Escrever poesia para dar vazão aos sentimentos sempre foi uma constante na vida da brasileira Daiane Silva Moret, que conta a sua história nesta entrevista à Rádio SBS em Português.
Com formação teatral e em psicologia, a arte faz parte de sua vida e é através dela que os diferentes mundos de Brasil e Austrália se conectam.
E sua arte está lhe gerando frutos: Daiane compete em slams, um tipo de poesia falada, e é finalista de Sydney do Australian Week da Australian Poetry Slam.
Ela também se apresenta na noite de abertura do Festival Internacional de Jazz de Mulheres de Sydney, no dia 30 de outubro (ingressos já esgotados).
“Sempre escrevi poesia desde nova, aquela coisa de escrever poesia para dar vazão a sentimentos. Eu tinha sido mãe aqui na Austrália em tempo integral, estava com muitos sentimentos, precisava processar muita coisa.
Foi quando, na internet, eu achei uma competição do Australian Poetry Slam. Escrevi um poema em 10 minutos e fui competir.
Não passei naquela fase, mas comecei a competir.
A porta de entrada são os microfones abertos, que você vai, 'performa' e compete contra outros poetas.”No começo, Daiane Moret só escrevia em inglês. Mas a língua materna eventualmente falou mais forte, e ambas convivem em sua arte.
Source: Brendan Bonsack/Supplied
“Quando comecei, só escrevia em inglês. Poemas bem direcionados para slam mesmo, que têm uma característica de impacto, são poemas fortes, políticos.
Agora que havia voltado para o Brasil, há oito meses, já estava querendo começar a escrever em português, para elaborar meu processo criativo.
Agora estou em um momento que consigo transitar muito mais facilmente quando é escrita.
Mas não tem comparação, é muito mais fácil em fazer na sua língua materna.”
A disparidade social entre a vida do brasileiro médio e o seu correspondente australiano causa forte impacto a quem chega do Brasil para viver do outro lado do mundo.
“Eu escrevi muita coisa pessoalmente recentemente, infância, trauma intergeracional.
E escrevi algumas coisas em relação à disparidade entre pessoas no Brasil, as que podem se isolar numa casa de verão, e as outras que precisam entrar num ônibus para trabalhar.”
A disparidade social faz o slam importante também no Brasil, com características próprias.
“O slam é grande no Brasil e tem uma característica de ser um levante, um grito de guerra.
Uma potência muito grande dos grupos marginalizados, e o fato de ser na rua é incrível. Não tem aqui (na Austrália).
As pessoas batalham na rua, num local aberto”.
Daiane Moret é finalista de Sydney do Australian Week da Australian Poetry Slam.
Ela compete com outros poetas que também passaram por divisões de bairros - no caso dela, por Randwick.
Em 2019, ela conta que chegou até a final estadual.
"Se passar, chego na final de Nova Gales do Sul, e daí para a final nacional na Opera House.
Este ano, por conta da pandemia, excepcionalmente a final será online."