O julho mais quente do século em Portugal; incêndios destroem 43 mil hectares de floresta

epaselect epa10072751 A firefighter fights the flames surrounding Ancede village during a wildfire in the municipality of Baiao, North of Portugal, 15 July 2022.  EPA/HUGO DELGADO

Um bombeiro combate as chamas que cercam a aldeia de Ancede no município de Baião, norte de Portugal Source: Hugo Delgado/LUSA

Não há memória de alguma vez ter havido em Portugal tantos dias seguidos com condições meteorológicas extremas. Foram 10 e anuncia-se nova vaga. Nestes 10 dias arderam em Portugal 43.721 hectares, mais 15 mil do que em todo o ano passado. Foram registados cerca de 1200 incêndios, que obrigaram a retirar de casa quase 900 pessoas e provocaram 95 feridos ligeiros e quatro graves, além da morte do piloto de um avião de combate que se despenhou sexta-feira.


Vários dos incêndios prolongaram-se por 4 dias.

A Comissão Europeia ativou o mecanismo de solidariedade europeia para combate ao fogo. Começaram por vir aviões espanhóis que se juntaram aos 40 em ação em Portugal. Mas Espanha também ficou a contas com um inferno de fogo e os aviões espanhóis retornaram. Vieram italianos, mas também tiveram de voltar para acudir ao que se passava em Itália. Acabaram por vir apoios belgas – mas as temperaturas perto dos 38º na Bélgica fazem pensar que também terão de regressar.

Seja como for, Portugal está mobilizado, com 4 mil bombeiros no terreno e 40 aviões no combate aéreo. Um grande avanço em relação a outros anos de grande fogo: a prevenção está a permitir evitar que haja vidas perdidas. Mas nos quase 44 mil hectares de floresta queimada também arderam dezenas casas, muitos abrigos para animais e meia dúzia de fábricas.

Segundo o professor Paulo Fernandes, do Departamento de Ciências Florestais da UTAD, o que tem falhado em Portugal nos últimos anos não é tanto o combate ao fogo (domínio em que houve grande progresso nos últimos anos), mas as técnicas para evitar reacendimentos

. “Não temos meios humanos e equipamentos exclusivamente dedicados a este trabalho de separar a área queimada da área não queimada, de forma a evitar reativações. É o nosso ponto fraco”, explica. "É muito frequente um incêndio ser considerado extinto e no dia seguinte reacender. E quando há reacendimentos, são sempre fogos muito maiores, que mobilizam muito mais meios."

Seja como for, é difícil evitar o fogo quando a temperatura do ar vai muito para cima dos 45º C.

O que a entidade responsável pelo controlo da meteorologia, o IPMA, Instituto Português do Mar e da Atmosfera agora revela é que, em Portugal continental, este tem sido o Julho mais quente de todo o século XXI. Num boletim meteorológico divulgado esta terça-feira, a instituição explica que, entre os dias 1 e 18 deste mês, os termómetros estiveram sempre a registar temperaturas invulgarmente elevadas, tanto nas horas de maior calor como naquelas que, pelo menos em teoria, deveriam ser mais frescas.

As temperaturas máximas em Portugal continental rondaram, em média, os 33,9 graus Celsius. O valor está 5,2 graus acima da média para o período do ano.

O dia 13 de Julho é, até ver, o mais quente de 2022, com todo o país acima dos 40º mas o dia em que foi registado “um novo extremo para o mês de Julho em Portugal continental” foi o dia 14. Nesse dia, a estação meteorológica de Pinhão — Santa Bárbara (Viseu), registou a temperatura de 47 graus Celsius. Nunca no país os termómetros haviam dado conta de um valor tão elevado em Julho. .

Agora, as temperaturas baixaram ligeiramente no início desta semana. Mas os termómetros vão subir novamente a partir desta quarta-feira. Não se espera, pelo menos para já, que o calor seja tão intenso como nos últimos dias, mas a temperatura continuará a estar acima dos valores médios.

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