Uma pesquisa conduzida por cientistas brasileiros no Brasil e na Austrália aponta uma relação entre duas coisas que fazem muito sucesso em Down Under: o café e o ciclismo.
Sim, se você é daqueles que saboreiam doses de café durante o dia e também andam buscando maneiras de melhorar o rendimento naquela corridinha de manhã, essa notícia também é para você.
Os pesquisadores Bruno Ferreira Viana, Gabriel Trajano, Carlos Ugrinowitsch e Flavio Oliveira Pires publicaram em agosto os resultados de um estudo que aponta a atuação da cafeína no sistema nervoso como vetor de melhora no desempenho de quem pedala.Conversamos com Gabriel Trajano, um dos pesquisadores, da Universidade de Tecnologia de Queensland, em Brisbane.
O pesquisador brasileiro Gabriel Trajano, da universidade de Queensland. Source: Supplied
Ele conta que o estudo foi organizado de forma que os ciclistas receberam alternadamente enormes doses de café e placebo.
“No estudo da cafeína a gente usou um grupo de ciclistas treinados e esse mesmo grupo um dia ia ao laboratório e recebia cápsulas de cafeína equivalentes a cinco copos de café. E em outro dia recebiam cápsulas que não tinham cafeína, mas eles achavam que tinha. O que a gente encontrou é que no dia que eles recebiam cafeína de verdade, a performance de ciclismo deles em 4 quilômetros no menor tempo possível melhorou, e junto com a melhora a gente encontrou um aumento da entropia da tarefa. é um pouco complicado de explicar (a entropia), mas basicamente é o quão irregular e variável a tarefa é. A gente acha que esse aumento da variabilidade da tarefa está associada a melhor performance, quando você tem mais soluções para um mesmo problema você consegue cumprir a tarefa de maneira melhor. E a gente acha também que isso está associado não a uma melhora fisiológica no músculo, mas no sistema nervoso. Talvez no sistema nervoso central, talvez nos nervos que mandam mensagens do cérebro até os músculos. Então a gente acha que é uma adaptação nervosa, neural, em vez de uma adaptação que ocorre nos músculos. A gente precisa fazer mais pesquisas ainda pra tentar entender isso melhor.”
A principal teoria para a evolução do desempenho dos ciclistas é que a cafeína atua não nos músculos, mas nos neurotransmissores.
“Existem alguns neurotransmissores, que são moléculas que ajudam a ligar mensagens do sistema nervoso central, que são muito importantes para o sistema motor, o sistema que trabalha com nossos músculos, que conecta nosso cérebro aos nossos músculos. Dois deles são fundamentais, a serotonina e a noradrenalina. E a cafeína interage com eles de maneira que a gente não entende muito a fundo, mas possivelmente a cafeína pode aumentar a concentração desses neurotransmissores. E a gente acha, sabe quando aumenta a concentração desses neurotransmissores, seus neurônios motores, os nervos que conectam o cérebro aos músculos, tendem a funcionar melhor. A gente acha que um dos mecanismos que talvez possa explicar o efeito da cafeína na performance pode ser a alteração na concentração desses neurotransmissores, serotonina e noradrenalina. Tem muita coisa pra gente pesquisar ainda pra entender isso melhor.”
O resultado da pesquisa da cafeína no desempenho físico pode ter resultados mais abrangentes a longo prazo. Segundo Gabriel Trajano, entender a atuação do estimulante pode até gerar resultados a quem sofre de patologias relacionadas a restrições motoras.
A longo prazo, a pesquisa pode ajudar até pessoas com severas restrições motoras, melhorar função motora de indivíduos com restrição, talvez idosos com restrições de movimento
“No longo prazo, a gente tem informação, há bastante informação que a cafeína é um recurso ergogênico eficiente, ou seja, é uma substância que ajuda a melhorar a performance. Então se você está interessado em melhorar sua performance em atividade física, é bem provável que a cafeína consiga te trazer benefícios, a realizar melhor a performance. Talvez também ajudar pessoas com limitação em termos de performance, ou seja, em ambos os lados do espectro, atletas e ajuda pessoas que não têm motivação para treinar a treinar melhor. Ou talvez até pessoas com severas restrições motoras, que têm dificuldades em realizar algumas tarefas, é possível que no futuro com um pouco mais de pesquisa nós podemos usar a cafeína como recurso ergogênico para melhorar função motora de indivíduos com restrição motora, talvez idosos com restrições de movimento, talvez algumas patologias. No curto prazo, a gente sabe que para atletas pode ser bem benéfica, no longo prazo a gente está tentando entender como isso funciona melhor para a gente aplicar em populações com patologia.”
Natural de Niteroi, no Rio de Janeiro, Gabriel Trajano percorreu um longo caminho até chegar a posição de conferencista-sênior na faculdade de Saúde da Universidade de Queensland. Trajano é formado em Educação Física na Universidade Federal do Rio. Depois de fazer o mestrado no Brasil, concluiu seu doutorado na Universidade Edith Cowan, em Perth.
Aos estudantes que sonham em fazer um doutorado na Austrália, ele recomenda um mestrado, excelente nível de inglês e um perfil correto de orientador.
“Primeiro, para fazer doutorado, é importante que tenha seu mestrado completo, te dá uma baita vantagem. Se quiser ter uma bolsa de doutorado, é fundamental que tenha um mestrado e algum tipo de publicação acadêmica, te bota bem na frente dos outros, se você tiver publicação em congresso e revista internacional. É fundamental ter um nível de inglês. Tem que ter um nível de inglês muito bom para as provas de nível de proficiência. E mais importante é correr atrás, procurar orientadores que se adequem ao seu projeto de pesquisa, e quanto mais próximo orientadores que são próximos das coisas que você quer fazer, às vezes é muito difícil, as pessoas não sabem o que querem fazer e vão procurar orientadores que não têm muita a ver com os temas. O ideal é encontrar alguém com certa afinidade com o projeto de pesquisa. Também procurar saber da universidade, da cidade, se é um lugar que você vai se adaptar bem. De maneira geral, é isso, e entrar em contato com orientador, correr atrás. Não é fácil, eu diria que pra se conseguir um sim, primeiro tem que conseguir muitos nãos. Então é correr atrás e tentar conversar com o máximo de pessoas possível, ter a possibilidade de fazer em vários lugares diferentes para fazer uma escolha boa.”
Ou seja, para chegar la, o estudante precisa de foco, persistência e, claro, provavelmente muito café.
As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros. Confira as restrições em seu estado .
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