Os portugueses votam este domingo em cenário de grande incerteza

António Costa

Vantagem dos socialistas do primeiro-ministro António Costa Source: EPA

Não há memória de eleições em Portugal com tanta incerteza no dia do voto como as deste domingo. Escolhe-se o conjunto dos 230 deputados do qual vai resultar o próximo governo e o respetivo primeiro-ministro. Portugal tem à volta de 10 milhões de cidadãos no país E mais uns 5 a 6 milhões pelo mundo mas o conjunto de cidadãos em idade eleitoral ronda os 11 milhões.


O número de votantes costuma rondar os 5 milhões, o que significa participação entre os 45 e os 50% - é um problema da democracia em Portugal, a baixa participação eleitoral. Desta vez há um problema suplementar em Portugal: um milhão e 100 mil pessoas em confinamento, grande parte pais de crianças que testaram positivo ao COVID-19. A maior parte destas crianças tem sintomas muito ligeiros, mas para conter a propagação que tem estado com cerca de 50 mil novos casos de contágio por dia, tanto as crianças como quem coabita com elas, fica obrigado a confinamento. Foi introduzida uma exceção ao confinamento obrigatório para que todos possam votar – e há uma hora recomendada, ao fim do dia, das 6 às 7, para votar.

Mas antevê-se que muita gente não queira arriscar e ir aos locais de voto.Fica assim aberta uma possibilidade de distorção do resultado eleitoral, em relação ao que os estudos de opinião anteciparam.

Todos estes estudos ou sondagens apontam confirmação do Partido Socialista, liderado por António Costa, como primeiro partido, embora com menos votos e com o PSD como partido líder da oposição a ficar mais perto. Aos socialistas é atribuída uma vantagem de 3 a 5 pontos percentuais; 35 a 37% para o PS, 32 a 34% para o PSD. Mas esta vantagem do PS sobre o PSD no quadro atual não será estatisticamente significativa.

Também incerteza sobre maiorias possíveis.Há a certeza de bipolarização, entre o PS na esquerda eno centro-esquerda e o PSD na direita e no centro-direita. Estes dois partidos vão certamente reunir mais de 70% dos votos.

Esta é uma eleição que representa muito um medir de forças entre esquerdas e direitas. Portugal tem mostrado maioria de esquerdas. Os dois lados parecem agora mais equilibrados. Há para saber se a esquerda continua maioritária ou se é destronada pela direita.

Tudo vai passar também pelos partidos nos lugares seguintes.Quatro partidos disputam o 3º lugar, todos estes 4 em igualdade percentual nas previsões: 6%. São eles, à esquerda, o Bloco e o PCP; à direita, a Iniciativa Liberal e o Chega, este de extrema-direita. Este Chega apontou para 10 a 15%, mas as sondagens mostram recuo do apoio às ideias radicais. O recente partido Iniciativa Liberal apareceu com campanha inovadora, cresceu muito nas últimas semanas. À esquerda, BE e PCP, que ao retirarem apoio ao governo do PS precipitaram estas eleições antecipadas, tendem a ser penalizados. O Bloco pode perder mais de metade dos atuais 19 deputados. O PCP também esteve dado em queda, mas o fator emocional, a cirurgia vascular a que foi obrigado, em plena campanha, o veterano líder Jerónimo de Sousa, pode estancar alguma da quebra. Outro dado a considerar: um partido histórico, o CDS-PP, o partido que foi de Freitas do Amaral e de Paulo Portas deve, segundo as sondagens, ficar reduzido a expressão residual, um ou dois deputados, talvez nem isso. O voto CDS estará em deslocação para a Iniciativa Liberal ou para o PSD. É de prever mais 1 ou 2 deputados, tanto para o partido Livre, de esquerda, como o PAN, centrista. Vai certamente ser preciso esperar pelos últimos votos apurados, já na madrugada, para se saber como vai ficar o Portugal político.

Há tendência para maioria reduzida da esquerda, mas não é de excluir uma maioria à direita, mas com uma questão: para haver maioria de direita esta terá de incluir a extrema-direita Chega. Ora os outros partidos à direita recusam entender-se com um partido extremista como é o Chega.

Muitas incertezas, portanto, em volta destas eleições portuguesas deste domingo com tendência para mais equilíbrio entre esquerda e direita e vantagem reduzida dos socialistas do primeiro-ministro António Costa.

 


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