Viveu a infância e a juventude no exílio, em Portugal (a Vila Giralda, no Estoril), porque em Espanha Franco tinha todo o poder e mandou a Casa Real para fora do país.
Agora, aos 82 anos, arrisca-se a que lhe seja recomendado pelo filho ir para fora.
João Carlos de Bourbon é o rei que foi impulsionador de consensos e de reconciliação das várias Espanhas e, assim, pilar principal para levantar a Espanha democrática.
Foi decisivo naquela noite de 23 de fevereiro de 81, quando soberano fardado com o uniforme de comandante supremo das Forças Armadas se impôs, através das televisões e rádios, para travar e ordenar o imediato regresso a quartéis dos militares que naquela tarde tinham usado as armas para assaltar o parlamento que estava reunido em plenário.
A maior parte dos deputados encolheu-se sob o tampo das mesas, enquanto o golpista Tejero ameaçava disparar.
Naquele 23 de fevereiro de 81, o rei Juan Carlos de Bourbon impôs-se perante o mundo como o símbolo da nova Espanha democrática e moderna.
Mesmo quem republicano se opunha ao regime monárquico, caso do líder comunista Santiago Carrilho, declarou apoio a Juan Carlos como chefe de estado.
Ele, Carrillho, juntamente com Suarez e Gutierrez Mellado, foram os únicos três deputados que, na tarde do assalto ao parlamento, se mantiveram sempre erguidos apesar de com pistolas apontadas ao peito.
Naquele tempo, há 39 anos, o rei, que tinha vivido em Portugal no tempo em que Franco impôs ao pai o exílio, sobressaiu como a figura chave da transição de Espanha da ditadura franquista para democracia moderna.
Rei constitucional, neutral influente embaixador económico e financeiro de Espanha.
A monarquia ficou tão legitimada que (começou aí o erro) ninguém ousou questionar o que quer que fosse na prática da coroa.
O trono tornou-se intocável, apenas exposto à adesão generalizada e à simpatia pelos gestos e fotos com a família.
Mas esse rei, da simpatia geral está hoje com o lado de vida que tinha opaco nas mãos da justiça e o afeto do país, deu lugar ao repúdio.
O respeito pelo passado dele leva a que a censura fique muito sussurrada num lamento que também tem vergonha coletiva.
A fratura da anca num safari, no Botswana, em 2012, marcou a inversão na perceção pública da imagem do rei.
Primeiro, pelo gosto duvidoso de uma caçada secreta em África e isto num tempo (2012) em que os espanhóis se confrontavam com a austeridade da grave crise económica.
Acresce que colada à notícia – que caiu mal – da caçada, veio a revelação de que estava no safari com uma amiga íntima, a alemã Corina Larssen, a quem muita imprensa espanhola não hesitou ao classificá-la como "a amante do rei".
Entrou aqui um dado novo que começou a quebrar a ligação dos espanhóis a Juan Carlos, afinal, aquele rei não era a referencia exemplar, afinal, a família real não era o modelo que parecia, afinal, o casamento com a estimadíssima rainha Sofia na prática, já não existia.
E quebrou-se a relação entre a Espanha e Juan Carlos, mas o pior, o que tem suspeita de carácter criminal ainda estava para vir.
A revelação de que Juan Carlos, ainda rei em plenitude, tinha contas secretas na Suíça, para onde eram encaminhadas comissões chorudas atribuídas ao rei, por negócios que Juan Carlos patrocinava e amparava.
Há um historiador britânico, Paul Preston, que dedicou as últimas 4 décadas ao estudo de Espanha, publicou um livro imenso (775 páginas) sobre os últimos 140 anos da história do país.
O título encaminha-nos para o que é relatado "um pueblo traicionado" (um povo traído).
A história termina com o fim do reinado de Juan Carlos, com quem Preston conviveu.
O livro traz-nos uma espécie de genealogia da corrupção em Espanha.
Aponta a corrupção oitica e a venalidade instaladas, mal de sempre, e também muita incompetência política que não ajudou a resolver a brecha territorial.
Preston revela que a tentação para Juan Carlos começou nos Jogos Olímpicos de 92, em Barcelona. Foi ali que a monarquia saudita lhe ofereceu umas oportunidades financeiras.
Juan Carlos tinha uma vida paralela, com muitas saias pelo meio, e não soube dizer não.
É assim que o rei que levantou a Espanha democratica é agora o pior inimigo da monarquia espanhola.
O historiador Paul Preston vê a alemã Corinna como a sinistra Lady Macbeth que deu cabo do romance entre a Espanha e Juan Carlos.
Hoje, a monarquia castelhana, liderada por Felipe VI, faz tudo para afastar a sombra do rei emérito.
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