Deputado suspeito de roubar malas no aeroporto de Lisboa

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Deputado Miguel Arruda, do Chega, teria, por meses, roubado malas do tapete rolante do aeroporto de Lisboa. Credit: José Fonseca Fernandes

Miguel Arruda é um dos 50 deputados eleitos há um ano nas listas do Chega, o partido de extrema-direita portuguesa. Foi o número 1 na lista do Chega pelos Açores. Todas as semanas tem feito o vai e vem aéreo de quase duas horas entre a ilha de São Miguel, onde reside, e a sede do parlamento português, em São Bento, no centro de Lisboa. Ao chegar a Lisboa, na semana passada, terça-feira, tinha à espera vários agentes da polícia.


Intercetaram-no e acompanharam-no até ao apartamento dele na capital portuguesa, onde encontraram um caos de estranhas roupas, muitas de tamanho small que não é o dele, também objetos e malas. Ao mesmo tempo, outros agentes faziam buscas na casa da sua família, na ilha de São Miguel (Açores), onde trabalhou como técnico numa empresa de recolha de resíduos até entrar para o Parlamento.

Arruda não foi detido nem interrogado devido à sua imunidade parlamentar, mas foi constituído arguido no mesmo dia pelo Ministério Público, que o acusa de modo recorrente furtar malas do tapete rolante do Aeroporto da Portela, em Lisboa e no de Ponta Delgada, nos Açores.

A polícia tem gravações que o mostram em ação de recolha ilegítima de malas. São imagens do sistema de videovigilância do terminal. O modo de funcionamento era simples. No início da semana, Arruda viajava com uma mala grande e vazia desde a ilha dos Açores, onde viria a guardar algumas malas e mochilas mais pequenas que retiraria de uma dos tapetes do desembarque.

Interrogado por uma procuradora, confrontado pela policia com aquelas imagens, o deputado Arruda argumentou que pode estar perante um fake, as gravações que o incriminam podem ter sido geradas por inteligência artificial. Mas há testemunhos que provam ser reais.

O choque geral com o roubo da bagagem por um membro do parlamento levou alguns analistas a especular que poderia estar a lidar com uma perturbação mental. Uma cleptomania. Com o passar das horas, porém, novos e chocantes pormenores foram surgindo.

A plataforma de venda de roupa usada Vinted tinha uma conta operacional desde maio de 2024, dois meses após o início da legislatura em que Arruda se estreou como parlamentar, da qual foram vendidas mais de 180 peças a preços irrisórios: calças da Benetton por um euro, Camisas Hugo Boss por cinco, ténis por 1,5 euros. Algumas das fotos das roupas oferecidas foram tiradas em malas.

O caso revela-se um golpe sofrido pelo Chega desde que se estreou em março de 2024 como uma força poderosa na Assembleia da República com 50 deputados.. Para um partido que faz do combate à corrupção e ao crime uma das razões da sua existência, o caso Arruda é devastador.

Não é o único representante da extrema-direita envolvido em irregularidades (outros nove deputados do Chega estão implicados em casos diferentes), mas nenhuma delas animou tanto o panorama político como esta questão do roubo das (pelo menos, 19) malas.

O caso apanhou André Ventura, líder do partido, a fazer pequenos vídeos para as redes sociais nos quais demonstrava a sua felicidade em Washington, convidado para a tomada de posse de Donald Trump.

Ventura é rápido e astuto. De imediato exigiu a expulsão de Arruda do partido e do parlamento. A expulsão do partido foi logo no dia. A expulsão do parlamento não é possível porque foi posto lá pelo voto dos eleitores. E ele quer continuar, embora agora esteja de baixa psicológica por 2 semanas.

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