O conjunto dos 293 portugueses que votaram na Austrália para a eleição presidencial portuguesa definiu um ordenamento das candidaturas que, no essencial, corresponde ao do resultado final.
O pódio coincide: Marcelo vence muito destacado, com Ana Gomes no segundo lugar e André Ventura no terceiro.
Marcelo Rebelo de Sousa, com 2 milhões e 533 mil votos, correspondentes a 60,7% dos votos contados, teve no domingo uma vitória muito expressiva em várias das frentes: venceu os receios de uma abstenção que, em tempo gravíssimo da pandemia, se temia que fosse tão alta que afetasse a legitimidade; venceu em todos os 308 concelhos do país, o que nunca tinha acontecido antes; teve a segunda maior percentagem de votos de um presidente reeleito em democracia, apenas superado por Mário Soares, que superou os 70% em 91. E tudo isto depois de assumir a “responsabilidade suprema” do combate à pandemia, quando esta se encontra no pior momento desde que começou, há dez meses.
Marcelo ampliou o número de votos que tinha recebido há 5 anos, efeito de simpatias transversais à esquerda. Estima-se que 2/3 do eleitorado do Partido Socialista votou em Marcelo e só 1/3 em Ana Gomes.
O candidato Ventura, com discurso de direita radical, obtém os 11% do conjunto de votos, sobretudo, a partir de zonas mais negligenciadas e pobres do país, voto mais rural do que urbano. Um comentário no diário Público: “as pessoas não são de extrema-direita, deram foi um grito contra o estado do sistema”.
Alguns analistas lembram que até 2015, a vaga populista-nacionalista não entrava na Península Ibérica. Depois, cresceu, com o Vox em Espanha e o Chega em Portugal.
Em Portugal, tal como em Espanha, a direita política esperou 40 anos, após 1974, para se apresentar sem complexos nem surdinas, com discurso grosso, agressivo, nada dado a subtilezas ou consensos.
Naqueles anos seguintes à revolução democrática, a direita portuguesa quis dizer-se de centro. Não estava na moda ser conservador. O CDS, partido mais à direita no pos-25 de Abril de 74 foi fundado por Diogo Freitas do Amaral (que liderou o partido até 1992) com o centro no nome e posicionamento como democrata-cristão.
Nos primeiros parlamentos da democracia portuguesa ninguém se assumia de direita.
Só nos anos 90 apareceram líderes (Manuel Monteiro, depois Paulo portas, no CDS) a assumirem-se de direita.
Nos últimos dois anos, coincidindo com o enfraquecimento do CDS/PP apareceu uma direita-extrema que nesta eleição presidencial reuniu 496 mil votos.
O reeleito, Marcelo Rebelo de Sousa, ultrapassou os 2,5 milhões.