de 1834, em D. Pedro IV de Portugal, D. Pedro I do Brasil, fez questão de indicar que queria o corpo sepultado no Brasil mas o seu coração fosse entregue à cidade do Porto, como agradecimento pelo empenho dos seus cidadãos.
Pedro é assim o único chefe de Estado no mundo cujos restos mortais se dividem, por sua vontade, entre dois continentes.
D. Pedro ofereceu o coração ao Porto porque viveu nesta cidade durante os meses do Cerco do Porto [entre Julho de 1832 e Agosto de 1833] e considerou ter havido entre ele e a população uma cumplicidade enorme.
A autenticidade do coração de D. Pedro IV nunca esteve em causa, mas foi longo e conturbado o percurso que levou o órgão doado ao Porto até ao monumento onde está desde 1837, na igreja da Lapa. Depois da morte de D. Pedro, em Setembro de 1834, a sua mulher, D. Amélia, fez encerrar o coração num escrínio (uma espécie de guarda-jóias) com duas tampas e entregou-o ao ajudante de campo do rei que viajou para o Porto num navio. O coração chegou ao Porto em Fevereiro de 1835, quase cinco meses após a morte do monarca, foi “em procissão da Ribeira para a Igreja da Lapa”.
O coração do Imperador chegou à igreja da Lapa numa urna de madeira de mogno, dentro da qual estava um estojo (o original foi a única peça substituída, mas mantêm-se na igreja) e, lá dentro, um vaso de prata dourada com duas tampas. “Uma era uma espécie de adorno e a outra, presa com parafusos, dava acesso ao coração, inserido em líquidos conservantes desde a primeira hora.
Agora, confirmado, o coração do primeiro Imperador do Brasil vai atravessar o Atlântico a tempo de uma cerimónia marcada para o início de Setembro, onde estará presente ampla representação portuguesa.
O grito do Ipiranga, momento fundador do Brasil patrocinado pelo rei português D. Pedro IV, que assim se tornou Pedro I do Brasil, ocorreu a 7 de Setembro de 1822.
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