Entrar com toda a papelada, formulários, documentação brasileira, tirar passaporte, passar horas preenchendo questionários e finalmente entrar com o pedido de visto para vir para a Austrália. Em 1986 o processo para aplicação do visto era moroso, feito por fax e muito mais complexo que o formulário eletrônico dos dias de hoje.
Resumo da notícia
- Brasileiro Marcos Barbosa começou a aplicar para vistos de estudante e turista em 1986.
- Em 1996 veio a Austrália por um mês, à trabalho, patrocinado pela empresa que trabalhava em São Paulo. Ele conta que a viagem apenas reforçou seus planos de vir definitivamente para o país.
- Seu primeiro visto de estudante foi aprovado no final de 2007. Sua décima tentativa.
Uma carta do Departamento de Imigração da Austrália informando ‘Seu Visto foi Negado’ pode desanimar qualquer um. Muitos tentam mais uma ou duas vezes, muitos desistem, mudam de planos, de país destino, não mudam de país.
O paulista Marco Vincius Barbosa teve o visto negado nove vezes, e nunca pensou em desistir de vir para a Austrália. Hoje, aos 55 anos, cidadão australiano, morando em Melbourne com a esposa, quatro filhos e dois netos ele nos diz que não se arrepende de nada e faria tudo outra vez.
Marcos hoje, aos 55 anos, cidadão australiano, morando em Melbourne com a esposa, quatro filhos e dois netos Source: Supplied
“Ficou esse sonho, ficou essa coisa marcada de querer conhecer a Austrália”
A ideia de imigrar, que não ia deixá-lo em paz por mais de duas décadas nasceu das visitas dos tios que viviam na Austrália, ao Brasil. “Meus tios moram em Wollongong há mais de 50 anos, eles vinham a São Paulo nos visitar e eu ficava fascinado com o idioma e como eles se comunicavam com os meus primos, os filhos deles, que falavam inglês.”
O primeiro pedido de visto, foi para entrar na Austrália como turista, foi feito em 1986, “Não tinha dinheiro para pagar as taxas para visto de estudante,” recorda.
Aquele primeiro visto para turista foi negado, como seriam os pedidos subsequentes tanto para visto de estudante, como de turista, outras oito vezes.
Eu fiquei bastante frustrado naquela primeira vez mas acho que teve algumas falhas no processo porque foi o meu primeiro e a gente não apresentou evidências que íamos voltar para o Brasil. Foi negado. Mas eu não desisti.
Naquela época era também necessário um carimbo no passaporte, e Marcos teve que tirar passaporte nove vezes já que o documento expirava após cada negativa.
“A cada aplicação eu tentava aprender com os erros da aplicação anterior, é muito importante aprender com o processo”
Entre uma aplicação e outra, Marcos conseguiu passar um mês na Austrália, enviado à trabalho, pela empresa Siemens Automotive. O ano era 1996. Dez anos depois da aplicação daquele primeiro visto de turista negado em 1986.
“A Siemens estava investindo em um tipo de maquinário que tinha aqui na Austrália e me mandaram para cá para avaliar, fiquei um mês. Fiquei mais fascinado ainda, comprovei que o país realmente era muito mais do que a gente imaginava.”
Marcos calcula que investiu cerca de AU$3500 em todas as aplicações de vistos para estudante e turista.
Conforme sua carreira foi decolando no Brasil sua situação financeira foi estabilizando, suas aplicações ficaram mais complexas e difíceis de serem rejeitadas.
“Em 2007 comecei todo o processo e já tinha uma condição financeira estável. Assumi um cargo mais importante na minha empresa, como Diretor Comercial do Setor de Peças da Siemens Automovive, e eu apliquei, tentei como estudante, e aprovaram.
“Entrei na Austrália em março de 2008 e fui morar em Wollongong na casa da minha tia por uma semana e depois alugamos a nossa casa.
“Esse visto de estudante aprovado foi o meu décimo, minha décima tentativa. Fui estudar na Universidade de Wollongong com 42 anos de idade, onde me formei, consegui meu MBA e diploma em Gerenciamento de Negócios.”
Mais tarde Marcos recebeu uma proposta para trabalhar na Siemens Australia, e asim mudou seu visto de estudante para visto de trabalho.
Dois anos depois veio a residência permanente e em 2013, a cidadania australiana.Foi maravilhoso conquistar a cidadania australia, isso é um feito, fico muito orgulhoso porque todo o processo eu fiz sozinho. Não tive ajuda de ninguém, nem de advogado.
A cidade de Melbourne, onde Marcos mora com a família, é considerada uma das melhores do mundo para se viver. Source: AAP Image/LUIS ASCUI
“Muita gente faz isso, aplicam para vistos de estudante e turista para vir aqui, ver como é o mercado de trabalho e depois imigrar.”
Marcos diz que apesar de ter feito tudo sozinho, indica o auxílio de agentes de imigração reconhecidos na Austrália. “É importante que a pessoa seja bem assessorada tenha bastante informação e resiliência. Acreditar em si mesmo e que realmente vale a pena sair de seu país e vir para cá. Não é fácil deixar a família no seu país de origem, deixar os amigos e começar uma vida nova,” diz.
Hoje Marcos vive em Melbourne com a família e tem um negócio próprio. Comos muitos imigrantes ele se ‘reinventou’ e hoje trabalha como handyman ou ‘faz-tudo’ de pequenos a grandes reparos e assistência às residências e prédios comerciais. No seu cartão de visitas a lista de serviços que o Marcos faz na Austrália: eletricista, encanador, e serviços de limpeza de calha, pintura, reboco.Se ele se arrepende dos anos debruçados em aplicações para vistos e trabalhando com o único objetivo de alcançar o sonho de mudar para a Austrália?
Marcos conseguiu a cidadania australiana em 2013 Source: AAP
“Não me arrependo de nada. Estou muito feliz, minha família inteira está aqui. Hoje já vou começar um processo de visto para o meu irmão. Vou aprender um pouco mais sobre isso tudo para não errar igual às minhas vezes. A persistência é aquela palavra sonho, sonho é persistência. Corra atrás. Seja persistente. Acredite em Deus. Aprenda bastante sobre o processo e que vai dar certo."