Morte de estudante brasileira choca comunidade na Austrália

Adriana Midori

Fernanda Batista sobre a amiga Adriana Midori: “Ela era uma pessoa muito sorridente que ajudava os outros sempre que podia." Source: Facebook

A morte por Covid-19 da estudante brasileira Adriana Midori Takara coincidiu com uma grande manifestação contra o confinamento em Sydney, onde milhares de pessoas se reuniram no centro da cidade protestando e pedindo por 'liberdade'. O evento chocou muitos brasileiros que vivem na Austrália. "Enquanto ela lutava por sua vida, essas pessoas 'protestavam' pelas ruas," disseram.


Adriana Midori Takara, 38 anos, estava terminando o bacharelado de contabilidade na Kaplan Business School em Sydney quando foi infectada pela variante Delta da COVID-19. Entre a infecção e o óbito foram apenas duas semanas.

Ela não tinha doenças pré-existentes nem comorbidades, teve seu estado de saúde deteriorado muito rapidamente depois de contrair o vírus. Pouco depois de testar positivo para a Covid, ela foi internada no Royal Alfred Hospital, onde veio a falecer duas semanas depois.

“É muito triste e desconfortável ter que enterrar pessoas jovens. Eu não me sinto prepara para isso,” diz Marlene Coimbra, Diretora Executiva da Superstudent Headquarters em Sydney, que conhecia bem Adriana.

“Ela era sorridente, trabalhava duro e era uma estudante muito dedicada,” recorda, emocionada.
Adriana Midori
Arte postada por brasileiros no Facebook em homenagem a Adriana Midori Takara, 38 anos, vítima fatal da COVID-19 em Sydney no domingo, 25 de julho de 2021. Source: Facebook/Gui Souza
“Eu cuidei de toda a documentação no processo do visto dela de estudante internacional, pois ela chegou no país como turista e depois decidiu ficar,” relata Marlene, que oferece assistência a estudantes brasileiros na Austrália há mais de 24 anos.

A morte de Adriana aconteceu um dia após um grande protesto anti-lockdown ter sido realizado em Sydney, que reuniu milhares de pessoas sem máscara no centro da cidade. 

Raiva no protesto contra o confinamento

A trágica coincidência, de ver pessoas gritando nas ruas do centro da cidade criticando o lockdown enquanto a estudante brasileira de 38 anos lutava pela vida na UTI do hospital, revoltou Marlene Coimbra.

“É muito revoltante. Enquanto milhares de manifestantes passavam em frente ao hospital gritando ‘liberdade’, Adriana estava morrendo no leito de UTI,” disse.

Marlene acha que muito mais pode ser feito para que a vacinação alcance mais estudantes internacionais na Austrália.

“As universidades poderiam montar postos de vacinação dentro da estrutura de cada campus,” sugere Marlene que, assim como aconteceu com vários outros brasileiros na Austrália, perdeu amigos e familiares para a Covid no Brasil. "Perdi 12 amigos em um período de duas semanas, uma tragédia," conta.

“Ela não teve tempo de tomar a vacina”

“Ela não teve tempo de tomar a vacina,” diz Marilena Ribeiro, uma amiga próxima de Adriana, no Brasil, onde o vírus já matou mais de 548 mil pessoas.

“É muito triste que o mundo esteja passando por essa pandemia. Aqui no Brasil tem sido muito pior. A tristeza está por toda parte,” fala Marilena, e completa: “Eu sempre achei que a Austrália fosse como a Nova Zelândia. Eu estava estudando com a Adriana, ia inclusive fazer faculdade na Austrália com ela, mas decidi voltar para o Brasil. Na minha opinião a única saída é a vacina. Aqui está uma bagunça. Eu consegui tomar a primeira dose, mas perdi tantas pessoas que não tiveram a mesma chance que eu.”

A comunidade de brasileiros na Austrália expressou sua indignação e fez homenagens a Adriana e sua família.

“Enquanto havia pessoas nas ruas ontem protestando, uma brasileira estava lutando pela vida em um hospital aqui em Sydney. Hoje ela perdeu a batalha contra a Covid. Meus sentimentos à família. Fiquem em casa e se vacinem!”, Mônica Plaza publicou no Facebook.

“Uma de nós”

A repercussão da morte por COVID-19 de uma brasileira na Austrália foi muito grande nas redes sociais.

