Brasileiros na Austrália se reinventam ‘para sobreviver’ durante pandemia

Brazilian students Paloma and Marcus

Paloma Gadelha e Marcus Costa Source: Supplied

Quase um milhão de estudantes internacionais e trabalhadores casuais com vistos temporários são inelegíveis para a ajuda do governo. Um setor da indústria, em particular, está provando ser a salvação de muitos estudantes.


Paloma Gadelha foi até recentemente a Embaixadora para Estudantes Estrangeiros da cidade de Brisbane. O trabalho era voluntário, mas oferecia boas oportunidades para ampliar sua rede de contatos e conseguir mais trabalho. Ela também trabalhou como freelancer em várias agências de publicidade e marketing.

Mas após o surto de coronavírus, Paloma perdeu todos os seus empregos e foi forçada a procurar outro trabalho para se manter.

“Agora trabalho como faxineira quatro horas por dia, de segunda a sexta-feira. O trabalho é feito por contrato e não tenho direito a nenhum benefício, como aposentadoria, férias pagas etc. Eu não tenho um emprego fixo. Se eu não trabalho, não recebo. Estou bem esta semana, mas não sei a próxima ”, diz ela.


Resumo da Notícia

• O governo federal resistiu aos pedidos para expandir o programa JobKeeper e incluir estudantes internacionais e trabalhadores casuais nos pacotes de estímulo à economia.

• Muitos estudantes internacionais que perderam o emprego ou tiveram suas horas de trabalho reduzidas estão encontrando trabalho como faxineiros e podem pagar suas contas

• O setor de limpeza depende muito de estudantes internacionais e trabalhadores estrangeiros, responsáveis ​​por quase metade da força de trabalho do setor de limpeza na Austrália


Embora o governo federal tenha permitido que estudantes internacionais trabalhem mais horas em determinadas áreas, como saúde e abastecimento de alimentos, a medida beneficia apenas àqueles já empregados nesses setores.

"Estou procurando empregos em supermercados, mandei currículo, mas ainda não recebi nenhuma resposta. Também estou procurando emprego na área de entrega de comida a domicílio,” diz Paloma.
"Eu ajudaria mais se estivesse trabalhando em um hospital do que limpando maçanetas, mas não posso reclamar"

Marcus Costa, de Melbourne, trabalhou como enfermeiro no Hospital Fiocruz de Doenças Infecciosas e Contagiosas do Rio de Janeiro. Ele se mudou do Rio para Melbourne em 2018 e está fazendo um curso Diploma em Administração e Negócios.

Marcus atuava como freelancer nas áreas de hotelaria/restaurantes e entretenimento antes da pandemia do coronavírus fazer com que ele perdesse todos os seus trabalhos. 

"Eu ia trabalhar na Fórmula 1, mas a corrida foi cancelada e, de repente, todos os meus trabalhos casuais foram embora por causa dessa terrível pandemia," disse à SBS em Português.

Quando surgiu a oportunidade de trabalhar de faxineiro no galpão de uma grande empresa farmacêutica, ele não teve dúvidas e aceitou na hora.

“Meu trabalho é limpar todas as superfícies, todas as maçanetas e corrimões. Eu tenho dois turnos, um de manhã e outro à tarde. Tenho que esperar três horas entre os turnos, fico no meu carro esperando, mas não posso reclamar ", diz ele.

“Como sou um profissional de saúde - e estou me candidatando a todos esses empregos no setor de saúde - eu ajudaria mais se estivesse trabalhando em um hospital do que limpando maçanetas, mas estou feliz pois pelo menos tenho um emprego," diz ele.

Marcus não pode trabalhar como profissional de saúde na Austrália até ter seu diploma e qualificações no Brasil reconhecidos na Austrália.
Marcus Costa
Marcus Costa diz que se sente "agradecido" e com sorte por ter pelo menos um emprego Source: Supplied
O governo federal anunciou na semana passada que permitiria que estudantes internacionais pudessem usar sua ‘supearnnuation’ se estivessem na Austrália há mais de um ano. Outros que não estão em condições de se sustentar foram aconselhados a voltarem para casa.

Segundo Sergio Moreira Lima, embaixador do Brasil em Canberra, mais de 700 estudantes brasileiros entraram em contato com a Embaixada solicitando apoio para retornar ao Brasil.
Raquel Ravaggi Ruiz está entre os estudantes que querem ir para casa. Ela faz parte de um grupo do WhatsApp com 200 estudantes que desejam retornar ao Brasil. A maioria têm as passagens de avião na mão. Mas não podem voltar, pois não há voos disponíveis.

"A única companhia aérea que voa para o Brasil está cobrando tarifas exorbitantes", diz ela. "Eu estou vivendo um dia de cada vez. Se eu continuar pensando no futuro, cairei em desespero,” diz ela.

O setor de limpeza da Austrália depende muito dos estudantes internacionais e trabalhadores imigrantes, que respondem por quase metade da força de trabalho total do setor, de acordo com o censo de 2016 do Bureau de Estatísticas Australiano (ABS).

Para o carioca Marcus Costa, o importante é que ainda tem um trabalho e está conseguindo se manter. "Enquanto o coronavírus continuar eu eu estarei trabalhando, limpando essas maçanetas ou pelo menos até que outras oportunidades se tornem disponíveis," diz ele.

Ouça a entrevista completa com Marcus Costa e Paloma Gadelha clicando o botão play na imagem que abre essa reportagem.

As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros e encontros estão limitados a duas pessoas, a não ser que esteja com a sua família ou em casa.

Se você acredita que pode ter contraído o vírus, ligue para o seu médico, não o visite, ou ligue para a Linha Direta Nacional do Coronavírus no número 1800 020 080.

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