A análise de um psicólogo: "Os filhos nunca deveriam morrer antes dos pais"

casal triste

Source: Moodboard

Na última semana surgiu em Portugal uma petição ao parlamento para que o luto de pais por morte de um filho passe de 5 para pelo menos 20 dias. Em apenas 12 horas a petição teve mais de 35 mil assinaturas


Um psicólogo que já perdeu um filho (neste caso, num acidente com uma motorizada) diz-nos que o maior sofrimento psicológico em casos de morte é o dos pais perante a morte de um filho. Ele diz mesmo, com os olhos humedecidos: um filho nunca deveria morrer antes dos pais.  

Os pais que perdem um filho ficam severamente fragilizados, emocionalmente destruídos e impossibilitados de assumir capazmente, num curto espaço de tempo, a normalidade da vida, incluindo os seus deveres laborais.

Acontece que a lei portuguesa define que em caso de morte de um filho o período de luto oficial dos pais é de apenas cinco dias.

Ora, os peritos avaliam que esses cinco dias correspondem praticamente ao período necessário para o tratamento de formalidades ligadas à morte de um ser humano, não restando sequer um indispensável período de pausa para o exercício efetivo do devastador luto parental.

Os casos sucedem-se. É facto que estão a baixar muito os casos de morte por cancro infantil. Mas continuam a acontecer. Implicam tremendo sofrimento para os pais, como todos os familiares, durante o período de evolução da doença e, perante a morte é um cruel caos interior para os pais. Por mais carinho que lhes seja dado, ficam confrontados com um abismo. Em quase todos os casos fica muito difícil voltar ao trabalho nos tempos imediatos. Há empregadores que compreendem a necessidade de tolerância, mas cada vez mais há engrenagens laborais muito rígidas, onde os controlos informáticos não toleram faltas para lá do previsto no quadro legal.

São conhecidos casos de abertura de processos disciplinares com intenção de despedimento. Nalguns casos, o atestado de baixa passado por um médico evita consequências mais sérias, mas há quem fique em tal drama que nem consegue tratar esses passos.

Na última semana surgiu em Portugal uma petição ao parlamento para que o luto de pais por morte de um filho passe de 5 para pelo menos 20 dias. Em apenas 12 horas a petição teve mais de 35 mil assinaturas.

Os partidos políticos estão, genericamente, a mostrar-se favoráveis.

O luto parental em Portugal vai certamente passar de 5 para, pelo menos, 20 dias.

Mas em fundo está a questão principal: os filhos não deveriam morrer antes dos pais.


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