“Para aqueles que assistiram à coletiva de imprensa da governadora de NSW hoje, ela mencionou a morte de uma mulher na faixa dos 30 anos. Essa pessoa infelizmente era uma de nós. Adriana Midori, espero que Deus esteja com sua família nesse momento. Enquanto isso, uma multidão estava no protesto anti-lockdown e ficou ostentando isso online. Esse tipo de gente não merece estar em um país como a Austrália,” publicou Vanessa da Silva.

Nos grupos de Facebook de brasileiros na Austrália, houve uma enxurrada de mensagens emocionadas em homenagem a Adriana.

“Muito sentida com a morte dela. Enquanto isso, pessoas egoístas protestando nas ruas. É nojento.”, diz uma das mensagens.

“Que triste, não tenho palavras. Desejamos muito amor e muita força à família dela neste momento,” diz outra mensagem.
Protesters march along Broadway and George St towards Sydney Town Hall during the ‘World Wide Rally For Freedom’ anti-lockdown rally at Hyde Park in Sydney, Saturday, July 24, 2021. (AAP Image/Mick Tsikas) NO ARCHIVING
Manifestantes sem máscaras em protesto contra o confinamento, no centro de Sydney, no sábado, 24 de julho. Source: AAP
Apoio à família

Um porta-voz da Embaixada do Brasil em Canberra disse à SBS Portuguese que a Embaixada e o Consulado do Brasil, em Sydney entraram em contato com a família no Brasil e aguardam relatório das autoridades australianas. 

“Vamos ajudar em todos os procedimentos necessários, transferência do corpo, se a família quiser ser assim, contato com o provedor do plano de saúde na Austrália, tudo o que estiver no nosso alcance. No momento, estamos aguardando também o relatório da Polícia Federal,” disse o porta-voz da Embaixada do Brasil em Camberra.

“Temos uma equipe trabalhando e apta a atender a família em tudo que ela precisa. Também estamos aguardando e seguiremos as instruções das autoridades locais e de saúde,” disse o Consulado em Sydney.

Em coletiva de imprensa neste domingo, a governadora Gladys Berejiklian disse que "se alguém pensa que (a covid) é uma doença que afeta apenas pessoas mais velhas, por favor, pense novamente."

Ela expressou suas condolências e disse sentir muito pela dor terrível que as famílias das duas mulheres - raras vítimas fatais da COVID-19 na Austrália em 2021 - devem estar sentindo.
Eu quero estender minhas condolências às famílias e amigos que perderam seus entes queridos que estão em luto hoje, mas veja que jovens sem problemas de saúde pré-existentes podem ser vítimas desse vírus cruel,' disse a governadora de NSW
Adriana, que tinha 38 anos, foi a pessoa mais jovem a morrer por Covid-19 em New South Wales, durante a pandemia, e a oitava morte ligada ao surto atual.
A governadora Gladys Berejiklian também agradeceu às 102 mil pessoas que se apresentaram para fazer o teste da Covid-19 hoje. Mas criticou as milhares de pessoas que protestaram contra o bloqueio em Sydney ontem.

“Em relação aos protestos de sábado, isso partiu meu coração. Milhões e milhões de pessoas em nosso estado estão fazendo a coisa certa, e partiu meu coração ver que as pessoas têm tanto desprezo para seus concidadãos. Só peço a todos que pensem nisso. Cada uma dessas pessoas que protestaram ilegalmente, tenho certeza que tem entes queridos. Eles vão voltar para casa e correr o risco de transmitir o vírus às pessoas mais próximas.”
Covid deaths by age group
Mortes por Covid na Austrália, segundo dados do Australian Government Department of Health (24 Julho) Source: Australian Government Department of Health
confirmed cases
SOURCE: HEALTH DEPARTMENTS - FEDERAL, NSW, VIC, QLD, SA, WA, TAS, ACT, NT Source: SOURCE: HEALTH DEPARTMENTS - FEDERAL, NSW, VIC, QLD, SA, WA, TAS, ACT, NT
cumulative cases
Source: SOURCE: HEALTH DEPARTMENTS - FEDERAL, NSW, VIC, QLD, SA, WA, TAS, ACT, NT
**Matéria sendo atualizada conforme mais informações são disponibilizadas.


Share