As lições do concerto para plantas em Barcelona e do torneio de ténis de Djokovic

O quarteto que tocou para mais de 2 mil plantas em Barcelona.

O quarteto que tocou para mais de 2 mil plantas em Barcelona. Source: AAP

Os dois eventos, um mágico e outro trágico, nos lembram que ainda não é tempo para grandes lotações.


Está cada vez mais forte o dilema que tem por um lado a grande vontade de reabrir salas e retomar espetáculos. Por outro, a instabilidade no combate à pandemia, que assusta.

Será que há risco sério de uma nova vaga de ataque do vírus? É facto que agora já não apanhará o sistema de saúde e político desprevenido. Já não faltam os ventiladores, as camas de cuidados intensivos, tudo reforçado, também há abundância de máscaras, luvas e outros equipamentos de proteção individual.

Mas o vírus continua por aí.

Portugal continua com um problema à volta de Lisboa, onde continuam os contágios, embora em pessoas que estão sem sintomas.


Há 450 pessoas hospitalizadas, das quais 67 em cuidados intensivos. Quase todas com mais de 80 anos.

É tranquilizador que não haja pressão sobre os hospitais, a preocupação é sobre as consequências dos contágios que progridem em pessoas entre os 20 e os 40 anos. Há notícia de mais de 300 casos por dia. Essas pessoas são colocadas em isolamento por pelo menos 14 dias e até terem teste negativo. Não estão a ter sintomas mas teme-se que contagiem outras pessoas que tenham fragilidades e por isso risco de desenvolver a doença em modo grave.

É por isso que 19 das 118 freguesias da região de Lisboa continuam em estado de alerta, com controlos permanentes da manutenção da distancia social.

É por isso que os jogos de futebol estão a decorrer em Portugal, como na maioria dos países europeus, sem público nas bancadas.

É por isso que os bares continuam há 3 meses e meio de portas fechadas.

É por isso que a maioria dos espetáculos continua sem público ao vivo, e assim está para continuar, até tendo em conta a experiencia que a seguir vamos ouvir do torneio de ténis de Djokovic nos Balcãs.

Primeiro, esta inspiração que nos chega da Catalunha.
É insólita e ao mesmo tempo espantosa a imagem de toda a sala dessa jóia para espetáculos de concertos e de ópera que é o Grande Teatro de ópera Liceo, na Rambla de Barcelona. Espetáculo nesta semana que passou, no palco, o quarteto de cordas catalão UceLi, para interpretar uma curta peça (apenas 6 minutos e 44) com alta intensidade emocional que Giacomo Puccini escreveu em 1890, em homenagem, espécie de requiém, ao amigo Amadeo de Sabóia, duque de Aosta, morto prematuramente aos 44 anos.

A Peça musical tem o título "I Crisantemi", "Os Crisântemos", flores dedicadas à celebração do luto e do heroísmo. A escolha não poderia ser mais adequada neste tempo sofrido da pandemia: o luto pelos tantos que partiram, o heroísmo do pessoal de saúde que tanto continua a lutar para salvar tantas vidas.

Todos os 2292 lugares da sala, tanto na plateia, como nos 5 andares de camarotes, estavam ocupados. Mas lotação esgotada por... plantas!

Isso mesmo, plateia e camarotes vegetais. Plantas variadas, algumas com porte até maior que a altura de uma pessoa. Uma planta à frente de cada assento.

Não houve tosses, mas no final do concerto uma gravação fez ecoar o abanar as folhas, como se fosse um aplauso – o som da natureza convertido em comovente aplauso, neste concerto de dor e de homenagem.

Assim a música regressou, em harmonia com a natureza, ao grande teatro do Liceo, após 3 meses de silêncio imposto pleo vírus.

O regresso fez-se com um bosque na plateia e nos camarotes como que a lembrar que ainda não é tempo para as pessoas voltarem sem as devidas cautelas de proteção comum, mas o teatro já voltou a recebe vida.

O que aconteceu neste grande teatro de Barcelona contrasta com o que aconteceu nos courts de ténis e nas bancadas do torneio Adria Tour, promovido plo nº1 mundial do ténis, Novak Djokovic: torneio em 4 etapas, em Zadar, na Croácia, Belgrado na Sérvia, Banja Luka e Sarajevo na Bósnia.
A ideia tinha duas boas intenções: a receita era dedicada a organizações de apoio social e o objetivo também de pôr esperanças do ténis sérvio em contacto com tenistas da alta roda mundial.

Djokovic não terá premeditado que estava a promover o que não podia ser feito. Porque há a pandemia.

Ele que, enquanto miúdo teve de refugiar na cave da casa da tia para escapar à guerra dos Balcãs, ele que é um obsessivo no controlo das funções do corpo e da mente – cultiva o mindfulness – ele, Djokovic, não levou a sério o vírus.

O circuito internacional de ténis normalmente termina com o US Open em Flushing Meadow. Este ano, este torneio de Nova Iorque marca o regresso do ténis de topo após 6 meses de paragem pelo vírus.

Djokovic tinha discordado do protocolo estricto imposto pela organização: todos os jogadores num mesmo amplo hotel reservado, número limitado de acompanhantes, testes em contínuo – espetáculo mas sempre sem público, no começo de setembro.

Djokovic não gostou de ver o circo do ténis parado, montou este circuito do Adrático e convidou muitos dos amigos. As bancadas encheram-se com adeptos, houve abraços e festas.

O torneio não chegou a completar a segunda das 4 etapas. Um a um, jogadores Dimitrov, Coric, ele próprio, Djokovic – também treinadores e outros acompanhantes, foram dando positivo, contagiados pelo vírus.

Djokovic queria marcar pontos. Sai contaminado, com essa derrota.

Espera-se que convencido de que os gestos barreira, a distancia social, a máscara, tudo é indispensável. A irresponsabilidade tem efeitos graves para a saúde, a própria e a dos outros.

Falta acrescentar que as 2292 plantas que encheram todos os lugares no poético concerto no Liceu de Barcelona, no final, cada uma, num vaso com etiqueta assinada pelos músicos e pela diretora artística do Teatro – foram entregues e distribuídas pelo pessoal de saúde do hospital Clinic de Barcelona, lugar central para tratamento dos contagiados na Catalunha.

Uma planta tocada pela música para cada pessoa dos cuidados de saúde do hospital Clinic de Barcelona.

As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros. Confira os limites no seu estado ou território para o número máximo de pessoas em encontros e reuniões.


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