Este Domingo, 12 de Maio, é o dia em que centenas de milhar de peregrinos católicos, crentes no culto de Maria, se juntam no santuário de Fátima, levados pela fé e pela evocação do que é relatado como as aparições da Virgem em 1917: a primeira, a 13 de Maio, depois, todos os dias 13 desse ano, até Outubro.
Fátima tem vários mistérios, e um deles é o da fé: há dezenas de milhar de peregrinos que passaram todos estes últimos dias a caminhar para Fátima.
Muita gente a pé, em caminhadas de 30 a 50 quilómetros por dia.
Gente de todas as gerações e das mais diferentes condições sociais.
Muitos milhares de pessoas fizeram caminhadas com mais de 300 quilómetros para chegar a Fátima.
Muita gente organiza-se em grupos, com apoio de voluntários.
Há quem esteja pela estrada, nos caminhos de Fátima, com fruta e outros alimentos, também água, para oferecer aos peregrinos.
Muitas casas abrem portas para oferecer alojamento.
Equipas médicas, de enfermagem e de fisioterapia acompanham os grupos de peregrinos e há outras em postos fixos para apoio.
O que leva a maioria destas pessoas é a fé.
Muitos vão para pagar uma promessa – prometeram ir ao Santuário de Fátima se uma pessoa querida atacada por doença grave conseguisse cura.
Há quem entre na peregrinação porque gosta da caminhada solidária.
Há uma pergunta essencial, em volta de Fátima: como é que surgiu este fenómeno Fátima, 120 quilómetros para norte de Lisboa e, sobretudo, como é que, em Maio de 1917, três crianças numa charneca iniciaram um dos maiores movimentos de massas da história de Portugal, de que resultaria, nas décadas seguintes, um dos maiores santuários europeus, uma nova cidade, e um culto que já trouxe a Portugal vários papas?
Os “fenómenos” de Fátima ocorreram de 13 de Maio a 13 de Outubro de 1917, tendo por protagonistas três crianças: os irmãos Francisco Marto, de 9 anos e Jacinta Marto, de 7 anos, e a prima deles, Lúcia dos Santos, de 10 anos, que foi a relatora das aparições.
Relatam que uma senhora vinda do céu lhes apareceu no topo de uma oliveira e que falou com eles.
Hoje, passados 102 anos, é generalizada a noção de que, de facto, nenhuma Nossa Senhora apareceu, em sentido técnico, na Cova da Iria.
Tratou-se de uma visão e não de uma aparição, uma “experiência religiosa interior” dos videntes. Como explica o padre Anselmo Borges:
“É preciso distinguir aparições de visões. Uma aparição é algo objetivo. Uma experiência religiosa interior é outra realidade, é uma visão, o que não significa necessariamente um delírio, mas é subjetivo.”
Há que ter em conta o lugar e a época destes acontecimentos.
O lugar: a Cova da Iria, uma povoação isolada e pobre perdida no meio de cerros no conjunto da serra de Aire, a dois quilómetros de Fátima, sede da freguesia, a 12 km de Vila Nova de Ourém, sede do concelho, e a 60 km de Santarém (capital do distrito).
A época: 1917, a Europa em mais um ano de terrível guerra, com faltas generalizadas de alimentos e de combustíveis, e em Portugal mais um ano de confronto entre um governo republicano laicista e o clero católico.
Como sintetizou o Cardeal Secretário de Estado do Vaticano, Ângelo Sodano, na celebração eucarística da beatificação de Jacinta e Francisco Marto, na Cova da Iria, a 13 de maio de 2000, presidida por São João Paulo II, “a visão de Fátima refere-se sobretudo à luta dos sistemas ateus contra a Igreja e os cristãos e descreve o sofrimento das testemunhas da fé do último século do segundo milénio. É uma Via Sacra sem fim.”
É com estes mistérios que Fátima reuniu no 13 de Maio de há 2 anos, mais de um milhão de pessoas, com a presença do papa Francisco, em anos anteriores estiveram em Fátima os papas Bento XVI, João Paulo II e Paulo VI.
Este ano, a poucas horas do começo das celebrações, já estão em Fátima algumas centenas de milhar de pessoas.
Para além dos peregrinos que chegam com o percurso feito a pé, alguns em longa distância, há muita gente que chega em automóvel, autocarro ou comboio, muitos depois de uma viagem de avião.
Há gente de dezenas de países: Espanha, França, Itália, Polónia, Brasil, Estados Unidos e Colômbia são as maiores delegações de peregrinos estrangeiros.