O novo aplicativo rastreador COVID-19 do governo 'COVIDSafe' foi baixado por mais de 4 milhões de australianos.
O aplicativo, que o governo quer que todos instalem o mais rápido possível, tem como objetivo ajudar as autoridades da saúde a identificarem quem entrou em contato com um caso confirmado de coronavírus.
O app faz isso usando a tecnologia Bluetooth e registra o momento em que dois usuários do aplicativo ficaram a uma distância de 1,5 metros um do outro por mais de 15 minutos.
Se cerca de 40% da população australiana baixar o aplicativo, especialistas em saúde dizem que ele terá um enorme impacto na luta para conter o coronavírus e podem acelarar o fim das medidas restritivas atualmente impostas pelo governo.
Mas ao mesmo tempo, especialistas em tecnologia e proteção à privacidade levantaram preocupações sobre os dados que o aplicativo vai coletar.
Nós conversamos com especialistas sobre o que funciona e o que não funciona no app, e se você deve instalá-lo.
Antes do lançamento do COVIDSafe, desenvolvedores de software pediram ao governo australiano que liberasse o código de origem (source code em inglês) do app, o que permitirá que especialistas independentes achem problemas, ofereçam soluções e confirmem se o aplicativo funciona mesmo como o governo disse que fuciona.
O governo ainda não divulgou o código de origem mas os desenvolvedores de software australianos começaram a fazer engenharia reversa do aplicativo, compartilhando suas descobertas nas mídias sociais.
O desenvolvedor de software Matthew Robbins baixou o app e desconstruiu o código de origem da versão Android do aplicativo.
Robbins trabalha com tecnologia há 10 anos e se especializou no desenvolvimento de aplicativos nos últimos oito anos.
Ele não é especialista em proteção à privacidade, mas sabe sobre desenvolvimento de aplicativos.
Segundo ele, o aplicativo funciona como esperado, armazenando dados com segurança no telefone do usuário, apenas registrando sinais de outros telefones que também possuem o aplicativo instalado, excluindo automaticamente todos os registros após 21 dias e apenas enviando dados às autoridades de saúde se o usuário der permissão.
O aplicativo não utiliza a localização do usuário (se você é um usuário do Android e ao instalar o aplicativo recebe uma mensagem solicitando acesso à sua localização, essa é uma peculiaridade infeliz do Android - quando você solicita o tipo de acesso bluetooth que um aplicativo como esse precisa, ele também automaticamente pede permissão para saber sua localização (mesmo assim o COVIDSafe não registra ou utiliza dados da sua localização)).
Robbins disse que ‘desconstruiu’ o aplicativo porque estava curioso, mas disse que ficou satisfeito com o que viu.
"Os dados que eles estão coletando são, por falta de uma frase melhor, relativamente benignos", disse ele. "Estou bastante confiante em como o aplicativo foi elaborado."
Robbins disse que achou pequenos erros mas os atribuiu à rapidez do governo de lançar o app.
Embora ele ainda queira que o governo libere o código de origem completo - inclusive para o aplicativo iOS, que é mais difícil de fazer engenharia reversa do que a versão Android - no geral, Robbins disse que não encontrou muitos motivos para preocupação.
"Acho que vale muito a pena baixar", disse ele.
Vários outros desenvolvedores de software também revisaram o código de origem e incentivaram os australianos a instalarem o aplicativo.
Alguns problemas foram identificados no aplicativo COVIDSafe até agora.
O aplicativo deve ficar sempre aberto para funcionar - você pode usar outros aplicativos no telefone, mas o COVIDSafe precisa permanecer aberto.
Alguns especialistas levantaram preocupações de que o COVIDSafe possa parar de funcionar em iPhones em algumas circunstâncias. Quando um iPhone entra no modo ‘Pouca Energia’, ou quando muitos aplicativos estão usando Bluetooth, é possível que o COVIDSafe páre de funcionar.
Até o momento, o governo ofereceu informações conflitantes sobre o que os usuários precisam fazer para verificar se o aplicativo está mesmo funcionando.
O site COVIDSafe do governo informa usuários do iOS que, se o aplicativo não estiver funcionando por pelo menos 24 horas, eles receberão uma notificação com instruções sobre como solucionar o problema.
Também é difícil dizer neste momento se o aplicativo usará muito da bateria do telefone; especialistas estão divididos.
Esses problemas não representam uma preocupação na segurança e proteção da privacidade mas podem afetar a eficácia do aplicativo.
Os especialistas em segurança e privacidade estão preocupados com o COVIDSafe?
Antes do lançamento do aplicativo, o conversou com o especialista em privacidade Professor Dali Kaafar, que é o Diretor Executivo do Centro de Segurança Cibernética da Universidade Optus Macquarie.
O professor Kaafar citou algumas preocupações com relação à proteção da privacidade de um aplicativo como o COVIDSafe.
Uma das principais preocupações levantadas por Kaafar e outros especialistas é o fato de que os dados coletados pelo aplicativo serão enviados para um servidor central.
De acordo com o professor Kaafar, quem tem acesso ao servidor central de um aplicativo como esse tem acesso a uma enorme quantidade de informações.
Se esse servidor for hackeado ou acessado por alguém que não tenha boas intenções, ele poderá fazer o que quiser com essa informação.
As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros e encontros estão limitados a duas pessoas, a não ser que esteja com a sua família ou em casa.
Se você acredita que pode ter contraído o vírus, ligue para o seu médico, não o visite, ou ligue para a Linha Direta Nacional do Coronavírus no número 1800 020 080.
Se você estiver com dificuldades para respirar ou sofrer uma emergência médica, ligue para 000.
A SBS traz as últimas informações sobre o coronavírus para as diversas comunidades na Austrália.