Acordo de Segurança Social entre a Austrália e Portugal: porque é que os reformados portugueses não aderem?

Idosos reformados portugueses parecem não ter interesse no acordo bilateral entre Portugal e a Austrália de Segurança Social

Idosos reformados portugueses parecem não ter interesse no acordo bilateral entre Portugal e a Austrália de Segurança Social, assinado desde 1991. Source: Getty Images/Dean Mitchell

A SBS em Português esteve à conversa com o Sr. Cônsul-Geral de Portugal em Sydney, António Corrêa de Aguiar e o Sr. António Sampaio, ex-Diretor do antigo jornal “A Comunidade”, acerca de um assunto que já data de 1991, mas que ainda hoje parece não interessar aos reformados da comunidade portuguesa na Austrália: o acordo de Segurança Social entre a Austrália e Portugal. Enquanto António Corrêa de Aguiar acredita que este acordo é muito significativo e que poderia facilitar a vida a muitos idosos portugueses; António Sampaio é da opinião de que “se há pouquíssimos reformados a optarem por usufruir do acordo é porque não sentem necessidade de o fazer”.


O foi assinado em 1991 tendo sido, entretanto, atualizado em 2002.

O acordo visa, sobretudo, permitir submeter um requerimento de pagamento da reforma a partir de ambos os países – Portugal e Austrália. Além disso, o acordo oferece a possibilidade de se adicionarem os períodos de residência na Austrália aos períodos de cobertura da segurança social em Portugal, possibilitando o pagamento de uma reforma cumulativa.

Quem vive na Austrália, em Portugal ou noutro país ao abrigo deste acordo, pode assim requerer a pensão por Velhice, Apoio a Deficientes, Pagamento a Prestadores de Cuidados, o Subsídio de Parentalidade, o Subsídio por Morte e a Pensão de Orfandade Absoluta num desses países.

O acordo pretende ainda facilitar e tornar mais rápidos os processos de pedido de pensão e o pagamento da mesma.

Nesta entrevista com o Sr. Cônsul-Geral em Sydney, António Corrêa de Aguiar, e o Sr. António Sampaio, ex-Diretor do antigo jornal “A Comunidade” e uma das pessoas mais envolvidas nos trabalhos deste acordo nos anos 90, o foco foi, principalmente, a questão da Pensão por Velhice.

E se o acordo parece, pelo menos em teoria, ser útil e ter potencial transformativo na vida de muitos dos nossos idosos, a verdade é que António Corrêa de Aguiar constata o seguinte:
Há muito poucos requerentes deste acordo na Austrália.
Por seu turno, António Sampaio diz não conhecer "nenhum reformado que tenha requerido o acordo”.

Mais: Sampaio é ele mesmo reformado e também optou por não receber a sua pensão ao abrigo do acordo.

Para o cônsul-geral nada disto faz muito sentido já que este acordo está desenhado para facilitar a vida das pessoas:
Permite diminuir a burocracia do pedido da pensão, e torna o processo muito mais ágil, rápido e fácil para todos os idosos portugueses residentes nos países ao abrigo do acordo, entre eles a Austrália.
Acredita António Corrêa de Aguiar que a relutância dos portugueses mais idosos residentes na Austrália tem que ver com o seguinte:

"Eventualmente, as pessoas têm dificuldade em usar a Internet, talvez por serem mais velhas, ou por não se terem modernizado por alguma razão".
Também pode ter a ver com um certo conservadorismo que impede estes idosos de avançarem e, pelo contrário, preferirem solicitar a ajuda de um advogado em Portugal para que lhes trate do assunto.
Acrescenta o cônsul, que não atribuiu este desinteresse à total falta de informação, já que existem portais online que ajudam os requerentes.
Os nossos reformados podem contar com a informação, o apoio e a facilidade de processo que o consulado e as repartições de assuntos da Segurança Social na Austrália oferecem, poupando-lhes tempo e trabalho.
António Corrêa de Aguiar vai ainda mais longe e diz o seguinte:

“Talvez se os mais jovens (filhos, netos...) procurarem explicar e ajudar em termos práticos, estes idosos possam perceber a utilidade do acordo”.

Por seu turno, António Sampaio tem uma teoria muito diferente.

Para o ex-jornalista que conhece muito bem o acordo desde a sua essência, os emigrantes portugueses não recorrem a este acordo porque “simplesmente, não sentem essa necessidade". 

Sampaio refere ainda o seguinte:
No início dos trabalhos do acordo, o governo português falhou na comunicação e esclarecimento do processo, o que terá levado a que muitos portugueses tenham ganho receios e desconfianças, muitas delas infundadas, mas que prevaleceram.
Tal como António Sampaio - já na Austrália há mais de 30 anos e reformado há alguns anos, “muitos portugueses, com dupla cidadania, preferem receber a pensão australiana por completo sem acumularem a reforma portuguesa”.

Aliás, António Sampaio, embora aceite que este acordo possa ser efetivamente útil para alguns reformados em condições muito específicas, é da opinião que muito mais relevante do que este acordo de Segurança Social acabou por ser algo mais recente, mas que, no seu entender, mudou a vida de muita gente para melhor:
A passagem do pagamento das pensões aos emigrantes portugueses via transferência bancária foi um ´deserto ultrapassado´ de anos, em que o dinheiro chegava por cheque, o qual muitas vezes ficava pelo caminho, extraviado, provocando situações financeiras muito complicadas a muitas famílias.
Recorda Sampaio.
Ambos os entrevistados estão de acordo, no entanto, que nos últimos anos os esforços do governo português no sentido de facilitar o requerimento e o pagamento das pensões aos seus emigrantes na Austrália têm evoluído e sido muito positivos e de louvar.

A SBS em Português juntou estas duas ´vozes´, perspectivas, nuances, experiências deste acordo bilateral entre a Austrália e Portugal e diferenças de opinião num só áudio, o qual poderá ouvir na íntegra, clicando no botão PLAY sobre a imagem que abre este artigo.

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