A taxa de suicídio na Austrália subiu e os homens têm três vezes mais chances de cometerem suicídio do que as mulheres.
Em 2016, foram 2.100 suicídios cometidos por homens em comparação com 715 suicídios cometidos por mulheres.
Organizações que prestam auxílio às pessoas com problemas de saúde mental dizem que esse é um problema enorme e estão pedindo para que os homens procurem ajuda.
David Chong, psicólogo e director do CAPA, organização que presta apoio psicológico em língua portuguesa em Vitória, fala que são várias as causas que levam ao suicídio.
“Ao homem não é dado, desde a infância, um espaço para falar de seus sentimentos, ou pelo menos o espaço que é oferecido às mulheres. Eles sempre ouviram desde criança a frase ‘homem não chora’, essas mensagens são repressivas e fazem com que o homem se torne ainda mais introvertido.”
Segundo ele, no momento que um homem passa por dificuldades emocionais, eles tendem a se fechar e começam a se isolar. “O suicídio significa o último isolamento, quando o homem acredita que não há nenhuma conexão com nenhum outro ser humano,” explica David.
De acordo com ele, a comunidade imigrante por exemplo, sofre pressão extra, pois lida com muito estresse num espaço de isolamento cultural.
“O imigrante lida com uma cultura diferente, apóia a família à distância, trabaha ou estuda sob pressão, na comunidade imigrante a sensação de isolamento acontece e aumenta."
Rachel Bowles da Organização Lifeline diz que esses números exigem uma resposta.
“Isso é um problema e precisamos tratá-lo com a mesma seriedade que tratamos qualquer outro problema de saúde mental ou de risco para os homens," disse.
As agências de apoio às pessoas com problemas de saúde mental e depressão acreditam que uma relutância por parte de alguns homens em obter ajuda está por trás dessas estatísticas sombrias. Chris McIntyre é um dos psicólogos do Mates4Mates, uma organização criada pela RSL Queensland para oferecer apoio a ex-militares.
Ele diz que muitos homens ficam em silêncio quando precisam de ajuda.
"Ainda há uma necessidade de uma mudança cultural em torno de como os homens pedem ajuda e como eles falam sobre os problemas que eles estão tendo em suas vidas," disse.
Ben Farinazzo, um ex-oficial do exército, procurou ajuda depois de servir em Timor-Leste em 1999.
Ele levou 10 anos para lidar com o trauma emocional e psicológico do período militar em Timor. Ele inclusive foi diagnosticado com Transtorno de Estresse Pós-Traumático.
Sua mensagem aos homens é abandonar a tendência masculina tradicional de não pedir ajuda.
"Procure a ajuda que precisa. Faça agora. Aproveite agora para falar com seu médico, fale com seus companheiros e dê o primeiro passo."
Se este artigo causa angústia ou preocupação, você pode conversar com alguém, inclusive em português, telefonando diretamente para o Serviço de Tradução e Intérprete/TIS do governo australiano no 131 450, e em poucos minutos falar com alguém em português e explicar o seu caso.
O serviço é aberto e gratuito a todos, com qualquer tipo de visto na Austrália.
Pode ligar também para o Lifeline no 13 11 14 ou para Beyond Blue no 1300 224 636. Todos estes serviços são gratuitos e operam 24 horas por dia, 7 dias por semana.