Páscoa de 2020: a que ninguém nunca vai esquecer

Lisbon Covid 19

Source: Sandra Moutinho

A Páscoa portuguesa tem a tradição de almoço em família alargada com casais, pais, filhos, irmãos, cunhados e netos. Na ementa do almoço, amêndoas, cabrito no forno e doces, muito leite creme e aletria, também ovo da Páscoa para os mais pequenos - o menu até pode resistir, mas o encontro da família fica adiado para depois do Covid.


Neste domingo de Páscoa, sem poder ter o encontro tradicional familiar, os portugueses pelo menos sabem que, com o absoluto confinamento total, conseguiram ter em 6 semanas metade dos óbitos de um dia em França, Itália ou na mártir Nova Iorque.


Toda a gente em casa – é a ordem estrita.

Em casa - significa o universo íntimo, os que vivem sempre sob o mesmo teto, contempla a tradicional reunião de família - este é o programa para esta Páscoa de 2020, que ninguém alguma vez imaginou, que ninguém alguma vez na vida vai esquecer.

Os avós, se vivem noutra casa, são grupo de risco e não podem juntar-se com os filhos e os netos.

É duro, é muito duro, mas é o efeito desta pandemia.

O distanciamento social, na forma de isolamento, há quem esteja a chamar-lhe prisão em casa, é o preço para que seja possível Portugal ter no total de 6 semanas um número de óbitos que equivale a menos do que Espanha tem num dia e, igualmente num dia, o equivalente a menos de metade do total de mortes em cada dia em Itália, França ou na mártir cidade de Nova Iorque.

Portugal está a ser um caso de estudo porque decidiu o confinamento antes ainda do primeiro caso mortal, e a ordem para todos ficarem em casa está a ser seguida por todos.

Se alguém tenta alguma escapadela, logo a polícia intervem.

Não há um carro na habitualmente muito congestionada marginal Lisboa-Cascais.

Não há uma pessoa na habitualmente concorridíssima praça do Terreiro do Paço, a principal em Lisboa.

Costuma haver milhares de pessoas entre o histórico Mosteiro dos Jerónimos e os deliciosos pastéis de nata de Belém. Agora, nem uma pessoa.

Aliás, tudo está fechado. Se alguém viola o confinamento, logo aparece a polícia a ordenar a detenção.

É o preço duro de um baixo balanço do Covid em Portugal.

Portugal regista até este fim de semana da Páscoa um total de 15.987 casos confirmados de Covid-19 – um aumento de 3,3%, no sábado, face ao dia anterior – e um total de 470 mortes, mais 35 do que na sexta-feira. 

Existem ainda 266 doentes recuperados.  Mas em Espanha, só no dia de ontem, o melhor das últimas 3 semanas, foram 530 mortos.

Espanha está com um total de 16 mil mortos, mas os EUA estão nos 19 mil, tal como Itália, França roça os 10 mil, tal como o Reino Unido.

A severidade do ficar em casa, com todo o custo económico e psicológico que esse confinamento representa, está a valer salvar vidas. É a explicação para o baixo número de baixas.

Na próxima semana voltam as aulas, mas em formato de ensino à distância, via internet e televisão.

Já se fala que a população com mais de 70 anos vai ter de ficar confinada em casa por vários meses.

É a forma de defender vidas, valor principal, muito mais que o económico, princípio assumido por todos os principais partidos políticos em Portugal.

Custe o que custar, financeira e psicologicamente, o vital é proteger vidas.

Há pouco, ouvi um testemunho: a tia Célia era o agregador de uma família com 19 pessoas e quatro gerações.

A tia Célia teve de morrer sozinha após 10 dias de agonia, com médicos e enfermeiros a darem tudo por tudo, mas sozinha em relação à família para não contaminar outros.

E o corpo vai para cremar, em solidão, porque o Covid assim impõe.

As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros e encontros estão limitados a duas pessoas, a não ser que esteja com a sua família ou em casa.

Se você acredita que pode ter contraído o vírus, ligue para o seu médico, não o visite, ou ligue para a Linha Direta Nacional do Coronavírus no número 1800 020 080.

Se você estiver com dificuldades para respirar ou sofrer uma emergência médica, ligue para 000.

A SBS traz as últimas informações sobre o coronavírus em 63 línguas para as diversas comunidades na Austrália.

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