Três semanas depois do primeiro caso detetado em Portugal - um médico do Porto que tinha estado em férias numa estância de esqui em Itália - , desde esse 1 de março com o primeiro alerta, o Covid-19 cresceu em Portuga: há neste fim de semana a confirmação de 1280 infetados e 12 mortes.
Na procura de sinais bons, há a relativa contenção da propagação – é um facto que antes ainda da declaração do estado de emergência em Portugal e da ordem para fecho da maior parte dos comércios, a população já estava confinada dentro de casa, não há ninguém nas ruas – e, também, dado positivo, a relativamente baixa mortalidade: cerca de 1% de letalidade.
Entre os 12 mortos, a maioria é de homens com mais de 70 anos.
Uma das vitimas mortais foi António Vieira Monteiro, presidente do maior banco privado em Portugal, o Santander.
Vieira Monteiro era respeitado como banqueiro competente, arguto.
Esteve de férias com a família em Itália, voltou com o que parecia ser uma gripe, foi diagnosticado com pneumonia, era Covid-19, e morreu em poucas horas, no hospital, onde a família também está em isolamento.
A maior parte dos 1280 casos até agora em Portugal não é muito grave, tanto que a maior parte está a ser tratada em casa, embora em regime de absoluto isolamento.
Em hospitais estão 156 dos contaminados, sendo que 35 em cuidados intensivos.
Há porem cerca de 10 mil pessoas sob observação em Portugal.
A Ministra da Sauúde deu conta neste domingo de uma previsão de peritos: o pico desta crise deverá ser atingido em meados de Abril, sendo de prever até lá escalada do contágio e de baixas.
Repito, agora, 1280 casos e 12 mortes – sabe-se que já há mais mas ainda não constam no boletim oficial.
Os números portugueses são, proporcionalmente, muito melhores que os da vizinha Espanha (25 mil infetados, mais de 1300 mortes) e, sobretudo, de Itália (mais de 47 mil infetados, mais de 4 mil mortos).
Nestes países, Espanha e Itália, os hospitais estão em situação limite, as unidades de cuidados intensivos têm capacidade multiplicada e os médicos já estão confrontados com o terrível dilema de escolher quem tem prioridade para ser salvo – os doentes com mais esperança de vida têm prioridade.
Há a esperança de que o grande confinamento em curso em Portugal trave aqui as cadeias de contágio.
As cidades parecem fantasmas, ruas vazias tomadas pelos pássaros, ouve-se o gorjear deles, aqui e ali um gato ou um cão.
Já se antecipa que depois da calamidade coronavírus virá a crise económica, sendo que o governo está a mobilizar milhares de milhões de euros para evitar falências e desemprego e apoiar pessoas mais vulneráveis.
Grande parte da população funciona em teletrabalho, tanto em empresas públicas como privadas e os estudantes também com tele ensino.
A população está unida, cumpridora e mobilizada contra o coronavírus.
Neste fim de semana foi celebrado o Dia Mundial da Poesia – 21 de março – e Manuel Alegre, poeta e político, foi um histórico combatente anti-fascista e foi presidente do parlamento português.
Manuel Alegre escreveu neste dia um poeta que, de facto, é um fiel retrato do presente em Lisboa.
É assim:
Lisboa não tem beijos nem abraços
não tem risos nem esplanadas
não tem passos
nem raparigas e rapazes de mãos dadas
tem praças cheias de ninguém
ainda tem sol mas não tem
nem gaivota de Amália nem canoa
sem restaurantes, sem bares, nem cinemas
ainda é fado ainda é poemas
fechada dentro de si mesma ainda é Lisboa
cidade aberta
ainda é Lisboa de Pessoa alegre e triste
e em cada rua deserta
ainda resiste
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A primeira morte do coronavírus em Portugal